Belém, PA (Folhapress) – A contradição sobre o fato de a missionária Dorothy Stang ter ou não lido os versículos da Bíblia momentos antes de morrer nos depoimentos dos dois acusados de assassiná-la deverá agravar a pena, para o máximo de 30 anos, prevista para crime de homicídio duplamente qualificado.

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O julgamento, que começou na sexta-feira, foi retomado por volta das 9 horas de ontem, em Belém (PA). Os trabalhos foram abertos com a entrega dos autos do processo para promotoria e defesa. A previsão era que o julgamento terminasse por volta das 20 horas. Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, negou que a missionária tenha lido os trechos de Mateus – As bem-aventuranças. Ele disse que se sentiu ameaçado quando Stang mostrou a bolsa (uma pasta de plástico escolar) que ela levava no momento do encontro, e, por isso, atirou, afirmando aos jurados que agiu em própria defesa por achar que a freira carregava uma arma. O objetivo: abrandar a pena.

"Ela (Stang) estava com uma bolsa e disse que a arma que usava era essa (a Bíblia). Eu me senti ameaçado (quando a freira abriu a bolsa), saquei a arma e efetuei os disparos (seis) contra ela. Não me lembro quantos tiros dei’’.

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Mas o depoimento a seguir, de Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, desmentiu o de Fogoió. "Antes dos disparos, ela leu, sim, um capítulo de Mateus para o Rayfran.’’

Na sexta-feira, durante os debates da acusação e da defesa (três horas para cada um se pronunciar, e mais uma hora de réplica e depois tréplica), Fogoió chorou.

A cena ocorreu no momento que o promotor Edson Cardoso articulava a tese de acusação do crime, em que a freira utilizou a Bíblia como último recurso para demovê-lo de apertar o gatilho do revólver 38, enquanto Eduardo olhava a cena impassível.

Pena máxima

"A penalidade vai ser a máxima porque ontem (sexta-feira) o Rayfran deu um depoimento com o qual o próprio colega dele de empreitada criminosa discorda. Rayfran negou uma evidência’’, disse o promotor, ao apontar a contradição nas falas dos dois acusados de matá-la, ontem, no julgamento.

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Para o promotor, a manobra tem um único objetivo: "reduzir a penalidade e desqualificar o crime para homicídio’’.

"Ele decidiu mudar justamente esse ponto (que trata da Bíblia), pois era única forma de ele tentar algum proveito técnico, orientado pela defesa. É tipo aquele paciente que está em fase terminal em uma UTI e o médico diz que não tem mais jeito, mas faz uma cirurgia para desencargo da consciência. Ele se retratou nos depoimentos anteriores, mas agora sacramentou sua condenação’’, disse Cardoso.

O trechos que Stang teria lido foram: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos’’; "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus’’ e "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus’’.

Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro deste ano, em Anapu (oeste do Pará). Além de Fogoió e Eduardo, são acusados pelo crime Amair Feijoli da Cunha, o Tato, apontado como intermediário, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, acusados de ser os mandantes.