Operação Xeque-Mate
Gravações da PF indicam que Lula sabia da ação de Vavá
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O advogado Benedicto de Tolosa Filho, que representa o irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, disse na tarde desta terça-feira (5) que o teor do telefonema que coloca Vavá como um dos investigados da Operação Xeque-Mate, da Polícia Federal, é "uma conversa de amigo".
Segundo Tolosa, a conversa ocorreu há três meses entre Dario Morelli Filho, um dos presos na operação, que teria ligado do Mato Grosso do Sul para a casa de Vavá, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
De acordo com o advogado, a gravação é o único motivo que fez a PF ir à casa do irmão do presidente com um mandado de busca e apreensão e indiciá-lo por tráfico de influência e exploração de prestígio. "É uma ligação de qualidade ruim, é uma conversa de amigo, não é comprometedora", informou o advogado.
A afirmação de que a gravação mostra uma ligação entre Vavá e Morelli vai contra a afirmação feita pelo filho de Vavá, Edison Inácio da Silva, na noite de segunda-feira.
Na ocasião, Edison disse que o telefonema teria sido entre o pai e Nilton César Servo que é acusado pela PF de comandar um dos grupos que controla o jogo em Campo Grande e foi preso nesta terça-feira. Tolosa disse ainda que, apesar de amigos há muitos anos, a relação entre Morelli e Vavá ultimamente só acontecia por telefone.
Os dois se conheceram, segundo o advogado, quando Morelli trabalhava como assessor na Assembléia Legislativa de São Paulo e Vavá era presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) de São Bernardo do Campo. "Ele não sabe nem por onde o Dario anda. A relação é só por telefone", disse Tolosa.
De acordo com ele, o irmão do presidente só foi indiciado por causa deste único telefonema que colocou o número da casa de Vavá na lista obtida pela Polícia Federal após quebra de sigilo telefônico dos 77 presos por suspeita de envolvimento com contrabando, tráfico de drogas e exploração de caça-níqueis. "Não teve nenhuma quebra de sigilo telefônico do Genival. Entenderam em um primeiro momento que ele poderia ter intercedido para liberar alguma coisa para este pessoal (da máfia), o que não se comprovou", afirmou o advogado.
Confortável
Tolosa não quis apontar a quem interessaria uma possível complicação judicial do irmão do presidente, mas disse que "fica evidente que o indiciamento dele é para mostrar uma posição confortável para o presidente, que mostra que o irmão foi investigado. Mas até ele (Vavá) se fortalece porque não tem nada com isso."
O advogado disse que apenas três documentos foram levados pelos policiais federais da casa de Vavá: dois currículos e uma carta, que seria um pedido de emprego para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), feito por uma pessoa desconhecida. Tolosa negou o tráfico de influência. A prova disso, segundo ele, é que o Vavá não encaminhou nada para o senador. "Se ele tivesse esse poder, não estaria nessa encrenca."
O advogado disse que o depoimento tomado na casa do irmão do presidente foi gravado. Vavá, segundo ele, não assinou o documento, nem tirou as impressões digitais. Mesmo assim, Tolosa disse que o depoimento tem validade. Ele contou que fala a todo momento com seu cliente, que está "tranqüilo e seguro de que não tem envolvimento".
Segundo o advogado, Vavá, que há dois anos foi operado de varizes nas pernas, se prepara para, nos próximos dias, fazer uma cirurgia na região da bacia para corrigir problemas nas articulações.
Xeque-Mate
A operação deflagrada nesta segunda-feira prendeu 79 pessoas, segundo a Polícia Federal. Cerca de 600 agentes cumprem 87 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão em seis estados: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Rondônia e Minas Gerais.
Em Mato Grosso do Sul, 56 pessoas foram detidas. Entre elas estão nove policiais civis e três oficiais da Polícia Militar. Eles são suspeitos de receber propina para não coibir as atividades dos criminosos.
As investigações começaram há cerca de seis meses. Os policiais usaram informações de dois inquéritos para chegar aos nomes dos suspeitos. O primeiro era para apurar o contrabando de componentes eletrônicos para uso em máquinas caça-níqueis.
A quadrilha era suspeita de importação ilegal de peças, exploração de jogos de azar e de corrupção de agentes públicos - principalmente policiais. O outro inquérito era sobre o possível envolvimento de policiais em tráfico de drogas.
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