Curitiba Médico infectologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Vicente Amato Neto diagnosticou, em 1982, o primeiro caso de infecção por HIV transmitido com certeza dentro do país (até então, os diagnósticos eram de pessoas que moravam fora do Brasil e voltaram contaminados). Em entrevista à Gazeta do Povo, o médico insiste que as campanhas do governo não deveriam ser calcadas apenas no uso da camisinha e defende a parceria fixa nos relacionamentos.
Quando o senhor ouviu falar em aids pela primeira vez?Eu tomei conhecimento pela primeira vez quando um cidadão, um costureiro, de Uberlândia, que estava morando em São Francisco, voltou ao Brasil e morreu de uma doença que enfraquecia o sistema imunológico. Em junho de 1982 eu diagnostiquei o primeiro caso de aids por HIV transmitida sem dúvida dentro do país.
O senhor se preocupa com o aparecimento de um HIV mais resistente?O HIV resistente já existe. Alguns pacientes não respondem mais aos tratamentos conhecidos. Por vários motivos, o vírus se tornou resistente.Especialmente porque o indivíduo já infectado é sexualmente promíscuo ou quando a pessoa abandona ou não tem boa disciplina no tratamento.
Quais as dificuldades enfrentadas para se obter uma vacina contra o HIV? Existem vários mecanismos que podem ser usados para criar a vacina, isso dificulta o trabalho, mesmo que cada pesquisador use um mecanismo diferente. Há também o problema de modalidades do HIV. Não será fácil fazer uma vacina polivalente, com os vários tipos.
Existem correntes que acreditam que o HIV não causa aids, o que o senhor acha disso?Já está tudo demonstrado. A composição do vírus, como ele infecta o indivíduo, todo o mecanismo da doença está bem conhecido. É muito triste pessoas afirmarem que o HIV não tem relação com a aids sem respaldo científico.
Como o senhor vê o futuro da aids no mundo?É difícil de falar em tempo. Já percebemos que não estamos em condição de acabar com a doença. Então passamos para uma situação chamada de redução de risco. Evitar a troca de parceiros, é uma maneira, por exemplo, de reduzir o risco. Os programas de governo calcam as campanhas exclusivamente no uso da camisinha. Disso eu discordo. Um estudo aqui no Brasil mostra que 60% a 65% das pessoas que conhecem a eficácia da camisinha não a usam. O relacionamento sexual não é uma farra, não é uma brincadeira, e na imensa maioria das vezes é isso que acontece. Há uma troca muito grande de parceiros. Em certas situações, como a parada gay e o carnaval, há uma distribuição imensa de camisinhas. Não está havendo restrição ao relacionamento sexual vulgarizado. Pode ser que minha opinião não seja adequada. Mas eu acho que a linha em termos de combate do governo poderiam ser um pouco mais diversificadas, e não só calcadas na camisinha.
Qual o grupo que procupa mais no risco de contágio da doença?Os adolescentes e jovens até 20 anos estão muito visados. Esse pessoal entra no relacionamento sexual de uma forma muito voluntariosa. Agem por pulsões sexuais, sem conhecer os riscos. Na campanha da Unaids, os adolescentes estarão sendo prioritários na luta.
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