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Obama e Michelle ao embarcar para o Chile: norte-americano "ganhou" os brasileiros ao se referir ao Brasil como um parceiro do "mesmo nível" dos EUA | Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Obama e Michelle ao embarcar para o Chile: norte-americano "ganhou" os brasileiros ao se referir ao Brasil como um parceiro do "mesmo nível" dos EUA| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

      Ele falou de futebol, visitou favela e o Cristo Redentor. Até se esforçou para usar palavras em português e mostrar conhecimento sobre a história e a cultura do Brasil. Em uma visita de apenas dois dias, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conseguiu usar o charme pessoal para corresponder à empatia idealizada pelos brasileiros – e fez disso um componente mais relevante do que o anúncio de medidas práticas, como a formalização do apoio ao pleito por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Uni­­das (ONU).

      "Obama mostrou de novo que é um excelente comunicador e sintonizou seu discurso perfeitamente para os brasileiros", diz o professor Argemiro Procópio, do Instituto de Relações Interna­­­cionais da Universidade de Brasília. Para ele, o ponto alto da viagem foi o tom utilizado pelo norte-americano ao se referir ao país como um parceiro do "mesmo nível". "Um sujeito negro, com o poder que ele tem de dizer isso na nossa casa, esvazia a turma do 'Yankee, go home!'."

      A opinião é compartilhada pelo ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer. Ele explica que, em primeiro lugar, toda visita presidencial é cercada por um conteúdo simbólico. A de Obama, segundo Lafer, foi marcante porque ocorreu antes de a presidente Dilma Rousseff (PT) visitá-lo nos Estados Unidos. "Isso já é por si só uma visão de reconhecimento e apreço pelo Brasil."

      Em segundo lugar, Lafer afirma que a oportunidade serviu para explorar as convergências e "trabalhar" as diferenças entre os dois países. "A presidente colocou com muita clareza as posições brasileiras na área econômica, industrial. Além disso, expôs os temas das barreiras a produtos brasileiros como etanol, algodão, aço, suco de laranja."

      Sobre a reivindicação por espaço no Conselho de Segurança, Lafer diz que Obama não fugiu do assunto. "Ele colocou bem a necessidade de que o órgão precisa de uma reforma." Além disso, o ex-ministro destaca que houve avanços em temas práticos, em especial na área de tecnologia e inovação.

      Já o diplomata Rubens Bar­­bosa, que foi embaixador brasileiro nos Estados Unidos e Inglaterra, enaltece o pragmatismo no diálogo entre Dilma e Obama. "O saldo da visita é bastante positivo porque os entendimentos focaram em temas de interesse mútuo como petróleo, o acordo de cooperação espacial, cooperação em terceiros mercados e o tratado para facilitação de comércio. Os temas foram abordados objetiva e pragmaticamente e terão resultados a médio prazo", opina.

      Bush e Lula

      Apesar do tom "comemorativo" dos elogios de Obama ao Brasil, principalmente os que se referiram à maturidade democrática do país, o professor Argemiro Procópio lembra que o republicano George W. Bush também se preocupou em manter uma relação amistosa com o ex-presidente Lula. Em 2005, o petista recebeu o colega com um churrasco na Granja do Torto. Dois anos depois, o brasileiro foi o primeiro chefe de Estado latino-americano a ser recebido oficialmente na casa de campo presidencial de Camp David.

      "Ninguém se dá conta, mas muito da dificuldade de aproximação entre Lula e Obama se deveu ao fato de Lula ter mantido uma empatia muito forte com o Bush. E Bush, para o Obama, é o mesmo que FHC para Lula", diz Procópio. A tese de que a gestão Bush não foi tão ruim para o Brasil pode ser comprovada em números da balança comercial entre os dois países.

      Entre 2001 e 2008, o Brasil registrou superávits que variaram entre R$ 1,3 bilhão (2001) e R$ 9,8 bilhões (2006). Em 2009, primeiro ano de Obama na Casa Branca, houve déficit de R$ 4,4 bilhões e, além disso, a China se transformou no maior parceiro econômico dos brasileiros. Em 2010, o déficit subiu para R$ 7,7 bilhões e, em 2011, há chance de os norte-americanos serem superados pela Argentina em volume de negócios com o Brasil.

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