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Apelo presidencial

Confira a íntegra da carta do presidente Lula ao senador Aloizio Mercadante:

Meu companheiro Aloizio Mercadante,

Ontem à noite tivemos uma longa e franca conversa uma entre tantas nesses mais de 30 anos de companheirismo e amizade em comum. Você me expressou novamente, como tem feito publicamente, sua indignação com a situação do Senado federal e suas duras críticas ao posicionamento da direção do PT nos processos no Conselho de Ética. Respeito sua posição e considero um direito legitimo você expressá-las para a militância do PT e para a sociedade. Bem como continuar lutando por uma reforma profunda no Senado.

Mas, não posso concordar com sua renúncia da liderança da bancada do PT. Você tem todo o apoio de nossos senadores e senadoras. A bancada e eu consideramos você, Mercadante, imprescindível para a liderança.

Não tem sido fácil construir alianças e aprovar projetos tão relevantes ao nosso governo para superarmos a grave crise econômica internacional, como estamos superando, distribuir renda, implantar novas políticas públicas e melhorar a vida do nosso povo. Todo esse processo depende do Senado. Você tem contribuído decisivamente e sua liderança é fundamental para as nossas lutas no Senado.

Mercadante, estamos juntos há 30 anos travando as lutas que interessam ao povo brasileiro e mudando a história do país. Dificuldades e divergências fazem parte dessa caminhada, mas são menores do que ela. Em nome dessa história e dessa caminhada, fique na liderança. Esse é um pedido sincero de um velho amigo e sempre companheiro.

Luiz Inácio Lula da Silva.

Brasília - Após anunciar que deixaria a liderança do PT no Senado, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) subiu à tribuna do plenário ontem para dizer que ficará no cargo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um encontro entre os dois ocorreu na quinta-feira à noite, no Palácio do Planalto, e, segundo o senador, eles conversaram por cerca de cinco horas. Durante o discurso, Mercadante anunciou: "Não tenho como dizer não para o presidente, como não tive como dizer muitas vezes".

O petista também justificou o recuo dizendo que outras lideranças do partido o procuraram pedindo para que não deixasse a liderança da sigla. O senador disse ter recebido ligações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do deputado Antônio Palocci (PT-SP) e também relatou um encontro com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Todos eles, de acordo com o parlamentar, apelaram para que ele voltasse atrás na sua decisão de deixar o cargo.

O senador explicou que queria deixar a liderança do PT porque se sente "frustrado" com a decisão do Conselho de Ética do Senado de arquivar todas as ações que foram movidas contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Mer­cante defendia que a bancada votasse pela abertura de processo. Mas, por orientação do presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), os senadores petistas ajudaram a arquivar as ações.

"Depois da decisão do Conselho de Ética fiz uma breve reunião com a minha bancada e disse: ‘Minha vontade neste momento é deixar a liderança’. Deixar porque nós não tivemos força para construir um caminho alternativo, não conseguimos porque esbarramos no PMDB, esbarramos no apoio que a direção do meu partido deu a esta resposta que foi dada o arquivamento das ações, e esta não era a posição da minha bancada", disse ele, no discurso. Mercadante avaliou ainda que tanto o governo quanto seu partido e o Senado erraram no episódio. "Quero discutir os caminhos do partido porque não podemos cometer os erros que temos cometido."

Família

Mercadante contou que depois da reunião da bancada foi para sua casa e conversou com esposa e filhos. Um deles, disse o líder, falou: "’Pai, deixa de fazer tanto sacrifício. Você tem pago um preço alto demais. Está ficando muito caro esse preço pessoal’", disse o senador. Na avaliação do parlamentar, "o custo pessoal nesta hora é o custo político que estamos pagando por uma aliança". E concluiu: "Vou terminar com uma frase: ‘O erro dos homens pode ser porta-voz de novas descobertas’. Esta Casa errou, meu governo errou, meu partido errou, nós erramos e eu errei, porque essa não é a solução que o Brasil precisa".

Mercadante fez o anúncio para um plenário vazio, com apenas cinco senadores: Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Simon (PMDB-RS), Mão Santa (PMDB-PI), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Augusto Botelho (PT-RR), o único petista presente à sessão. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) aguardou a chegada do líder até por volta das 10 horas, mas, atrasado para viajar a São Paulo, deixou o Senado sem ouvir o pronunciamento do colega.

Em carta, Lula afirma que Mercadante é imprescindível

Além da conversa na noite de quinta-feira com Aloizio Mer­­cadante, o presidente Lula entregou ao senador uma carta oficial para pedir que ele continuasse na liderança do partido no Se­­nado. Na carta, Lula diz que o parlamentar é "imprescindível" para a liderança e afirma que é "legítimo" que Mercadante defenda sua posição no Conselho de Ética, mas que não pode "concordar com sua renúncia da liderança".

"Dificuldades e divergências fazem parte dessa caminhada, mas são menores do que ela. Em nome dessa história e dessa caminhada, fique na liderança", pede o presidente. "Não tem sido fácil construir alianças e aprovar projetos tão relevantes ao nosso governo para superarmos a grave crise da economia internacional, como estamos superando, distribuir renda, implantar novas políticas públicas e melhorar a vida do nosso povo. Todo esse processo depende do Senado. Você tem contribuído decisivamente e sua liderança é fundamental para as nossas lutas no Senado."

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