O acidente com o vôo 1907 da Gol, que deixou 154 mortos, completa um ano no próximo sábado (29). A tragédia marcou também o início de uma crise aérea sem precedentes na história do país. Nos últimos 12 meses, o país descobriu que o controle de tráfego aéreo tem problemas graves, que as rotas estão perigosamente concentradas em um aeroporto no meio da cidade de São Paulo e que a pista desse aeroporto é falha. Os passageiros sentiram na pele: filas, atrasos e cancelamentos viraram rotina.
O Boeing da Gol se chocou no ar com um jato Legacy. O avião da companhia brasileira caiu em região de mata fechada ao Norte de Mato Grosso. Todos os ocupantes morreram. O Brasil acompanhou estarrecido o resgate dos corpos espalhados pela selva. Uma operação que durou 49 dias. O Legacy conseguiu pousar em uma base aérea no Sul do Pará. Os sete ocupantes não sofreram ferimentos.
As informações da caixa-preta do jatinho, confrontadas com o depoimento dos pilotos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paul Paladino, revelaram que o plano de vôo para o Legacy estabelecia que ele deveria voar de São José dos Campos (SP) até Brasília a 37 mil pés. A partir de Brasília, desceria para 36 mil pés. Mas o Legacy se manteve nos 37 mil - altitude onde, em sentido contrário, vinha o Boeing da Gol.
A rota de colisão deveria ser alertada por um equipamento chamado transponder. Segundo a Aeronáutica, o transponder do Legacy estava desligado. Um ano depois, ainda há dúvidas sobre como isso aconteceu. Os pilotos do jato dizem que não desligaram o equipamento. A Agência de Aviação Americana alega que a Embraer, fabricante do Legacy, errou ao instalar um descanso de pé no painel, próximo ao transponder. Um esbarrão involuntário poderia desligar o equipamento ou até mesmo mudar freqüências de rádio. Segundo a Embraer, isso é possível, mas é improvável. A empresa brasileira joga a responsabilidade para a Honeywell, fabricante do equipamento, que já tem histórico de recall da peça.
Responsáveis pelo acidente
Os pilotos do Legacy e quatro controladores de vôo do Cindacta-1 (Brasília) foram responsabilizados pelo acidente. Os seis são acusados de atentado contra a segurança de transporte aéreo, com agravante pelas mortes, conforme denúncia do Ministério Público aceita pela Justiça.
O acidente da Gol foi o segundo maior desastre aéreo registrado no país em número de vítimas. Em julho deste ano, mais um acidente chocou o país. Durante pouso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um avião da TAM não conseguiu frear e bateu no prédio da TAM Express, causando a morte de 199 pessoas.
Os dois graves acidentes ocorridos em menos de um ano, somados à crise nos aeroportos e aos motins de controladores, foram determinantes para a queda do ministro da Defesa Waldir Pires e mudanças na cúpula da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
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