Aécio: “Ninguém me convence de que quem rouba e assalta o Estado pode ser igual a um cara que recebeu 100 pratas para se eleger”.| Foto: Lula Marques/Agência PT

A festa pelos 50 anos de carreira do jornalista Ricardo Noblat, que hoje assina um blog no jornal O Globo, realizada na noite de terça-feira (8), reuniu em Brasília algumas das principais lideranças do país (incluindo o presidente Michel Temer) e terminou com um desabafo sobre o que será do país com o avanço da Lava Jato: “Haverá espaço para uma saída política? Ou vamos considerar que todo mundo é bandido e abrir espaço para um aventureiro salvador da pátria ? A solução é na política. Tudo que foi construído para salvar a política vamos deixar que se perca numa briga insana? Botando todo mundo junto no mesmo barco?”, questionou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que é citado nas investigações por uso de caixa 2 da Lava Jato.

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Já na madrugada desta quarta-feira, quando a festa caminhava para o final, o ex-petista e agora deputado do PSol Chico Alencar (RJ) abraçou Aécio e beijou a mão do mineiro: “Você é do bem”, disse Alencar – considerado um dos parlamentares que mais defende a ética no Congresso.

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O erro da esquerda

Entre mea culpa e autocríticas mútuas, Aécio e Chico colocaram na mesa suas angústias com os rumos da política nacional. Aécio argumentou que a solução para a crise que os partidos enfrentam hoje por causa da Lava Jato está na política e que não se pode deixar que tudo se perca por uma briga insana que nivela no mesmo patamar quem assaltou o estado e quem pegou recursos de caixa 2 para bancar um mandato. Ele ainda questionou o colega parlamentar se a esquerda não sabia de tudo o que estava ocorrendo.

Chico Alencar reconheceu que a esquerda errou ao não enxergar o tamanho do lamaçal em que se meteu quem operou o Estado nos últimos anos. “A esquerda errou demais. A gente questionava. A gente sabia que tinha muita coisa errada, tanto é que em 2005 nós saímos do PT”, disse o deputado do PSol. Porém, ele afirmou que não se sabia que a corrupção havia chegado “nesse nível”.

Dois pesos, duas medidas

Durante a conversa, Aécio se mostrou inconformado que as investigações nivelem quem usou recursos das doações para enriquecer e quem usou para financiar campanhas políticas: “Chico, ninguém me convence de que quem rouba e assalta o Estado pode ser igual a um cara que recebeu 100 pratas para se eleger, ser colocado no mesmo bolo. Está ficando tudo igual. Não dá para misturar Chico”.

“Vai me dizer que no tempo de FHC isso não acontecia?”, questionou Chico Alencar. Aécio rebateu: “Não existia essa coisa institucionalizada. Na campanha de 2104, o principal assessor do Edinho Silva [tesoureiro da campanha de Dilma] tinha uma empresa que usou o cadastro do Bolsa Família para disparar torpedo de celular para beneficiários em todo país dizendo que se o ‘13’ [Dilma Rousseff] não ganhasse, seriam automaticamente retirados do cadastro do programa. Eu podia não ser o melhor candidato, mas disputei uma eleição que era impossível ganhar. Isso vai aparecer aí no processo do TSE”.

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Pacto nacional

Aécio lembrou que em 2005, no auge do mensalão, era governador de Minas Gerais e se posicionou contra o impeachment do ex-presidente Lula. E o PT acabou ficando mais dez anos no poder. “Não que eu me arrependa, mas naquele momento não tinha clima”, justificou Aécio.

“A era Lula não foi uma desgraça, mas a Dilma não tinha capacidade política”, observou Chico Alencar, perguntando a Aécio qual seria sua proposta de saída para essa hora dramática da política brasileira. Aécio respondeu que não enxerga saída fora da política e brincou com o adversário da arena política: “Vamos fazer um partido político nós dois”.

“Vamos nos exterminar? Nós não podemos nos matar mutuamente. A saída não vai ser por aí não”, disse Aécio. “Nem nos proteger. Sem sentar e conversar não tem solução. Enquanto isso, a população está achando que somos o cocô do cavalo do bandido. Temos que fazer um novo pacto nacional”, respondeu Chico Alencar.

Movimento pela Presidência

Um dos parlamentares que assistiram à longa conversa dos dois concluiu que Aécio resolveu fazer um contraponto ao movimento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na segunda-feira (6) se colocou como pré-candidato a presidente em 2018: “O Aécio saiu da toca. Estava encorujado. Como diria Nenêm Prancha, filósofo do futebol: quem pede recebe e quem se desloca tem preferência”.