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Policial na frente da residência oficial de Cunha: ação da PF atingiu nomes de peso do PMDB. | Ueslei Marcelino/Reuters
Policial na frente da residência oficial de Cunha: ação da PF atingiu nomes de peso do PMDB.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Deflagrada na manhã de terça-feira (15), a Operação Catilinárias, da Polícia Federal (PF), deve agravar a crise política entre PT e PMDB. De um lado, o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), classificou a operação que mirou nove políticos com foro privilegiado – boa parte do PMDB – como “revanchismo” e subiu o tom contra o PT, dizendo que a sigla “assaltou o Brasil”. Em sentido oposto, o PT busca amenizar o discurso anti-Cunha e vê a operação com preocupação.

Confira quem são os líderes do PMDB que foram atingidos

Operação aprofunda tensão interna no PMDB

A Operação Catilinárias atinge o PMDB em um momento de grandes tensões internas. Lideranças pró e anti-impeachment disputam a liderança do partido na Câmara. Além disso, dez diretórios estaduais tentam antecipar a convenção nacional da legenda. Mesmo nesse cenário confuso, lideranças de ambos os setores foram atingidos – direta ou indiretamente.

Aliado de Dilma Rousseff (PT), Leonardo Picciani (PMDB-RJ) foi destituído da liderança do partido no último dia (9), e substituído por Leonardo Quintão (PMDB-MG). A gota d’água foi a decisão de Picciani de indicar somente deputados pró-governo para a comissão que iria analisar o processo de impeachment contra a presidente – e foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi apoiada por 35 de 67 deputados. Agora, Picciani manobra para recuperar a liderança.

Paralelamente, dez diretórios estaduais, incluindo estados importantes como São Paulo e Bahia, querem antecipar de março para janeiro a convenção nacional do partido. Por trás do movimento estão lideranças que buscam romper a aliança com o PT e defendem o impeachment de Dilma. É uma forma, também, de pressionar Picciani a desistir das manobras.

Para o cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR, esse confronto é “típico do PMDB”, um partido que há 20 anos não consegue ter uma liderança e uma direção única. Por causa disso, e por atingir atores políticos de ambas as correntes, a operação deve ter pouco efeito na correlação interna de forças, na sua avaliação. (CM)

A ação atingiu tanto adversários quanto aliados do governo. Houve mandados de busca e apreensão em residências de Cunha e de dois aliados peemedebistas dele – Nelson Bornier e o ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. Também foram alvos o ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA) e aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)– Sérgio Machado e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE).

A operação respingou, ainda, no vice-presidente Michel Temer, que evita se posicionar publicamente sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), mas que é visto pelo governo como um adversário. Henrique Eduardo Alves (PMDB), ministro do Turismo e indicação pessoal de Temer, também foi alvo de mandado de busca e apreensão na Catilinárias.

O nome da ação se refere a série de discursos proferidos pelo cônsul romano Cícero por volta de 63 a.C. contra o senador Catilina, acusado de tentar derrubar a República.

Instabilidade

Na avaliação do Planalto, a operação aumentou a instabilidade dentro do governo – além de envolver dois ministros. A operação ocorreu antes da aprovação de projetos cuja aprovação é essencial para Dilma, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Há, porém, um lado visto como positivo pelo Planalto: as investigações tiram o PT do foco da corrupção e jogam luzes sobre o PMDB, principal alternativa de poder à Dilma diante da ameaça do impeachment.Mesmo assim, o PT adota um tom cauteloso, principalmente contra Cunha. Líder do partido na Câmara, Sibá Machado (PT-AC) evitou comentar a operação. “Não me cabe fazer esse tipo de ponderação. Estou me concentrando em aprovar as matérias importantes ao Brasil.”

O posicionamento é diferente do tom agressivo adotado pela bancada do partido na Casa, após Cunha deflagrar o processo de impeachment, na semana retrasada. Na ocasião, petistas eram explícitos ao cobrar o afastamento do peemedebista.

Cunha, por outro lado, jogou lenha na fogueira. “Foi uma operação muito centrada no PMDB. A gente sabe que o PT produziu um assalto no Brasil. Todo dia a gente tem uma denúncia sobre o PT, e hoje [ontem] fazem uma operação contra o PMDB. É muito estranho isso.” Para o cientista político da UFPR Bruno Bolognesi, porém, esse discurso deve funcionar apenas com seus aliados e ter pouco efeito político.

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