A sabatina de Rodrigo Janot, nesta quarta-feira (26), no Senado Federal, pode ser a prova de que em um governo republicano a soma de fraquezas dos homens pode resultar na força das instituições. Soa paradoxal, mas não é. Pelo contrário, desde as origens do governo representativo foi essa ideia que norteou a construção de um sistema de freios e contrapesos.
Ao estabelecer o modelo de separação dos poderes conhecido como freios e contrapesos, os constituintes norte-americanos de 1787 partiam da premissa de que os políticos possuem interesses, os quais muitas vezes não coincidem com os do eleitor, como bem sabem os cidadãos brasileiros do século XXI. Porém, um governo, para ser chamado de “republicano”, precisa de instituições que canalizem os interesses muitas vezes mesquinhos de certos agentes públicos em prol do bem comum. É esta a razão de ser do nome do sistema, pois a ambição ou a falta de virtude de um poder seria freada pela ambição do outro. É evidente, contudo, que isto não é feito sem rusgas ou conflitos.
O conflito instalado entre a Procuradoria da Republica e políticos – alguns deles investigados ou acusados pelo Ministério Público Federal – pode ser uma ótima oportunidade para a nação assistir um debate qualificado na sabatina. É evidente que nem todos os senadores serão movidos pelos motivos mais republicanos nas interrogações que serão feitas a Janot. Todavia, o próprio presidente do Senado, que é investigado pela Procuradoria, assegurou que não vai deixar que a casa se amesquinhe durante a arguição. Político experiente, Calheiros sabe que uma sabatina rigorosa engrandece o Senado, pois poderá contribuir para o debate público sobre a melhor forma de combater a corrupção. Para o Ministério Público Federal, será uma oportunidade de fortalecer o caráter republicano da instituição e de enfrentar alguns de seus críticos frente a frente.
Por fim, nada assegura que a sabatina será leve. Tudo indica o contrário. Mas, da pobreza das motivações ou dos temperamentos poderá surgir algo melhor, graças aos olhares atentos da sociedade brasileira pressionando os seus agentes para que busquem resultados bons para todos. Como se viu recentemente em outra sabatina no Senado, quem sai fortalecido são as instituições, e, ao final, o povo brasileiro.