O advogado do colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, Sérgio Alambert, disse ao G1 que ainda nesta quinta-feira (4) entrará na Justiça Paulista com pedido de transferência de seu cliente para São Paulo. "Estou vendo se consigo removê-lo", disse. De acordo com o advogado, o pedido se baseará no fato de existirem outros presos estrangeiros que aguardam extradição na carceragem da Polícia Federal na Lapa, Zona Oeste.
"Existem outros presos na mesma situação dele que estão aqui", afirmou. Além disso, explicou, o colombiano teve a prisão preventiva decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para efeitos de extradição, o que não determina que ele fique em um presídio de segurança máxima como o de Campo Grande.
"Mas vamos ver. Também há questões políticas envolvidas", ponderou Alambert, referindo-se à afirmação de que Abadia seria um dos maiores traficantes da atualidade.
Preso em São Paulo em 7 de agosto, o colombiano foi transferido ao presídio de segurança máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, em 11 de agosto. Na quarta-feira (3), ele voltou à capital paulista para depor no processo em que responde por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção ativa e passiva.
Abadia também foi ouvido por promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e pela corregedoria da polícia civil sobre supostas tentativas de extorção por policiais paulistas. De acordo com Alambert, o colombiano negou as denúncias. "Ele disse que dele não pegaram nada", contou.
Ainda segundo o advogado, o depoimento de Abadia se encerrou por volta das 21h30 e, em seguida, ele voltou para Campo Grande, no avião da Polícia Federal.
Delação premiada
Na quarta-feira, os advogados do colombiano formalizaram pedido para receber o benefício de delação premiada. Abadia aceitou contar detalhes sobre como age um importante cartel da Colômbia no Brasil, desde que tenha pena reduzida. Antes de receber resposta das autoridades brasileiras, ele prestou três depoimentos em São Paulo.
Nas cinco horas em que ficou diante do juiz, o homem considerado um dos maiores traficantes de drogas do mundo admitiu que trouxe dinheiro de fora para o Brasil. Para o Ministério Público Federal (MPF), é uma confissão de lavagem de dinheiro, pois nada foi declarado à Receita federal (RF).
Diferentemente do que havia dito à Polícia Federal (PF), Abadia negou que tenha pago propina a policiais de Foz do Iguaçu (PR) para falsificar passaportes.
R$ 2 milhões
O traficante colombiano foi ouvido também pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) sobre denúncias contra policiais civis de São Paulo. Integrantes da quadrilha do colombiano disseram que foram seqüestrados por policiais e que tiveram que pagar mais de R$ 2 milhões para serem libertados.
Para o MPF é mais um indício que pode haver uma lista de colaboradores que ajudaram o traficante colombiano a ficar três anos no país sem ser incomodado.
Suspeitos
Dois delegados estão sob suspeita: Irani Guedes de Barros e Pedro Porrio. Em nota, o delegado Pedro Porrio negou as acusações e afirmou que "está com a consciência tranqüila". O delegado Guedes Barros também negou as acusações e falou que, se for necessário, "vai colocar à disposição suas informações bancárias e fiscais".
Aos promotores, Abadia não confirmou nem desmentiu as denúncias. Ele ficou em silêncio.
"Se ficar comprovada a participação de qualquer policial ele será exemplarmente punido", disse o promotor do Gaeco, Artur Lemos Pinto.
Réu confesso
O advogado Luiz Gustavo Battaglin Maciel, um dos defensores de Juan Carlos Ramires Abadia, o "Chupeta", informou que seu cliente já confessou em depoimento os crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Outro advogado de defesa do traficante, Sérgio Antônio Alambert, afirmou o colombiano negou os crimes de corrupção ativa cometidos no país.
Abadia falou ao juiz Fausto Martins de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, durante cinco horas seguidas. Segundo Alambert, foram apresentados fatos novos que, no futuro, podem vir a ser tratados como delação premiada. Entre esses fatos, estariam ainda dados para a localização de parte da fortuna pessoal do colombiano, estimada em US$ 1,8 bilhão.
A primeira parte do depoimento foi encerrada pouco antes das 20h. Além do juiz, acompanharam a confissão a procuradora do MPF, Thaméa Danelon Valiengo, e os promotores estaduais Artur Lemos, Márcio Cristino e Roberto Porto.
O traficante negou ter sido extorquido por policiais de São Paulo. Segundo denúncias, agentes do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) teriam exigido dinheiro para soltar pessoas ligadas ao colombiano. O corregedor geral da Polícia Civil de São Paulo, Francisco de Souza Campos, disse que as denúncias são graves e estão sendo investigadas.
Lanche
Entre os depoimentos, o advogado levou um lanche para o traficante. De acordo com ele, Abadia emagreceu dez quilos no presídio federal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde está detido desde 11 de agosto. O traficante reencontrou nesta quarta a mulher dele, Yessica Paola Rojas Morales. Eles ficaram em celas separadas, mas conversaram rapidamente.
Eugênio Malavasi, advogado de Yessica, disse que a mulher negou todos os fatos.
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