Para surpresa dos participantes de um encontro de formação de legisladores, promovido pela União dos Vereadores do Paraná, ontem, em Carambeí, o presidente licenciado da Câmara da cidade de Reserva, Flávio Hornung Neto (PMDB), assistia atentamente às palestras. Ele é assassino confesso do presidente municipal do PC do B, Nelson Renato Vosniak. O crime aconteceu no dia 15 de janeiro e desde então Flávio se recusava a falar com a imprensa. Mas a repórter Kris Knobay, da RPC-TV Esplanada, conseguiu a entrevista, que agora a Gazeta do Povo reproduz.

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Flávio afirma que a motivação do crime não foi política e culpa a imprensa pela repercussão do caso. Há duas semanas, a Câmara de Reserva rejeitou o pedido de abertura de processo de cassação do vereador. Ele continua afastado da presidência, mas já reassumiu o posto de vereador. Na Justiça, conseguiu o direito de responder ao processo em liberdade. O delegado que cuida do caso, Wallace Brito, espera o resultado de um laudo para encerrar o inquérito policial.

O senhor está envolvido em um processo polêmico. Como conviver com isso no Poder Legislativo? Influencia no seu desempenho o fato de ter matado um oponente?

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Flávio – A minha desavença não foi política. Tem gente usando isso aí pra fazer política em cima de um sofrimento, porque eu estou sofrendo com isso. Mas não vai atrapalhar o meu desenvolvimento na Câmara porque não é uma briga política.

Isso não vai contra a sua atuação na Câmara de Vereadores?

Não vai porque sempre exerci meu trabalho. Voltei agora e não vou decepcionar a população que me elegeu. Mas o senhor acha justo permanecer no seu cargo mesmo tendo assumido o que fez?

Sim, claro. Eu agi em legítima defesa. É uma situação difícil, mas não é uma briga política. O cidadão era meu primo.

A motivação não era política, então?

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Não era, mas tem gente usando isso para tirar proveito político. A imprensa está fazendo isso, criticando muito o nosso município, a administração e tal e o nosso município está indo bem.

O que aconteceu naquele dia?

Os fatos estão no meu processo. Já dei depoimento, já prestei o meu esclarecimento para a Justiça.

Como se sente em relação a tudo isso?

Eu me sinto muito chateado. Estou preocupado com isso. É uma coisa que nunca imaginei passar na minha vida. Eu nunca dei um tapa em ninguém, nunca discuti com ninguém, nunca briguei com ninguém na minha vida. Basta dizer que eu não tenho nenhum processo. O meu nome é limpo. E, no entanto, isso aconteceu.

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Por que chegou a nesse ponto?

Eu vinha sofrendo provocação, ameaça há coisa de três, quatro anos. Eu só gostaria de perguntar a qualquer um: se um cidadão chegasse e falasse para qualquer homem que tem um pingo de vergonha, durante dois, três anos, "eu vou pegar sua mulher"? E cada vez foi aumentando. Ele passou a me provocar mais, a me insultar na rua, a gritar comigo perto de gente, no movimento, isso foi enchendo. E no último dia estava ele e mais dois cidadãos e correndo (de carro) atrás de mim, eu estava correndo mais uma vez, escapando da situação, mas ele correu atrás de mim, me apontando uma arma, falou um monte de besteiras e eu para me defender acabei fazendo isso.

O senhor tem porte de arma, andava armado corriqueiramente?

Não. Mas a partir de uma situação onde eu comecei a investigar algumas irregularidades nas licitações feitas pela prefeitura na gestão passada, onde tem algumas fraudes, inclusive já está no meu processo isso. Eu passei a receber ameaças. Uma vez por telefone pelo cidadão que faleceu.

Mas então não foi crime político?

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Não. Só que ele passou a me perseguir. Mais ainda porque eu comecei a investigar ele, ele já era invocado comigo, então eu passei a carregar minha arma.

O senhor não acha que isso remete ao tempo em que as coisas na política brasileira eram resolvidas à bala e que isso já foi superado?

O meu não é crime político. Não foi o primeiro e não vai ser o último. Não é só na minha cidade que acontece isso, em qualquer cidade acontece. Todo mundo, inclusive a imprensa, está difamando o nosso município, dizendo que foi uma briga política e não foi. Foi uma desavença, como se fosse uma briga de vizinhos. Volto a insistir que a imprensa está criticando o nosso município e o nosso município está perdendo com isso.

A imprensa não faz parte da democracia no país?

Faz, mas a imprensa está criando uma coisa que não existe, dizendo que é uma briga política e não é. É uma briga como qualquer outra. Agora por eu ser presidente da Câmara e pelo cidadão lá ter sido presidente do PC do B, mas ele não era político, nunca foi nada, nunca foi vereador, nunca foi prefeito, nunca foi candidato a nada. Então como ele era político?

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O senhor vai permanecer na Câmara e na presidência?

Eu estou afastado da presidência. Como vereador, eu voltei a assumir. Vou fazer o meu trabalho para não decepcionar a população de Reserva, como eu sempre fiz.

Ter matado alguém já não é uma decepção grande demais?

A população me conhece e conhece o outro lado. Então eu acredito que não é decepção.

Dá para dizer que os seus eleitores esperavam por isso?

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Não esperavam, só que eles sabem da situação, sabiam o que estava acontecendo comigo. Era visto e notório.