O acordo que livrou o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) de perder seu mandato no plenário da Câmara na quarta-feira à noite indignou membros do Conselho de Ética e líderes da oposição. E mais: surgiu no cenário político como um sinal verde para novas absolvições, que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) chamou de valerioindulto. Estão na fila de cassações da Câmara, respondendo a processos por quebra de decoro, 11 deputados que receberam dinheiro do esquema montado pelo PT e o empresário Marcos Valério de Souza para alimentar os partidos aliados.
A frente de políticos montada para salvar o petebista mineiro envolveu ministros, governador e líderes de partidos de deputados acusados de caixa dois. Os ministros mineiros Walfrido Mares Guia (PTB), do Turismo, e Saraiva Felipe (PMDB), da Saúde, atuaram ostensivamente junto à bancada mineira. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), também deu uma ajuda ligando para vários deputados.
Acusado de receber R$ 452.812 do valerioduto, Queiroz foi absolvido por 250 votos contra sua cassação, 162 votos sim, 22 abstenções, oito votos em branco e um nulo. Em sua defesa, o petebista disse que repassou os recursos para o partido e para candidatos no interior de Minas.
Confiante na absolvição, antes mesmo da contagem dos votos, na noite de quarta-feira, Queiroz anunciava que teria perto de 300 votos contra a cassação, mais de 50 só do PT.
- Sou um deputado que tem muitos amigos na Casa. A grande maioria do PT votou comigo, mais de 50 - vangloriou-se o deputado.
- O Queiroz disse que a bancada de Minas votou fechada. Deputados de todos os partidos votaram contra a cassação. Ele me disse que o Aécio ajudou muito - disse o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE): - O Walfrido veio trabalhar contra a cassação porque é amigo do Romeu. Mas eu não participei de qualquer acordo com os petistas. Lógico que o pessoal que está no Conselho de Ética (respondendo a processo) está querendo mostrar que está ajudando.
PSDB integra articulação
Um dos que mais se esforçaram foi o deputado Professor Luizinho (SP), acusado de receber R$ 20 mil do valerioduto. Ele circulou pelo plenário de forma espalhafatosa, anunciando o acordo para salvar Queiroz.
- Vamos votar contra a cassação - disse, tentando convencer o companheiro deputado Luiz Couto (PT-PB), que ficou mudo diante da abordagem.
O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), insinuou que ao menos três parlamentares que estão na mesma situação de Queiroz - cujos assessores fizeram os saques - podem ser absolvidos. Ele citou, além de Luizinho, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-ministro Roberto Brant (PFL-MG).
- São casos bem semelhantes. Sei que houve pressão das mais diversas. Mas o Romeu Queiroz é uma figura simpática, é amigo de todo mundo e soube fazer direitinho o processo político eleitoral - disse Izar.
Um dia depois do corpo-a- corpo, Walfrido Mares Guia ontem defendeu Queiroz:
- O Congresso fez justiça. Eu o conheço há 35 anos e sei que ele não tirou qualquer tipo de vantagem de nenhuma natureza - disse Mares Guia.
Para ajudar Queiroz, Mares Guia passou os últimos dois dias despachando no Congresso, na sala da presidência da Comissão de Defesa do Consumidor, presidida por Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), um dos defensores Queiroz. A articulação envolveu parte do PSDB. Coincidentemente, depois de dois meses parado na Corregedoria, ontem, no mesmo dia da votação de Queiroz, o corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) recomendou o arquivamento do processo movido por Sandro Mabel (PL-GO) contra a tucana Raquel Teixeira (PSDB-GO).
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