O governo federal quer fazer hoje mais uma jogada ousada no xadrez das relações exteriores do Brasil. Com o dilema da extradição do italiano Cesare Battisti no colo e dois dias após receber a visita do controverso presidente do Irã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende conseguir a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul. O tema deve ser votado hoje no plenário do Senado, após o Planalto postergar a votação por três vezes, por temer não contar com o número de votos necessários.
O adiamento também se deve às declarações polêmicas do presidente venezuelano, Hugo Chávez. No dia 8, ele conclamou os militares do país a se preparem para uma guerra contra a Colômbia. Posteriormente, o venezuelano negou que tenha tido essa intenção.
Para que a votação do protocolo ocorra, é preciso a presença de 41 dos 81 senadores. A aprovação depende de maioria simples, e o governo conta com pelo menos 54 senadores na base aliada. O texto já foi aprovado pela Câmara.
Os oposicionistas sabem que não têm número suficiente para barrar a entrada do país vizinho que se juntaria à formação original do bloco, ao lado de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. "O ideal seria retirar de pauta, pelo menos até o restabelecimento de uma situação condizente com o Estado democrático de Direito na Venezuela", diz o senador Alvaro Dias (PSDB-PR).
Alvaro e o colega tucano Flávio Arns dizem que votarão contra o protocolo de adesão. "Pensamos no país e no povo, mas, neste momento, é muito difícil apoiar o ingresso do país no bloco", opina Arns. Osmar Dias, que tem ensaiado uma aproximação com o PT, de olho nas eleições de 2010, disse que votará a favor. "Hugo Chávez não vai governar para sempre", alega.
Mesmo que o Senado brasileiro aprove a entrada da Venezuela no bloco, isso não vai ocorrer imediatamente, pois é preciso o aval de todos os países, e a discussão no Paraguai está travada o assunto foi retirado da pauta do Senado, onde a maioria, oposicionista, não concorda com a iniciativa.
O principal argumento do governo brasileiro para a aprovação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul é financeiro. O Planalto espera que a integração aqueça ainda mais as trocas comerciais do país com o Brasil. Com uma economia voltada para o petróleo, os venezuelanos precisam importar cerca de 70% de tudo o que consomem. As exportações brasileiras já conseguiram um bom espaço no país vizinho: entre 1998 e 2008 passaram de US$ 706,2 milhões para US$ 5,1 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O crescimento foi de 7,3 vezes, contra uma média geral de aumento das exportações nacionais de 3,9 vezes no mesmo período.
"Do ponto de vista econômico, o ingresso da Venezuela é muito positivo", observa Renato Baunmann, diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Segundo ele, o fornecimento de petróleo e gás interessa muito aos estados brasileiros do Norte e do Nordeste apesar de o país venezuelano estar passando, atualmente, por uma crise energética.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), no entanto, minimiza as vantagens econômicas que podem advir da entrada do país de Hugo Chávez no Mercosul. Segundo o diretor-executivo da instituição, José Augusto Fernandes, os acordos do Mercosul com a Comunidade Andina já garantem um bom acesso ao mercado venezuelano. Além disso, pesa contra a Venezuelan as decisões antidemocráticas do presidente Chávez, como o fechamento de órgãos de imprensa.
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Interatividade
Os parlamentares devem pesar o fato de a Venezuela ser comandada por Hugo Chávez para definir a entrada do país vizinho no Mercosul? Ou analisar que Chávez não comandará a Venezuela para sempre e que a integração pode atrair bons negócios para o Brasil?
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