Em 1789, a França, mergulhada em dívidas, passava por grave crise financeira. Para resolvê-la, o rei Luiz 16 decidiu aumentar impostos, que pesavam mais sobre a burguesia como era chamada a classe média naquela época. O rei foi duro e se recusou a ceder a pressões. Quem não tivesse pão, que comesse brioches, teria recomendado a rainha Maria Antonieta aos mais pobres, segundo conta a história certamente contaminada pelos altos teores políticos daquele tempo.
Os revoltosos tentaram discutir o assunto. Criaram uma Assembleia Nacional para abrir o debate, mas o rei se opôs à ideia. O povo, então, saiu às ruas, tomou arsenais públicos e, por fim, invadiu e destruiu a Bastilha, velha prisão medieval que encarcerava inimigos políticos e criminosos em geral. O diretor da prisão, que pedia calma à multidão, teve a cabeça cortada e, pendurada numa lança, desfilou pelas ruas de Paris. A monarquia caiu e, em seguida, Luiz 16 e Maria Antonieta perderam a cabeça na guilhotina.
Em 2015, o Paraná, mergulhado em dívidas, passa por grave crise financeira. Para resolvê-la, o governador Beto Richa decidiu aumentar impostos que pesam sobre a cesta básica e sobre carros populares e avança sobre recursos que custeariam futuras aposentadorias do funcionalismo.
Embora já não seja do tempo da monarquia absolutista e apesar de ter sido eleito democraticamente, o governador não foi menos duro do que Luiz 16. É certo que cedeu em uma coisinha aqui e outra acolá, mas não quis debate prévio e amplo dos projetos e nem que fossem debatidos e aperfeiçoados pela Assembleia. Ao contrário, propôs que esta os votasse em regime de urgência, a toque de caixa, para que todo o essencial fosse aprovado numa só sessão.
Não foram necessários os canhonaços com que os franceses tomaram a Bastilha, mas os portões da Assembleia foram derrubados pela turba até então contida do lado de fora. Os que já estavam dentro, saltaram das galerias e invadiram o plenário. Os deputados correram mas não se vergaram. Ontem mesmo, num plenário improvisado no antigo restaurante da Casa, aprovaram outra vez a tramitação em regime de urgência e hoje devem votar o pacote inteiro. E com certeza vão aprovar o pacote inteiro.
Nas próximas eleições serão contados os pescoços que, provavelmente, não sobreviverão à guilhotina das urnas. Contudo, se com as medidas duras do pacote o estado se safar da misteriosa miserabilidade a que foi levado, o martírio de alguns terá sido em vão mas a opinião generalizada é a de que, embora alguns problemas possam ser momentaneamente resolvidos, a herança será inevitavelmente maldita. O tempo dirá.
Alertas não faltaram. A OAB/PR se pronunciou oficialmente para declarar a ilegalidade de alguns dos itens do pacotaço, especialmente em relação àquele que permite ao governo abocanhar R$ 8 bilhões do caixa da Paranáprevidência pertencentes aos que contribuíram. O mesmo alerta foi feito pelo criador do modelo previdenciário do serviço público paranaense, Renato Follador, para quem a medida equivale a uma sentença de morte para a Paranaprevidência.
Da mesma opinião comunga o ex-presidente da entidade (nos dois primeiros anos do governo Richa), Jayme de Azevedo Lima. Sua antevisão é de que o recurso (que não pertence ao governo mas aos servidores) será torrado para pagamento de dívidas ao invés de garantir as futuras aposentadorias e pensões. "Isso é ilegal, imoral e inconstitucional, pois configura uma 'tunga' ao bolso dos servidores", arremata.
Afora seu aspecto antidemocrático, há dúvidas também em relação à legalidade do regime de transformação do plenário em comissão geral. Ontem à tarde, a oposição protocolou mandado de segurança no Tribunal de Justiça, requerendo liminar para impedir a realização da sessão. Embora a decisão deva sair da pena de um só desembargador, não é improvável que, no seu despacho, ele acabe por reproduzir o sentimento da grande maioria do Judiciário, que também não vê com bons olhos a proposta do governo e que gostaria de ter sido chamada a debater previamente a questão.
É que, assim como os funcionários comuns, juízes e promotores que iniciarem agora a carreira não terão a garantia de levar para a aposentadoria proventos iguais aos que perceberão na ativa. A menos que contribuam de forma complementar para a autarquia Previcom, prevista para criação pelo pacote.
Dê sua opiniãoO que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Premiê de Assad concorda em entregar poder a rebeldes da Síria
EUA alertam que Estado Islâmico pode tentar “tirar vantagem” da situação na Síria
Segurança pública de São Paulo enaltece recorde histórico de redução de crimes
Deixe sua opinião