O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz revelou ontem, durante depoimento à CPI dos Grampos, na Câmara dos Deputados, que a participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em operações da PF é mais comum do que se imaginava. Segundo ele, além da colaboração da Abin na Operação Satiagraha, servidores da agência participaram de pelo menos mais 160 investigações da Polícia Federal. Ele negou, porém, que isso seja ilegal.
"Está dentro da legalidade a participação da Abin em ações da Polícia Federal. E não foi apenas na Satiagraha, foram mais de 160 operações", afirmou Protógenes. A Satiagraha investiga supostos crimes financeiros atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
No caso da Satiagraha, o delegado argumentou que não houve a formalização da atuação da Abin porque nenhum documento oficial sobre a colaboração dos agentes foi assinado.
Apesar da revelação de que a Abin participava ativamente de atividades da PF, o depoimento de Protógenes acabou frustrando os deputados da CPI. Protegido por um habeas corpus que lhe garantia o direito de ficar calado para não se autoincriminar, o delegado se recusou a responder à maioria das perguntas. Também não revelou, como havia ameaçado, novos nomes de envolvidos com as atividades supostamente ilícitas de Daniel Dantas.
Protógenes negou que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão de Lula, esteve entre as autoridades investigadas. Foi categórico também ao negar que o filho do presidente, Fábio Luiz, o Lulinha, tenha sido investigado na operação chefiada por ele. "Não existe um mínimo de fragmento contra o filho do presidente Lula", assegurou.
O delegado não respondeu, porém, ao ser questionado sobre a investigação do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT, citado em seu relatório como "ponte" entre Dantas e políticos.
Tensão
O depoimento de Protógenes aconteceu em clima de tensão. Vários deputados apoiadores do delegado, e que não fazem parte da CPI, estiveram presentes, entre os quais Chico Alencar (PSol-RJ), Ivan Valente (PSol-SP), Luciana Genro (PSol-RS), Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) e o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
Enquanto Protógenes se recusava a responder perguntas, uma transparência foi exibida na tela da CPI com os dizeres: "O delegado apresentou várias versões em cinco depoimentos prestados, um na CPI e quatro no Ministério Público. Onde está a verdade?"
A exibição irritou Chico Alencar, que protestou: "Isso parece uma peça de marketing que, obviamente, constrange o depoente". O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), respondeu, dizendo que a tela exibida era material da CPI com a lista das contradições de Protógenes.
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