O clima é tenso no Senado na manhã desta sexta-feira, depois de uma reportagem da revista "Veja" acusar o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), de aceitar favores das empreiteiras Mendes Junior e Gautama, esta última acusada de chefiar um esquema de fraudes em licitações desvendado pela Operação Navalha, da Polícia Federal. (Leia sobre a reportagem no Blog do Noblat)
A revista diz que a Gautama teria bancado a campanha de Renan ao governo de Alagoas em 1990 e que a Mendes Junior pagaria uma pensão de R$ 12 mil à filha de 3 anos que o senador teve com a jornalista Mônica Veloso, além de um aluguel de R$ 4.500 do apartamento de Mônica.
Renan não foi ao Senado. Esteve pela manhã numa audiência no Tribunal de Justiça do Distrito Federal com a jornalista Mônica Veloso e saiu de audiência sem falar com a imprensa.
A Construtora Mendes Júnior nega as denúncias. "Sobre os pagamentos mencionados, não existe, nem nunca existiu, qualquer participação da Mendes Júnior", diz a empresa em nota. A Mendes Junior nega também irregularidades de seus contratos com a Petrobras, Infraero e outros órgãos. "Sobre as insinuações a respeito de contratos da Mendes Júnior com a Petrobras, Infraero e outros declaramos que são instituições de visibilidade pública com as quais mantemos contratos objetivos, resultantes de concorrências, e que estão disponíveis de maneira ampla a qualquer inquirição concreta". Sobre o Ministério de Minas e Energia, a empresa diz não ter contrato algum.
Simon diz esperar explicações e pede cautela
O primeiro senador a se manifestar no plenário sobre as denúncias foi o gaúcho Pedro Simon (PMDB). O senador fez um discurso de mais de uma hora defendendo a moralidade e o resgate das instituições, mas foi bastante cauteloso ao comentar as denúncias contra o colega de partido. Simon disse esperar que Renan reúna a Mesa Diretora e dê explicações, mas pediu cautela.
O senador gaúcho lembrou que a revista "Veja" já cometeu equívocos no passado, como no caso Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), presidente da Câmara que teve seu mandato cassado por suspeita de irregularidades no rastro da CPI do Orçamento, em 1994. Dez anos depois, o jornalista Luís Costa Pinto, ex-editor de "Veja", fez um mea culpa reconhecendo que a movimentação nas contas de Ibsen eram equivalentes a US$ 1 mil, e não US$ 1 milhão, como publicado na época pela revista. Ibsen voltou à Câmara este ano.
Defesa
O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), saiu em defesa do colega de partido. Disse que a bancada peemedebista está solidária a Renan e que é precipitado falar em pedido de licença do cargo de presidente.
- Precisamos de alguns dias para entender a situação. Ele deve esclarecer tudo em um momento oportuno. Até que se prove a denúncia, a pessoa é considerada inocente - disse Raupp.
Nem o oposicionista Heráclito Fortes (DEM-PI) quis polemizar sobre as denúncias contra Renan:
- Estamos vivendo um momento de terrorismo, é preciso muito cuidado e apurar tudo até o fim.
O caso também repercute na Câmara. O presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse nesta quinta-feira que cabe a Renan dar explicações sobre suas supostas ligações com o lobista. Chinaglia disse que se a reportagem tivesse sido sobre ele, iria ao plenário se explicar.
- Evidentemente, qualquer homem público tem como parte de sua atividade o diálogo com a sociedade. Creio que o presidente do Congresso vai fazer isso - disse o petista.
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