
Brasília - No país que cultua o ditado de que o vice é o primeiro dos últimos, algo raro ocorre na pré-campanha eleitoral de 2010 no Paraná e no Brasil. A formação das chapas para o Poder Executivo tem revelado um cuidado especial com a escolha do segundo nome nas chapas. A disputa coloca em jogo o prestígio de grandes partidos e de políticos experientes.
Embora negligenciado, o cargo de vice-presidente é um trampolim histórico. Desde a proclamação da República, em 1889, o Brasil teve 24 vices. Desses, nove chegaram à Presidência três foram eleitos no mandato seguinte ao que foram vices, quatro pela morte do titular, dois por renúncia e um por processo de impeachment (veja mais informações no quadro ao lado).
"O vice está ganhando uma importância maior durante a eleição do que no próprio governo", diz a cientista política Luciana Veiga, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ela, todos estão buscando nomes que complementem o principal candidato. "É um conceito que sempre existiu, mas que está mais forte neste ano pelas debilidades dos candidatos escolhidos por governo e oposição", avalia o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (SP).
Conflito
A aliança governista encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), negociou em outubro de 2009 (nove meses antes das convenções partidárias) que o vice será indicado pelo PMDB. O acordo deu início a uma série de conflitos. Enquanto o presidente Lula chegou a falar sobre a elaboração de uma lista tríplice de peemedebistas, o presidente da legenda e da Câmara dos Deputados, Michel Temer, trabalha pela própria indicação.
Por fora, ele concorre com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A decisão gerou um desgaste interno no partido, especialmente entre aqueles que defendem candidatura própria do PMDB. O líder do movimento contrário à união com o PT é o governador Roberto Requião, que se lançou pré-candidato em dezembro.
Do lado da oposição, a polêmica gira em torno de uma chapa pura com nomes do PSDB. Apesar de o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, já ter declarado que pretende concorrer ao Senado, os tucanos ainda se esforçam para que ele seja vice do governador de São Paulo, José Serra. Sem Aécio, o espaço fica aberto, já que o DEM, principal parceiro eleitoral do PSDB, está em dificuldades após o escândalo do mensalão do Distrito Federal.
Luciana Veiga explica que, dentro do marketing político tradicional, a escolha do vice é feita dentro de três critérios de complementaridade ao cabeça da chapa geográfico, partidário ou de valor social. Dentro dessa teoria, a professora não vê viabilidade no encaixe entre Serra e Aécio. "O Lula é um operário de esquerda que foi buscar um vice (José Alencar) ligado ao empresariado, enquanto os dois governadores do PSDB são muito parecidos, não têm o que acrescentar um ao outro."
No Paraná
No Paraná, a busca pelos vices já começou. O caso mais claro envolve a provável aliança entre PDT e PT. O pré-candidato pedetista, senador Osmar Dias, faz pressão para contar com a petista Gleisi Hoffmann e fazer uma composição entre um homem do interior e uma mulher da capital. "Quero alguém que me ajude em Curitiba e na região metropolitana", resume Osmar.
Já Beto Richa (PSDB), que renunciará ao cargo de prefeito até o fim do mês, ainda não tem nomes definidos, mas deve seguir o critério partidário. Por enquanto, o mais sondado é o deputado estadual Alexandre Curi (PMDB). Os peemedebistas, no entanto, estão mais próximos de apoiar a candidatura do atual vice-governador, Orlando Pessuti, que assumirpa o governo. Desde a redemocratização, em 1983, apenas dois vice-governadores ocuparam mandatos-tampão como ocorrerá com Pessuti a partir de 1.º de abril, já que Requião renunciará para concorrer ao Senado. João Elísio Ferraz de Campos era vice de José Richa e governou o Paraná entre maio de 1986 e março de 1987. Mário Pereira, vice de Requião, foi governador entre abril de 1994 e janeiro de 1995.





