Mesmo diante de críticas e revoltas internas e de repercussão negativa no Congresso, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) anunciou nesta sexta-feira (1º) em comunicado interno, que não vai abrir nenhum procedimento administrativo para investigar o servidor do órgão de matrícula 008997, que teria cooperado com um espião americano, até ser flagrado repassando informações aos Estados Unidos, principalmente sobre a Tríplice Fronteira.
O "esclarecimento aos servidores", divulgado nesta sexta, segundo informações obtidas pela reportagem, dizia que não foi instaurado nenhum procedimento disciplinar para apurar irregularidades na conduta do funcionário, no final do ano passado, porque o departamento jurídico, ao analisar o caso, se manifestou "desfavoravelmente".
A decisão de não investigar o servidor foi tomada pelo diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, em novembro de 2012, apesar de existirem provas gravadas, filmadas e fotografadas do procedimento ilegal do servidor que, apesar de estar trabalhando em Manaus, tentava acessar dados referentes a Foz do Iguaçu, que não poderia.
O anúncio da direção da Abin que reitera a decisão de "jogar para debaixo do tapete" o caso de cooperação de um agente brasileiro com um americano, causou surpresa no Planalto e entre os servidores da própria Abin. Esta comunicação interna acontece no momento em que a presidente Dilma Rousseff está repudiando todos os atos de espionagem e no mesmo dia em que o governo brasileiro anuncia que se uniu à Alemanha, para pedir um projeto de resolução sobre direito à privacidade na era digital, por causa da ação da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, que espionou e-mails e comunicações dela e de seus auxiliares, causou surpresa no Planalto e entre os servidores da própria Abin.
A decisão dar uma satisfação ao público interno da Abin de que não há nada a fazer com o servidor, que foi aconselhado a se aposentar com vencimentos integrais e todas as vantagens, apesar das denúncias, revoltou ainda mais os funcionários da Agência, que não se conformam com a postura da direção do órgão. A Associação Nacional dos Oficiais de Inteligência - AOFI encaminhou nota aos seus associados questionando a postura "parcial" do diretor do órgão, e avisando que está estudando "a melhor maneira de atuar para que os fatos abordados nas reportagens tenham consequências condizentes com a gravidade dos fatos e com um órgão de Inteligência que preza pela proteção de suas informações e de seus meios de trabalho". A AOFI quer apresentar queixa ao Ministério Público.
Depois da divulgação pelo jornal O Estado de S. Paulo, no fim de semana, da notícia de que o agente 008997 teria sido flagrado se reunindo com o espião americano, o servidor aposentado foi chamado a Brasília. A Abin não quis informar se ele se reuniu com integrantes da direção do órgão ou se esteve na sede da Agência durante estes dias. Em meio à crise interna e ao clima de revolta na Abin, o diretor-geral Wilson Trezza embarcou para Angola, a fim de participar de uma reunião da CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, de onde retorna na quarta-feira 6.
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