Entrevista
"Quando o PT tucana, ele vai bem", diz senador
Aécio Neves, senador pelo PSDB.
Prestes a assumir a presidência nacional do PSDB, o senador Aécio Neves promete apresentar até o final do ano uma agenda para o país para os próximos 20 anos. O objetivo, de acordo com ele, é comparar as gestões tucanas com as do PT.
O senhor pretende estabelecer uma marca forte para o partido?
O PSDB vai iniciar uma nova fase de organização interna e de mais interlocução com a sociedade. O PSDB vai sair conversando com o Brasil para ouvir e apresentar, até o fim do ano, uma nova agenda para os próximos 20 anos.
Quais os pontos principais?
Ela passa pela recuperação de valores éticos e morais que o PT permitiu que se perdessem; passa pela defesa intransigente da democracia e repulsa absoluta por qualquer ato de cerceamento da liberdade de imprensa ou limitação das ações do Supremo e do Ministério Público. E passa pela rediscussão dos programas sociais. Vamos resgatar nossa história, mostrar que a matriz da transferência de renda é do governo do PSDB, e dar um passo além.
O que é esse passo além?
É defender, por exemplo, a aplicação de 10% do orçamento em educação, o que acontecerá gradualmente, para investir em qualificação. O slogan do governo hoje é "país rico é país sem miséria". Para nós, país rico é país com educação. E educação com qualidade, o que não avançou no governo do PT. Vamos também resgatar os pilares fundamentais da economia, que o PT manteve no início, mas veio flexibilizando. Meta de inflação num governo do PSDB será no centro da meta. No governo do PT, é uma meta virtual.
Qual a maior fragilidade que o senhor aponta no governo Dilma?
A ineficiência. A presidente foi eleita como a mãe do PAC, a grande gestora. Como filho feio não tem pai nem mãe, ninguém mais fala nisso. E se há uma carência grande hoje é de gestão. O Brasil não anda porque o governo é paquidérmico e não tem foco. O governo do PT parece se contentar com a administração da pobreza. Para nós, o objetivo é a superação da pobreza.
Qual a dificuldade de disputar com uma presidente com popularidade alta, baseada em emprego e renda?
Realmente temos pleno emprego no Brasil, mas mais de 90% dos empregos criados na era PT são empregos até 2,5 salários mínimos. Isso é importante, mas é pouco.
Que mensagem levará ao povo?
Vamos fazer uma campanha de valores, mostrando, a partir de nossas experiências, que nós, quando governamos, fazemos melhor. Mostrar que os acertos do PT foram sempre aqueles em que ele se apropriou das ideias do PSDB: programas de transferência de renda, pilares macroeconômicos, concessões de petróleo e gás e, agora, a modernização dos portos, com o objetivo correto pela via equivocada. Resumo da ópera, quando o PT "tucana", ele vai bem; quando o PT sucumbe ao seu viés autoritário, o Brasil vai mal.
Tucanos se reúnem hoje, a partir das 9 horas em Brasília, para a convenção que vai eleger a nova executiva nacional do partido. A presidência ficará com o senador mineiro Aécio Neves, que assume o PSDB com a tarefa de pavimentar sua candidatura à presidência da República em 2014. Antes disso, porém, caberá a ele unificar a legenda, dividida entre os seus apoiadores e a ala paulista, simpática a uma nova candidatura do ex-governador José Serra.
Como forma de aplacar os ânimos, Aécio abriu espaço na executiva a pelo menos dois "serristas" os paulistas Mendes Thame, como secretário-geral, e Alberto Goldman, como um dos vices. Com as duas indicações, o tucano espera selar uma trégua na divisão que assombra o partido, com a constante ameaça de boicote à sua candidatura por parte de José Serra.
Segundo aliados do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o acordo para o preenchimento dos cargos foi fechado após conversa entre Alckmin e Aécio na última terça-feira, em Brasília. No dia seguinte, Aécio foi acordado por um telefonema de Serra que definiu os últimos acertos da chapa. "A nossa agenda agora é outra", diz o mineiro, acrescentando que ao PT interessa "administrar a pobreza", e ao PSDB, superá-la.
Confraternização
Ontem Aécio confraternizou com a bancada de deputados federais tucanos em uma tradicional churrascaria de Brasília. O almoço foi organizado pelo líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio. Cerca de 30 parlamentares participaram da confraternização e, segundo eles, o clima foi de descontração e animação. Aécio mostrou-se entusiasmado com a eleição deste sábado para comandar a legenda.
A bancada dos deputados tucanos esteve bastante envolvida nesse processo de negociação e, para alguns parlamentares, a presença de Aécio no almoço foi um gesto de agradecimento. Um dos principais interlocutores de Serra, Alberto Goldman terá status de coordenador dos vice-presidentes na executiva nacional do PSDB. A função é uma das novidades a serem formalizadas com a eleição de Aécio para a presidência do partido.
A indicação de Goldman para coordenar o grupo de vice-presidentes está inserida em dois contextos. O primeiro é o de dar ao partido em São Paulo espaço privilegiado na direção nacional, já que a presidência ficará com Minas Gerais. O segundo é reduzir o clima de tensão entre Serra e Aécio, uma vez que Goldman é um fiel escudeiro do tucano paulista. Ele foi vice de Serra no governo paulista.
Em aberto
Embora Aécio já tenha sido anunciado como pré-candidato da sigla à Presidência por lideranças do PSDB, Alckmin disse que a escolha do senador para comandar o partido não significa que ele vá ser o candidato tucano em 2014: "Nós temos vários bons candidatos, mas essa decisão deve sair no final do ano".
O governador paulista se mostrou satisfeito com a nova composição da executiva. "São Paulo, com certeza, vai estar bem representada na vice-presidência, na secretaria-geral, na secretaria do partido, entre os membros da executiva. O Brasil é um país continental, são 27 estados, então você vai procurar compor uma direção nacional, em que todas as regiões estejam representadas", afirmou.
Partido da base governista, PDT pode se aliar a tucanos
Agência O Globo
Caciques do PSDB condicionaram o apoio à candidatura do deputado federal Miro Teixeira (PDT) a governador do Rio a uma aliança nacional que garanta palanque ao senador Aécio Neves, pré-candidato a presidente.
Para os tucanos, não interessa apenas uma coligação regional, já que a prioridade é a eleição presidencial de 2014. Em troca, o PSDB abriria mão de lançar nomes em pelo menos três estados, além do Distrito Federal, onde apoiaria o nome do deputado federal Antônio Reguffe (PDT) ao governo. O PDT integra a base de apoio da atual presidente Dilma Rousseff (PT), que deve concorrer à reeleição.
Bastidores
Enquanto tucanos e pedetistas não chegam a um acordo, os dois candidatos trabalham nos bastidores. Miro Teixeira e Aécio Neves se encontraram na terça-feira, durante um almoço. O encontro virou tema durante a reunião da executiva nacional do PDT, na última quarta-feira, em Brasília. De acordo com o pedetista, que disputará convenção caso não seja escolhido nas prévias, seu partido está disposto a conversar sobre apoios nacionais, e Aécio tem caminhado muito próximo à legenda.
"Foi um encontro entre amigos, mas não deixamos de falar de política. Embora haja uma aproximação com Aécio, isso também não impede de conversarmos com outros amigos, como Marina Silva e o governador Eduardo Campos (PSB), além de estudarmos a possibilidade de candidatura própria. Vamos avaliar os nomes dos senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT)", disse Miro, que aponta julho como prazo para o partido definir um caminho a ser seguido.
O PSDB e o PDT no Rio possuem fortes ligações. Parte do ninho tucano é formado por ex-pedetistas, que migraram para o partido após desentendimentos com o ex- presidente e fundador do PDT, Leonel Brizola. Segundo Miro, a convivência entre tucanos e pedetistas não encontra resistência.
Em caso de recusa do PDT, os tucanos do Rio estudam duas outras hipóteses: lançar um nome que não tenha histórico na política ou optar pelos deputados Otavio Leite (federal) e Luiz Paulo Corrêa da Rocha (estadual).
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura