Prossegue a sessão de julgamento do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", acusado de ser um dos mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005. O júri ouve as testemunhas de acusação. Entre elas, está uma missionária americana que trabalhou com a irmã Dorothy. Durante o depoimento, ela afirmou que a religiosa confirmou receber ameças.
Quem também prestou depoimento como testemunha de acusação foi o delegado da Polícia Federal responsável pelo inquérito realizado após a morte de Dorothy Stang. Segundo ele, a PF investigou a existência de um consório que manda matar as pessoas que atrapalham os negócios na área, denunciado pelos agricultores.
Durante o interrogatório, Bida negou envolvimento no crime.
- Não participei de crime algum - declarou o fazendeiro.
De acordo com o Ministério Público, Bida planejou o assassinato da missionária, executada com seis tiros no município de Anapu, no Oeste do Pará. Dorothy Stang defendia a implantação de um projeto de reforma agrária em uma área em que o fazendeiro reivindicava a posse.
Na denúncia, o Ministério Público afirma que o fazendeiro e o pecuarista Regivaldo Pereira Galvão pagariam R$ 50 mil pelo crime. Regivaldo, conhecido como "Taradão", aguarda em liberdade decisão de recursos para definição de seu julgamento.
lndagado sobre sua relação com Tato, Bida respondeu:
- Comprei uma fazenda dele em Anapu, mas não tinha nenhuma amizade com ele.
A sentença deve sair dentro de dois dias. Os outros três envolvidos no caso já foram condenados pela Justiça.
Segurança reforçada
Para a realização da sessão, o Tribunal de Justiça do Pará preparou um esquema de segurança especial. De acordo com a Coordenadoria Militar do Judiciário do Pará, cerca de 25 homens, entre militares e guardas judiciários, estarão a postos para manter a segurança e a ordem durante o julgamento, dentro do prédio e nos entornos do Tribunal do Júri.
O chefe da Coordenadoria Militar, coronel Mário Uchoa, acredita que as manifestações populares, pró e contra o acusado, deverão acontecer de forma pacífica, da mesma maneira como foi registrado nos dois primeros julgamentos.
A sessão está sendo presidida pelo juiz Raimundo Moisés Alves Flexa, da 2ª Vara Penal da Comarca de Belém. Na acusação atua o promotor de Justiça Edson Cardoso, com auxílio dos advogados Aton Fon Filho João Batista Gonçalves e Rosilene Silva, da Comissão Pastoral da Terra. Na defesa, estarão os advogados Américo Leal e Eduardo Imbiriba.
Na manhã da última sexta-feira, o Comitê Dorothy divulgou a programação organizada por várias entidades sociais para o período do julgamento. Centenas de pessoas estão acampadas em frente ao Tribunal do Júri, vindos de várias regiões do Pará, especialmente dos Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, onde irmã Dorothy atuava.
Irmão da missionária crê em condenação exemplar
O americano David Stang, irmão da vítima, está confiante numa condenação exemplar , mas ainda sem entender como funciona a Justiça brasileira.
- Quem manda neste país? É o povo ou são matadores profissionais como o Bida e o Regivaldo (Pereira Galvão, o outro acusado, que está solto)? Não falo só da minha irmã. Como pode matar 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás e nada acontecer? perguntou ele.
O irmão da missionária disse em português.
- É preciso que a justiça aconteça, por favor.
Para o coordenador do Comitê Dorothy o pedido refere-se não só com relação à morte de Stang, mas também às centenas de mortes no campo ocorridas nos últimos 30 anos. O último relatório da Comissão Pastoral da Terra mostra que 772 assassinatos no campo foram registrados no Pará nos últimos 33 anos.
O assessor da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Romeu Olmar Klich, acompanhará o julgamento do fazendeiro.
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