Único paranaense na reunião de ontem da executiva nacional do PT, o deputado federal André Vargas admitiu que as conversas internas sobre conjuntura política foram focadas na crise que envolve o ministro Antonio Palocci. "É um problema pessoal que tomou proporções políticas", avaliou o parlamentar.
Assim como os demais colegas da legenda, Vargas fugiu das críticas a Palocci. Em contrapartida, foi moderado na defesa ao ministro. Segundo ele, não há como manter a blindagem do ministro no Congresso Nacional.
"Estamos falando de 15 comissões permanentes só na Câmara que podem convocá-lo, fora as do Senado. Uma hora vai convocar. A solução é vir a público e esclarecer. Eu acho que ele vai fazer isso", avaliou.
Como foi o clima da reunião da executiva do PT?
Bem natural. Nós discutimos a conjuntura política e dentro dela todos os fatos foram avaliados. Não há como negar que nós estamos vivendo uma tentativa da oposição de paralisar o Congresso Nacional e, por consequência, o governo. Não havia um debate pautado na reunião da questão Palocci, mas ela acabou surgindo de forma tangencial. É um problema pessoal que tomou proporções políticas. Não há nenhuma ilegalidade denunciada até agora pela imprensa. Aliás, a oposição se agarra apenas às denúncias dos jornais, já que não tem nenhuma proposta concreta para o país.
O caso Palocci é uma questão do PT ou do governo?
Do governo. E temos confiança que o governo vai saber tomar as medidas e expor o esclarecimento necessário. Assim como nós achamos que o Palocci, encerrada sua defesa junto à Procuradoria-Geral da República, também vai vir a público e esclarecer os fatos.
Ele não deveria seguir uma espécie de hierarquia e apresentar os esclarecimentos antes para o partido?
Não necessariamente. Essa é uma decisão muito pessoal. Nós temos confiança na presidente e no projeto em curso no país. Agora, essas questões pessoais, mesmo que inegavelmente elas tenham um impacto político grande, precisam ser tratadas a partir de uma decisão dele. Se ele quiser esclarecer a situação para o partido, estamos abertos.
O PT pediu algum tipo de explicação mais detalhada?
Não. Nós temos confiança no julgamento da Dilma. Ela escolheu sua equipe e saberá exigir dos seus ministros os esclarecimentos necessários, quando eles forem necessários.
Qual é a melhor esfera para os esclarecimentos? Por que não pode ser o Congresso?
Acho que o Congresso não é o ambiente ideal para esse tipo de questão. Foi assim nas últimas CPIs. É o espaço legítimo de luta política, mas essa luta prejudica os esclarecimentos. O Ministério Público é o espaço ideal. E é também a esfera mais severa de cobrança, muito mais do que seria uma CPI.
Há uma avaliação de desgaste da imagem do partido nessa crise?
Não vejo desgaste. Aliás, nós temos mantido uma postura bastante crítica. Não nos interessa comparar atos dos nossos ministros com ministros dos governos anteriores. Se for para comparar com o pessoal do Fernando Henrique, aí sim fica complicado para a oposição. Ex-ministros do governo do PSDB viraram banqueiros. Mas, para nós, a melhor defesa não é o ataque.
Quando tempo vai ser possível suportar a pressão pela abertura de uma CPI ou por novas convocações do ministro no Congresso?
Estamos falando de 15 comissões permanentes só na Câmara que podem convocá-lo, fora as do Senado. Uma hora vai convocar. A solução é vir a público e esclarecer. Eu acho que ele vai fazer isso.
Como e quando ele virá a público?
O formato é o Palocci quem vai decidir. O que não dá é para fazer um julgamento antecipado. Tem gente querendo crucificá-lo porque trabalhou como consultor. Mas o fato é que ele virou consultor quando estava fora do governo. A maioria dos parlamentares tem atividades econômicas externas [Palocci era deputado federal na época em que possuía uma empresa de consultoria]. Ele não é um profeta, não tem o dom da paranormalidade para prever que um dia voltaria ao governo. Exigir que ele quebre o contrato de confidencialidade com seus ex-clientes é o mesmo que pedir para uma pessoa que assuma um crime que não cometeu para deixar de ser acusada por outro crime.
Tem jeito de prestar esclarecimento sem revelar os ex-clientes?
Nós estamos vivendo uma fase de tirania no Brasil. Quem denuncia não tem o ônus da prova. É realmente complexo. Não há saída porque o nível de exigência que estamos tendo com as pessoas públicas está bem acima do razoável. Como é que vai se comprovar tráfico de influência em uma situação em que ele não era ministro, nem tinha perspectiva de voltar a ser?
Já há discussões no PT sobre um possível substituto para Palocci?
Não. Tudo que se fala é especulação. O governo já decidiu: se o Palocci defender-se, e ele está se defendendo, continuará ministro.