Emparedado pela Operação Lava Jato e inimigo público número um quando tentou votar às pressas no Senado a Lei de Abuso de Autoridade e a versão desfigurada do pacote das “Dez Medidas Contra a Corrupção”. O desfecho de 2016 para Renan Calheiros (PMDB-AL) se reflete agora nas pretensões do parlamentar de se reeleger senador no ano que vem. E ajuda a explicar por que ele tem batido de frente com Michel Temer (PMDB). Vendo o mandato ameaçado, Renan tenta vender a imagem de antagonista de um presidente mergulhado em impopularidade.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas, realizado na semana passada, coloca Renan Calheiros apenas como terceiro colocado na briga pelas duas cadeiras de Alagoas no Senado que estarão em disputa em outubro do ano que vem. Ele aparece bastante distante do deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) e em empate técnico – mas atrás – do ex-governador e ex-senador Teotônio Vilela Filho (PSDB).
Confira os números da pesquisa sobre a disputa pelo Senado em Alagoas
O medo de se ver sem mandato e, consequentemente, sem foro privilegiado em meio à Lava Jato acendeu o alerta vermelho do parlamentar alagoano. E ele parece ter encontrado a saída na mesma pesquisa, que aponta uma desaprovação de mais de 70% de Temer em Alagoas e uma avaliação de 55% ruim e péssima para a gestão presidencial do peemedebista.
Nos últimos dias, Renan já demonstrou a estratégia que pretende utilizar: descolar sua imagem da de um governo extremamente impopular e, mais do que isso, se tornar uma voz antagonista a Temer dentro do próprio PMDB e também junto à população. Para começar, o parlamentar disse que o presidente foi infeliz no discurso do Dia Internacional da Mulher e acusou o governo federal de ainda sofrer influência do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB).
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Diante das declarações, Renan se reuniu com Temer por uma hora e meia no Palácio do Planalto, na noite da última quinta-feira (9), na tentativa de amenizar o clima entre os dois. Apesar do encontro, nesta segunda-feira (13), ele atacou a reforma da previdência e falou em “excessos” no texto proposto pelo Executivo.
Soma-se a isso tudo o favoritismo do ex-presidente Lula em Alagoas para voltar à Presidência da República a partir de 2019. Segundo a pesquisa, o petista aparece na casa dos 39% nos três cenários pesquisados – varia apenas o candidato do PSDB −, com mais que o dobro das intenções de voto em relação à ex-senadora Marina Silva (Rede), que figura em segundo lugar.
“Há um risco real de ele não se reeleger, além de o Lula estar muito na frente nas pesquisas. Por isso, ele (Renan) tem tomado essa postura mais crítica em relação ao Temer, também como forma de não perder esse eleitor petista, que é muito forte”, avalia Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas. “É o desespero que já começa a bater. Com esse desgaste tão grande, a Câmara dos Deputados passa a ser uma alternativa segura –não só para o Renan, mas para vários senadores em fim de mandato.”
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