Dois escritórios de advocacia de Curitiba estão sendo investigados na nova fase da Operação Lava Jato por supostamente intermediarem pagamentos de propina. O escritório Sacha Reck e Guilherme Gonçalves Advogados teria contratos frios com o grupo Consist, pivô da 18.ª fase da operação, batizada de Pixuleco II. A sociedade não existe desde 2013: os dois sócios decidiram montar escritórios separados.
Defendeu a senadora Gleisi Hoffmann (PT) na campanha do ano passado para o governo do estado e também o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Ratinho Jr. (PSC) na corrida pela prefeitura de Curitiba em 2012.
A sociedade não existe desde 2013: os dois sócios decidiram montar escritórios separados. Agora, ambos são alvos de investigação. Segundo a PF, o escritório também prestou serviços ao PT.
O escritório de Reck e Gonçalves seria uma das empresas indicadas pelo operador Alexandre Romano para receber recursos oriundos de desvios efetuados por empresa do grupo Consist, que atua na área de informática. Tanto o novo escritório de Gonçalves quanto o de Reck foram alvo de mandados de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (13).
De acordo com o despacho de prisão temporária do ex-vereador Alexandre Romano (PT), assinado pelo juiz federal Sergio Moro, o escritório Guilherme Gonçalves & Sacha Reck Advogados recebeu cerca de R$ 6,2 milhões de empresas do grupo Consist entre 2010 e 2014.
Após o desmembramento do escritório, de acordo com o despacho, a sociedade Gonçalves, Razuk, Lemos & Gabardo – de propriedade de Gonçalves – teria recebido mais R$ 957 mil da Consist Business Software “a título de honorários advocatícios”. Os pagamentos ocorreram entre maio de 2014 e março de 2015.
Ao todo, o grupo Consist teria desviado R$ 52 milhões. Além do escritório curitibano, outros dois escritórios de advocacia, um de Porto Alegre e outro de São Paulo, consultorias e empresas de investimento também receberam parte deste dinheiro. A maior fatia, porém, foi destinada à Jamp Engenheiros, do delator Milton Pascowitch – cerca de 20%.
Campanhas eleitorais
Os sócios do escritório curitibano investigado na Lava Jato são bastante conhecidos no meio jurídico paranaense. Gonçalves é presidente do conselho consultivo do Instituto Paranaense de Direito Eleitoral, e atuou na defesa de diversos candidatos ao longo dos últimos anos – incluindo Gleisi Hoffmann (PT), na última campanha eleitoral, e Ratinho Jr. (PSC), na campanha municipal de 2012. Já Reck foi advogado do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp).
De acordo com Moro, “não está claro que os dirigentes desses escritórios participaram conscientemente da fraude ou de crimes supostamente perpetrados pela Consist e por Alexandre Romano, mas a busca é necessária para esclarecer a causa desses pagamentos e o destino desses valores”.
Através de nota, Gonçalves declarou que “prestou serviços de advocacia, consultoria e assessoria jurídica, devidamente documentados, para a empresa, conforme está firmado em contrato, e está em total cooperação com a Polícia na investigação, tendo facultado acesso a todos os documentos relativos a essa prestação de serviço”.
Já Reck declarou as supostas irregularidades não envolvem contratos gerenciados pelo seu escritório atual. De acordo com o advogado, havia um acordo entre ele e Gonçalves que, apesar da sociedade, cada um cuidava de uma área específica e de clientes específicos – no caso, os contratos com a empresa Consist seriam de responsabilidade do seu sócio. A informação foi confirmada pelo escritório de Gonçalves, que disse que “a prestação de serviços foi feita diretamente por ele e sua equipe”.
Gleisi, também através de nota, declarou que conhece o advogado de sua militância no partido e de três campanhas eleitorais que fizeram juntos (2008, 2010 e 2014), mas que desconhece suas relações comerciais. A senadora disse, ainda, que o pagamento por todos os serviços prestados constam nas declarações feitas à Justiça Eleitoral e ressaltou que o advogado é “conceituado e referência em direito eleitoral no Estado do Paraná, atendendo a vários partidos e candidatos”.
Nova frente
De acordo com o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, o uso de escritórios de advocacia para mascarar repasses de propina é uma nova frente a ser investigada na operação. “O que nos parece aqui é que podemos estar diante de um novo modelo dentro da Lava Jato. Nós tivemos empresas de consultoria, tivemos desvios através de empresas de publicidade e propaganda, empresas de fachada de modo geral e de uma forma constante aparecem aqui escritórios de advocacia”, explica. “Isso é uma frente a ser explorada”, disse o delegado.
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