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Em suas palestras, o juiz federal Sergio Moro tem comentado  a Operação Mãos Limpas. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Em suas palestras, o juiz federal Sergio Moro tem comentado a Operação Mãos Limpas.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Maior operação de combate à corrupção do país, que levou à prisão diversos políticos, agentes públicos e empresários. A descrição se encaixa perfeitamente para pelo menos duas operações – a brasileira Lava Jato e a italiana Mãos Limpas (Mani Pulite), que ocorreu na década de 1990. As duas operações, porém, têm ainda mais semelhanças entre si.

SAIBA MAIS: Como foi a Operação na Itália

Há 11 anos, o juiz federal Sergio Moro, que hoje conduz a Lava Jato na Justiça Federal, escreveu um artigo sobre a operação italiana. No artigo, Moro chegou à conclusão de que o caso italiano poderia vir a ter uma versão nacional. “No Brasil, encontram-se presentes várias das condições institucionais necessárias para a realização de ação judicial semelhante”, diz um trecho do artigo escrito em 2004.

Em suas palestras, Moro evita falar da Lava Jato, caso recente que tem sido conduzido por ele. A saída encontrada tem sido falar da Operação Mãos Limpas para explicar corrupção e lavagem de dinheiro.Nos despachos, Moro também usa como referência a operação italiana. Em quase todas as sentenças, o juiz já usou como referência a Mani Pulite para defender a colaboração premiada de réus dos processos da Lava Jato. “A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, não vamos descobrir jamais”, é o argumento usado por Moro, citando Piercamillo Davigo, um dos membros da equipe italiana de investigação.

“A gente tem algumas semelhanças entre a Lava Jato e a Mani Pulite, tendo em vista que ambas se referem a financiamento de partidos políticos de forma irregular”, analisa o mestre em Direito Fundamental e Democracia pela Unibrasil Rodrigo Faucz.

“Outra semelhança é o grito da sociedade. Tanto na Itália quanto no Brasil parece que o cidadão comum cansou do negócio viciado”, aponta o professor de Ciências Econômicas da PUC Másimo Della Justina. “No caso da Itália havia um descrédito da população na comunidade política e na medida em que alguém do Judiciário mostrou serviço e seriedade adquiriu uma certa respeitabilidade e o apoio da sociedade. Isso aconteceu na Mãos Limpas e acontece na Lava Jato”, aponta Justina.

As consequências da operação italiana ainda causam divergências entre especialistas. Se, por um lado, o custo de obras públicas diminuiu, por outro, o cenário político italiano não evoluiu para melhor depois da Mãos Limpas. “Lá a gente tem como principal exemplo de que algo deu muito errado como consequência dessa operação o fato de que as estruturas e os partidos políticos ficaram fragilizadas e acabou dando brecha para que surjam políticos mais populistas que acabam por utilizar essa operação e tomar o poder, como o [Silvio] Berlusconi”, aponta Faucz.

O professor também alerta para outra possível consequência negativa que precisa ser evitada. “O crime é refinado, ele se reinventa, ele fica cada vez mais inteligente. Na Itália isso aconteceu e o meu medo é que aqui no Brasil isso poderia acontecer também”, diz. No Brasil, avaliam especialistas, ainda é cedo para dizer quais consequências a Lava Jato vai deixar. “A história vai dizer se a Lava Jato acabou trazendo algo efetivamente de positivo ou não”, avalia Faucz.

MANI PULITE

Saiba mais sobre maior operação contra a corrupção deflagrada na Itália, na década de 1990. Confira o número de investigados e de mandados de prisão expedidos:

Origem

A operação teve início em 1992, com a prisão de Mario Chiesa.

Propina

Chiesa era diretor de uma instituição filantrópica de Milão, e se sustentava no cargo através de pagamento de propina para partidos políticos.

Prisões

Foram expedidos 2.993 mandados de prisão.

Extensa investigação

Mais de 6 mil pessoas foram investigadas, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares.

Elite da política

Quatro investigados haviam sido primeiro-ministros.

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