A Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso anunciou nesta terça-feira a troca de comando na Polícia Militar em Rondonópolis, onde uma simulação de seqüestro resultou na morte de uma criança e deixou outras dez pessoas feridas. Na ação, pelo menos uma das armas tinha balas de verdade ao invés de festim. De acordo com o secretário de Segurança, Carlos Brito, a mudança no comando serve para que "não pairem dúvidas a respeito das investigações".
O tenente-coronel Wilquerson Felizardo Sandes foi comunicado à tarde de sua exoneração do Comando Regional, que é responsável pela segurança de 20 municípios da região sul de Mato Grosso, onde fica o Batalhão de Rondonópolis. Ele será substituído pelo coronel Pedro Sidney Figueiredo de Souza. O comandante do batalhão de Rondonópolis, major Wilker Soares Sodré, também foi exonerado.
- Até hoje ainda não tínhamos uma informação segura do que realmente aconteceu e da situação na cidade. Com as informações levantadas pela Corregedoria em Rondonópolis, pudemos dimensionar a situação. Achamos por bem providenciar a troca disse Brito.
O comando da PM ainda não sabe para onde vão os dois ex-comandantes. É provável que sejam transferidos para Cuiabá, onde ficarão exercendo atividades administrativas nos quartéis. Sandes disse ter recebido a exoneração "com tranqüilidade".
- Eu acredito que esta troca seja o melhor para a comunidade. Atende a um desejo da população - disse o tenente-coronel.
Testemunhas para simulação
A Polícia Civil de Mato Grosso vai pedir ajuda a testemunhas para reconstituir a simulação do acidente. Uma celebração religiosa marcou nesta terça pela manhã o reinício das aulas na escola Princesa Isabel, onde estudava o garoto Luiz Henrique Dias Bulhões, de 13 anos, que morreu com um tiro na cabeça durante a simulação. Outras cinco pessoas da escola se feriram. Quatro são alunos e passam bem. Já a professora Purcina Adriano Ferreira, de 33 anos, corre o risco de ficar cega de um olho. A escola anunciou que um psicólogo será designado para acompanhar as crianças atingidas.
- Fizemos uma acolhida religiosa para alunos e professores. Todos aqui na comunidade escolar estão com um sentimento de ausência muito grande. O Luiz Henrique era querido demais - disse o diretor da escola, Adevaldo Rodrigues Carvalho.
O ato religioso reuniu cerca de 200 pessoas, entre pais alunos, professores, além dos principais diretores da Secretaria Municipal de Educação. Na última segunda-feira, a escola permaneceu fechada em luto pela morte do garoto e em solidariedade aos feridos.
Uma das crianças liberadas, Lindessany, de 9 anos, voltou para casa, mas não consegue se livrar da lembrança do cenário de guerra.
- Sempre escuto os tiros - contou a menina, que foi atingida no quadril.Tiro saiu de arma calibre 12
A Polícia já sabe que saiu de uma das armas calibre 12 usadas pela PM o tiro que matou acidentalmente o guarda mirim Luís Henrique.
- É evidente que, se os tiros fossem de festim, não teriam ultrapassado os alvos que estavam afixados ao vidro traseiro do ônibus. Agora, como realmente veio a ser munição real, acabou tanto passando pelo alvo de papel bem como pelo vidro, que acabou quebrando e veio a atingir as pessoas - declarou o delegado regional de Rondinópolis, João Pessoa.
O delegado responsável pelas investigações espera apenas o resultado da perícia em Cuiabá das três escopetas calibre 12, que dispararam os tiros, para fazer a reconstituição da ação dos policiais militares dentro do ônibus. Pessoa não descarta a possibilidade de que um tiro só tenha matado o adolescente e ferido os outros moradores.
- São munições que se espalham. Considerando a distância ali você vê que, realmente, uma arma só poderia fazer aquele estrago - afirma o delegado regional João Pessoa. - Para uma escopeta destas fazer o que fez, não é necessário mais de um tiro. Trata-se de uma arma muito temida por causa de seu poder de fogo disse.
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