A Aeronáutica divulgou na noite desta quarta-feira imagens que mostram o pouso do vôo 3054 em Congonhas. Elas indicam que a aeronave, que escapou da pista e explodiu dentro do prédio da TAM Express, estava com velocidade acima do normal: levou 3 segundos para desaparecer da tela da Infraero, bem menos do que os 11 segundos considerados normais.
Mas a maior tragédia da aviação brasileira terá de esperar por explicação. Embora a análise da caixa-preta deva ser feita em 30 dias, a Aeronáutica fala em um prazo de 10 meses para concluir as investigações .
179 corpos encontrados
Nesta quarta, as causas do acidente do vôo 3054 , que explodiu dentro do prédio da TAM Express com 186 passageiros a bordo, depois de sair da pista de Congonhas, dividiram com o trabalho de busca de corpos o cenário de dor e destruição que tomou conta de São Paulo. Até 20h30, foram localizados 179 corpos nos escombros, num trabalho acompanhado por dezenas de curiosos. Doze foram identificados por familiares no IML.
Segundo os bombeiros, 70% dos destroços já foram vasculhados. A primeira vítima a ser enterrada foi o empresário Osvaldo Luiz de Souza.
Lotação total e mais uma criança de colo
O Airbus 320 decolou do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no limite de segurança para pousar em Congonhas. Segundo a TAM, 100% dos assentos estavam ocupados e havia ainda uma criança de colo. O peso da aeronave, de 62,7 toneladas, correspondia a 98% do exigido para pousar em segurança nas condições de tempo apresentadas ontem no aeroporto paulista. Chovia há dois dias em São Paulo. Um dia antes, um turboélice da Pantanal deslizou na pista e atolou na lama, sem feridos.
De acordo com o vice-presidente operacional da TAM, Alberto Fajerman, a aeronave é composta de 174 assentos comercializáveis e 11 reversíveis - ou seja, que podem ser adequados para o transporte de tripulação - totalizando 185 lugares. Mas a ocupação foi de 186 pessoas, pois havia uma criança de colo que não necessitou de assento próprio. Por isso, disse o executivo, não houve excesso de lotação.
Segundo a TAM, o plano de vôo para pouso em Congonhas foi aprovado e não houve qualquer relato de problemas feito pelo piloto. Tampouco, segundo a companhia, havia razão para problemas no avião, que passou por revisão no dia 13 de junho passado. De acordo com o vice-presidente técnico da TAM, Ruy Amparo, o livro de bordo do vôo foi assinado pelo comandante em Porto Alegre, sem nenhum registro de problemas ou panes
Suspeitas sobre a pista
A pista de Congonhas é citada como possível causadora do acidente pela simples seqüência de fatos: dois acidentes em dois dias. Nos dois, chovia. Recém-reformada, ela entrou em operação dia 29 de julho desprovida de grooving, que são milimétricas ranhuras que permitem a drenagem da água.
- Por contas dos acidentes, a suspeita recai primeiro sobre as condições da pista, mas é preciso muita serenidade. Muita gente disse que os pilotos do Legacy estavam fazendo acrobacias para testar o avião e não tinha nada disso. É preciso analisar antes - disse Adalberto Febeliano, da Associação Brasileira de Aviação Geral.
A Infraero negou que o Airbus da TAM tenha sofrido uma aquaplanagem na aterrissagem, mas o brigadeiro Kersu Filho, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), optou pela cautela e afirmou que só a investigação poderá indicar se houve ou não aquaplanagem.
- Só uma investigação vai dizer se foi falha humana ou mecânica, se houve ou não derrapagem. Vamos apurar se a tripulação estava em boas condições físicas, se o equipamento (avião) estava em ordem - disse o brigadeiro.
Segundo ele, a pedido da torre de controle foi feita uma inspeção e os técnicos concluíram que não havia uma lâmina de água superior a 3 mm, o que determinaria a suspensão de vôos.
Kersu Filho disse que se a pista não tivesse condições de operação, a Infraero não seria irresponsável de manter os aviões pousando e decolando.
- Não existe condições de derrapagem na pista atual. Ela segue padrões internacionais de geometria e caimento - afirmou.
Grooving e aderência
Perguntado se a falta do grooving poderia ter provocado uma derrapagem da aeronave, o superintendente da Infraero afirmou que as ranhuras melhoram a aderência dos pneus, principalmente na chuva.
- Mas a pista tem boas condições de operações. Toda quinta-feira é feito um teste de aderência de pneus e o último mostrou que a pista estava normal, dentro dos padrões - disse.
Os serviços de grooving devem começar apenas no fim deste mês e a previsão é que fique pronto em setembro. O superintendente explicou que as ranhuras só podem ser feitas depois que o asfalto novo seca totalmente. O início do grooving estava previsto para o final de julho. Ele disse que todas as autoridades estavam cientes de que o processo de grooving só poderia ser feito depois de o asfalto curar.
Investigações
O Cenipa vai levantar dados de onde a aeronave tocou no solo, em que ponto saiu da pista, como se desgarrou e foi parar no prédio da TAM. As caixas-pretas serão analisadas a partir de segunda-feira nos Estados Unidos. O prazo de análise é de 30 dias. A investigação, porém, pode durar até 10 meses, segundo a Aeronáutica.
Na caixa estão gravações das conversas dos pilotos e de dados do vôo e da aeronave, incluindo posição do manche, velocidade, rotação do motor e funcionamento de equipamentos, por exemplo. Segundo especialistas, essas informações são suficientes para determinar as causas do acidente.
Há ainda a suspeita de que o Airbus da TAM pousou com velocidade excessiva em Congonhas e, por isso, não teria conseguido frear dentro do limite da pista. Segundo o comando da Aeronáutica, a velocidade estava acima do normal e o avião saiu da tela da Infraero em 3 segundos, contra os normais 11 segundos.
A investigação sobre o maior acidente da história da aviação brasileira não ficará limitada às autoridades da aviação. O Ministério Público Federal pediu à Justiça o fechamento do aeroporto até o fim das investigações e o Ministério Público Estadual também acompanhará o inquérito aberto no 27 Distrito Policial . A Polícia Civil já começou a ouvir testemunhas. O Instituto de Pesquisa Tecnólogicas (IPT) foi contratado pelo Cenipa para ajudar nas investigações.
Acidente acontece dez meses depois de outra tragédia
O acidente ocorre 10 meses depois do acidente com o boeing da Gol, que matou 154 pessoas, depois de explodir no ar, atingido por um jato Legacy.
O Aeroporto de Congonhas voltou a operar nesta quarta. O primeiro vôo decolou 6h54. Apenas apenas auxiliar está em operação. Ela é mais curta do que a principal, onde ocorreu o acidente, e não permite aviões de grande porte ou com peso excessivo. A pista principal deve permanecer fechada até sexta -feira.
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