Cinco séculos
Há várias obras literárias cujo pontapé inicial é algum ano importante para a história política do país. Veja algumas datas que não dá para esquecer:
>> 1565: A data é lembrada no livro de Pedro Doria, da Ediouro. O autor conta a chegada dos colonizadores no início da formação do país.
>> 1789: Do mesmo autor, obra leva como título a data da Inconfidência Mineira. A história e a força do pensamento revolucionário do Iluminismo são tratadas no livro.
>> 1808: O ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil é o ponto de partida de Laurentino Gomes, que fala sobre a influência que este fato teve sobre a construção do país.
>> 1822: Catorze anos após a chegada da família real veio o grito dado às margens do Ipiranga: havia sido declarada a independência e nascia ali o motivo para outra obra de Laurentino Gomes.
>> 1889: A Proclamação da República também é retratada em livro de Laurentino Gomes, que explica o contexto em que aconteceu a decisão.
>> 1930: Helio Silva conta sobre o que chama de "revolução traída". Tratando do ano em que Getúlio Vargas subiu ao poder, o autor relata o cenário político da época.
>> 1954: O mesmo autor escreveu outros 15 livros sobre o Ciclo Vargas, inclusive sobre a controversa morte do ex-presidente.
>> 1964: A tomada do poder pelos militares foi o tema de diversos autores, que fazem tanto o retrato histórico quanto análises do acontecimento. Em março deste ano, os 50 anos do golpe também foram lembrados em novas obras e reedições.
>> 2013: Os protestos de junho, que foram realizados em várias cidades, são objeto de análise em livros. Mesmo que recente, o acontecimento já integra o rol de obras que tratam da história política.
As editoras e os leitores brasileiros parecem estar cada vez mais interessados na história política do Brasil. O mercado editorial sempre teve espaço para livros que contam a formação política do país mas, há cerca de dois anos, vê-se que surgiu toda uma nova safra de obras do gênero, que tem aumentado suas vendas. Títulos que remetem a anos marcantes para a história ganham os mostruários das livrarias e permanecem por tempo inusitado nas listas de mais vendidos.
O fim de um mandato presidencial, a proximidade das eleições e as datas "comemorativas" como os 50 anos do golpe militar, em março deste ano costumam ser os principais propulsores deste tipo de livro. O que parece ter funcionado como um fator extra para o crescimento no interesse, porém, é a forma como os fatos passaram a ser apresentados. Nos últimos 15 anos, muitos autores de outras áreas escreveram sobre a história e sobre os eventos políticos com um texto agradável para o público leigo.
"Vemos que muitas dessas obras recentes trazem essas informações sobre história e política em linguagem mais acessível. Eles são elaborados com base em uma preocupação com o leitor que não tem formação acadêmica mas que se interessa pela área", comenta Wilson Maske, professor de história contemporânea da PUCPR. Assim, livros que tratam da história e da política do Brasil desde o descobrimento conquistam os leitores: obras de autores como Eduardo Bueno, Laurentino Gomes, Zuenir Ventura e Pedro Doria estão em destaque nas prateleiras.
Viagem do Descobrimento, Saga dos Primeiros Colonizadores, 1565, 1789, 1808, 1822, 1889, 1930, 1964, 1968 e até as obras sobre as manifestações de junho de 2013 ajudam a entender a formação do país e os meandros da política. "Todas essas obras fazem análise do contexto, e é interessante colocar isso a disposição do leitor comum. Esse movimento de acesso aos livros que tratam de história é bastante favorável para a formação desse leitor. Quem está mais instruído sobre a formação da política brasileira tem chances de ser um cidadão melhor", comenta Maske.
"Caiu no gosto"
Contar a história de uma forma lúdica parece ser um bom jeito de chamar a atenção do público. "Sempre houve interesse por obras históricas e políticas, mas nos últimos anos vemos que elas são apresentadas sem o ranço da academia. Os novos autores tiraram da história aquela camada que a separava do grande público", comenta Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM.
Desde A Grande Viagem do Descobrimento, de Eduardo Bueno, os autores passaram a se interessar mais por contar fatos pitorescos. "Escrever sobre fatos engraçados e informações dos bastidores tornou a leitura mais agradável. Os livros exploram o lado cômico dos personagens", comenta Marcos Pedri, diretor comercial das Livrarias Curitiba.
Ele comemora o sucesso dos livros que tratam da história política, não só pelo volume de vendas. "Vamos aos lançamentos desses livros e vemos um público diversificado. Desde os mais velhos até os mais jovens", comenta.
Datas
"Aniversários" de revoluções e eventos dão origem a debates
Grandes manifestações políticas ficam gravadas na história e costumam virar temas de obras literárias. O mercado editorial já oferece livros que tratam sobre as manifestações de junho de 2013, por exemplo. Em março deste ano, pipocaram nas livrarias novos volumes e reedições de obras mais antigas que tratam do golpe militar de 1964.
"Nessas datas cheias, é normal que a discussão volte à tona. Isso é importante, nos leva a fazer uma reflexão do nosso passado. Com essa reflexão, podemos fazer um julgamento melhor do presente. Mais do que um ano relevante ou uma data, essas obras lembram o momento histórico e político e nos faz pensar sobre estes temas", diz Wilson Maske, professor de história da PUCPR.
Fases
Há um interesse renovado por essas obras, mas na década de 1930 os romances históricos de Paulo Setubal também eram sucesso de vendas. Nas décadas de 1960 e 1970, o historiador Helio Silva publicou mais de dez títulos contando a história moderna brasileira.
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