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Mascarados quebram vidraças de agência bancária em São Paulo durante os protestos do dia Sete de Setembro: pichação de símbolo anarquista remete à origem do movimento Black Bloc, nos anos 80, na Alemanha | Victor Moriyama/Reuters
Mascarados quebram vidraças de agência bancária em São Paulo durante os protestos do dia Sete de Setembro: pichação de símbolo anarquista remete à origem do movimento Black Bloc, nos anos 80, na Alemanha| Foto: Victor Moriyama/Reuters

"Culpar os black blocs é uma muleta para não se manifestar"

Confira entrevista completa com os responsáveis pela página do Facebook Black Bloc Curitiba

"A vidraça quebrada é o argumento mais valioso na política moderna." A frase da sufragista britânica Emmeline Pankhurst, que liderou uma quebradeira em Londres no ano de 1911 para reivindicar o direito das mulheres ao voto, buscava respaldo para ações violentas de descontentes contra o governo. A violência como método político voltou com força um século nas ações dos "black blocs" – presentes em diversas manifestações ao redor do mundo e, mais recentemente, também nos protestos de rua do Brasil. Eles são conhecidos sobretudo por estarem na linha de frente dos protestos, por se protegerem pelo anonimato (usando máscaras e roupas pretas) e por protagonizarem cenas de vandalismo e de enfrentamento da polícia.

Surgidos na década de 80 na Alemanha entre os adeptos do anarquismo – doutrina que prega a completa anulação de governo –, os black blocs não são propriamente um grupo ideológico, mas adeptos de uma tática específica de organização de protestos. É o que explica o cientista político da UFPR Emerson Cervi: "Podem ser jovens neo-anarquistas ligados a diversos movimentos. O Black Bloc foi pensado como alternativa para a falta de resposta das formas tradicionais de manifestação".

Para Cervi, apesar da criminalização das ações dos manifestantes, não é possível ignorar a violência do espaço público como uma forma de expressão. "A violência em si é uma forma de manifestação, e sua expressão máxima é a guerra. O que se faz é criminalizar as consequências dessa forma de manifestação. No caso, o vandalismo e a depredação do patrimônio."

O cientista político Fabrício Tomio, também da UFPR, por sua vez, não acha que a violência seja uma forma legítima de protesto. "É legítimo para eles. Mas para a maior parte da sociedade e em tudo o que está consolidado na lei, não é. Mesmo que haja excessos por parte da polícia na repressão aos protestos, uma coisa não justifica a outra."

Tomio afirma que os black blocs não têm canais institucionais que permitam representar suas posições e proporcionar o diálogo com o poder público. "Eles acham que as instituições em que o debate público se realiza não os representa e que, por isso, não é são os canais adequados."

Esvaziamento

Os métodos truculentos dos black blocs comumente vêm sendo responsabilizados, em todo o mundo, pelo esvaziamento de protestos legítimos. O jornalista americano Chris Hedges chamou o grupo de "o câncer do Occupy Wall Street". O argumento é de que os manifestantes pacíficos deixam de sair às ruas por medo da violência dos confrontos, além de não entenderem as posições dos mascarados.

Emerson Cervi afirma que chamar a multidão para o protesto não é uma preocupação do grupo, embora ele alerte que a população serve aos propósitos dos black blocs, que ganham força e se escondem na multidão. "Não me parece que eles se importem com a opinião pública e não acho que alguém espere conseguir a simpatia da população com atos de violência. Os black blocs se aproximaram das manifestações de massa, mas só quem acredita que eles querem chamar a população são pessoas de fora do grupo."

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