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A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr. Geração Editorial, 344 páginas. Formato: 16 x 23 cm. Preço sugerido: R$ 34,90.

Destaque na lista dos mais vendidos de várias livrarias, a obra A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, foi lançado oficialmente ontem em Curitiba, com a presença do autor. O livro, que acusa lideranças do PSDB – principalmente o ex-governador de São Paulo, José Serra – de receber propinas de empresários durante as privatizações conduzidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, foi debatido ontem no auditório do Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc). Mas não é de hoje que Ribeiro está envolvido em polêmicas. O jornalista, nascido em Londrina e criado em Santa Cruz de Monte Castelo (Noroeste do estado), foi acusado de participar de uma central de espionagem montada na campanha da presidente Dilma Rousseff no ano passado. Também chegou a ser acusado pela Polícia Federal de pagar pela violação do sigilo fiscal de dirigentes tucanos e dos familiares de Serra durante suas investigações. Ribeiro Jr. nega as acusações. O livro tem sido muito criticado pelos personagens ligados às privatizações e defendido por políticos do PT.

Confira a entrevista concedida à Gazeta do Povo antes do lançamento do livro:

O livro lidera a lista de mais vendidos desde que foi lançado. Porque o tema tem despertado tanto interesse do público?

Agora que eu estou começando a entender. A onda estatizante atingiu a vida das pessoas. Conheci pessoas que ficaram loucas ao perder o emprego após as privatizações. Gente que ficou indignada porque as tarifas aumentaram. O que eu tenho ouvido das pessoas é que o livro é uma forma de consolar o sofrimento que tiveram. Além disso, em alguns estados tem renascido uma onda de privatizações e terceirizações e as pessoas estão muito preocupadas.

Os defensores das privatizações alegam que os serviços melhoraram e que o Estado ficou mais enxuto e mais barato para o contribuinte. Para o senhor, por que as privatizações são nocivas?

Isto é uma balela. Mesmo após a publicação do livro tive acesso a muitos estudos que provam o contrário. No setor elétrico, por exemplo, as tarifas ficaram absurdas. Além das incontáveis fraudes nas privatizações. Quem me diz que as privatizações são nocivas são as pessoas que compram o livro em todo o Brasil.

O início de sua apuração é alvo de polêmica. Quando e porque você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?

São várias as fases. São 12 anos de investigações, em vários jornais e momentos distintos. Comecei quando trabalhava na sucursal de O Globo em São Paulo após denúncias de que havia pagamento de propina nas privatizações. Em 2003, publiquei na revista IstoÉ uma reportagem sobre o caso Banestado que resultou em uma CPI no Con­­gresso. A história gerou uma operação da Polícia Federal que prendeu doleiros. Consegui descobrir que uma parcela do dinheiro destas propinas foram pagas, por exemplo, a Ricardo Sérgio de Oliveira, que comandava as operações de privatização [ele era diretor da área internacional do Banco do Brasil]. Apesar do acordo entre governistas e oposição no final da CPI, o relatório provava o pagamento da propina. Em 2008, já trabalhando no jornal O Estado de Minas, fui destacado para investigar o caso de um espião colocado pelo José Serra para descobrir algo sobre o governador mineiro Aécio Neves para tirá-lo da disputa à Presidência. Descobri que quem operava a "arapongagem" era a filha e o genro do Serra. Vi que era o momento de retomar o caminho da investigação anterior sobre as privatizações. Foi aí que eu cheguei numa terceira fase, descobrindo o dinheiro do banco Opportunity para a família Serra. Foram processos que foram se juntando e assim foi se formando a ideia do livro. Seus críticos, apesar da documentação citada no livro, dizem que não dá para fazer uma conexão direta das movimentações com o processo de privatização…

Isto é cinismo. Mostro que o Ricardo Sérgio foi o cara que pilotou as privatizações. E que a empresa controlada pelo Carlos Jereissati [empresário] nas Ilhas Cayman repassou US$ 410 mil para ele dois anos depois do leilão em que um grupo controlado por Jereissati arrematou o controle da antiga Telemar. Como não há conexão? Queriam que tivesse no recibo "dinheiro da privataria"? A conexão está provada, e quem não tem como explicá-la tenta desacreditar a apuração. Como não colou, tentam atacar a minha vida pessoal.

Como você resumiria o papel de José Serra nesse processo todo?

O nome do Serra está em todas. Senão diretamente, com familiares, primo, filha, genro. Tudo liga a família dele.

A principal denúncia é sobre lavagem de dinheiro em paraísos fiscais. Os documentos foram produzidos pela CPI do Banestado, cujo relator era do PT. Por que essa investigação não aconteceu naquela época?

Eu não tinha acesso a este relatório porque era réu em um processo de calúnia (movido por Ricardo Sérgio). Em 2008, eu ganhei a ação e pude encontrar este processo nos arquivos da Justiça.

Mas o PT não conhecia os documentos? Por que precisou de você?

É que houve um acordo na CPI do Banestado. Quando a CPI começou a chegar perto de gente do PT que operava com o mesmo doleiro, a coisa deixou de interessar tanto ao governo quanto à oposição. Houve um "acordão" e uma grande pizza. E corremos o risco de que isso ocorra novamente...

O senhor se refere à CPI requerida no Congresso no fim de 2011. Será que desta vez ela poderia avançar nas investigações?

Uma CPI bem conduzida poderia ir muito além da nossa investigação, mostrar que o volume de roubalheira foi muito maior do que aquele que conseguimos documentar. A sociedade quer a abertura desta CPI. Mas o governo sinaliza com novo "acordão" para preservar a base. Seria uma vergonha para o governo.

Antes de o livro sair, você protagonizou uma confusão na campanha presidencial de Dilma Rousseff. À época se disse que alguns dos documentos que estão no livro foram conseguidos ilicitamente. O que o senhor diz sobre isso?

Fui chamado pela coordenação da campanha porque diziam que havia vazamento de informação. Quando a gente descobriu, disseram que eu tava fazendo um dossiê. E me acusaram de quebra de sigilo. Meu livro mostra, no entanto, que as pessoas que acusam de ter quebrado o sigilo já tinham seus sigilos quebrados pela Justiça. São estas as provas que estão no livro. Além disso, ninguém fala que este inquérito não evoluiu e não virou denúncia.

Houve um "fogo amigo" de petistas?

Com certeza. Tanto no PT como no PSDB. Às vezes, a briga interna é que é a mais violenta. O que vale não é o interesse do partido, do candidato do partido. É o interesse de cada um, a disputa de poder. Antes mesmo de a Dilma vencer, o pessoal [do PT] já estava se matando por causa de cargos. E quase sobrou pra mim. Diziam que o livro não existia, que era uma mentira. E o livro esta aí.

Foi por isto que o senhor concluiu no livro que "não há santos nessa história. Todos são vilões e o Brasil é a vítima"? Não é uma conclusão desalentadora?

É duro, mas é verdade. Esta história do fogo amigo no PT é igual aquela história do "dossiê dos aloprados". Como entender gente que pega dinheiro do adversário para pegar informação para minar a própria campanha do partido? Este jogo é muito sujo. Depois daquela confusão, não quero nem passar mais perto da política. Nunca gostei e agora peguei ódio.

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