A divulgação da lista de 34 parlamentares investigados sob suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras agravou ainda mais a já combalida relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Base aliada e oposição preveem uma temporada de derrotas significativas para o governo a partir desta semana, quando serão apreciados os vetos presidenciais e projetos polêmicos, como a política de reajuste do salário mínimo.
Os parlamentares acusam o governo de tentar transferir para o Congresso a crise política provocada pela Operação Lava Jato. Alguns, entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de receber do esquema, acusam o Planalto de interferir diretamente na lista encaminhada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. “Essas digitais do governo são visíveis. Não dá para não perceber isso”, diz o vice-líder do PMDB na Câmara, Manoel Júnior (PB).
Em meio a panelaço, Dilma pede união e evita falar da Lava Jato
Em pronunciamento em cadeia nacional neste domingo (8) por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a presidente Dilma Rousseff pediu união do povo brasileiro, defendeu as medidas de arrocho fiscal adotadas pelo governo e anunciou a lei do feminicídio, que será sancionada nesta segunda-feira (9). Apesar de ter se reunido na tarde deste domingo com o núcleo político do Palácio do Planalto para discutir internamente os desdobramentos da Lava Jato, durante todo o discurso Dilma evitou falar do assunto.
Leia a matéria completaNo PMDB, partido do presidente da Câmara e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) – que também está na lista de suspeitos –, a insatisfação é generalizada. “O governo, para sair do olho do furacão, está jogando tudo para o Congresso. Ninguém vai aceitar isso”, diz Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
O peemedebista prevê que a CPI da Petrobras, comandada por seu partido, pode aprovar novos requerimentos de convocação, prejudicando o governo. Ele também acredita que o ministro Cid Gomes (Educação) enfrentará ainda mais dificuldade ao comparecer à Câmara na próxima quarta-feira para se explicar por ter dito que a Casa tem “de 300 a 400 achacadores”.
“Os indícios de uma estratégia do governo são muito claros. O Congresso está identificando isso. Ninguém está satisfeito. A tendência é o Congresso demonstrar ao Planalto, à presidente, que essa estratégia de tentar colocar todo mundo na vala comum, não está dando certo”, afirmou Vieira Lima.
Oposição
Na avaliação dos parlamentares de oposição, o governo deve perder o controle sobre a situação no Congresso. Lembram que as investigações estão apenas no início e a expectativa é de que a lista dos investigados crescerá com a divulgação das novas delações premiadas. “Isso é só o trailer de um filme de terror que será exibido nos próximos meses”, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Na primeira semana após a divulgação da lista, senadores e deputados apreciarão vetos presidenciais, entre os quais o da correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo atua para evitar essa votação, mas alguns parlamentares dão como certa a derrubada do veto.
Se no Senado a pauta ainda é uma surpresa, na Câmara, Cunha quer votar o projeto que mantém os critérios atuais de reajuste do salário mínimo e os estende para corrigir aposentadorias. A oposição acusa o Executivo de não dizer claramente qual correção a União suportaria bancar e de jogar para o Congresso o ônus de medidas indigestas, como do pacote de ajuste fiscal, que nem começaram a ser discutidas oficialmente nas comissões especiais. “É um momento bastante grave”, diz o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), comparando o atual cenário político com o período pré-impeachment de Fernando Collor e o estouro do escândalo do mensalão.
Outra resposta que o presidente da Câmara pode dar ao governo é atender ao pedido da oposição e criar uma CPI para investigar a crise do setor elétrico. Cunha diz ainda não ter examinado a questão e que sua resposta não se dará “através de ações desta natureza”.
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