Ao criar o 39.º ministério e empossar Guilherme Afif Domingos (PSD) no comando da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, a presidente Dilma Rousseff parece ter escrito o capítulo mais contraditório de seu governo em nome da chamada governabilidade. Afif também é vice do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e já disse que não pretende abrir mão do cargo, a não ser que haja ordem judicial. Oficialmente, o PSD garante que continua independente em relação ao governo federal. No entanto, a legenda admite que a tendência de apoiar Dilma em 2014 é grande.
Nesse cenário de uma esmagadora coalizão (veja infográfico), especialistas avaliam que a estratégia do PT para o ano que vem, ainda que seja "politiqueira e não política", está tendo sucesso. Tudo isso aliado ao momento em que a oposição entenda-se PSDB vive uma decadência, e outras correntes oposicionistas, como Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (sem partido), ainda estão se construindo. Por outro lado, no âmbito do Legislativo, a base heterogênea e grande demais tem causado muita dor de cabeça ao governo em votações polêmicas.
Arranjos partidários
A um custo anual de R$ 7,9 milhões aos cofres públicos, a nova pasta criada para o PSD terá no comando Afif Domingos, que, em 2009, chamou o PAC de "Plano de Abuso da Credulidade" e disse que Dilma não tinha "biografia política para comandar um país". Tamanha saia-justa já havia ocorrido em março do ano passado, quando Dilma chorou e pediu desculpas ao deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) por demiti-lo do Ministério da Pesca. No lugar, a presidente empossou o senador Marcelo Crivella (PRB), justificando que um governo de coalizão "impõe" medidas "em nome dos interesses do país" como demitir um aliado.
"Que tipo de lógica há nesse tipo de arranjo? Apenas a lógica de vantagens para determinados grupos", critica o cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR. Nesse sentido, explica o também cientista político Leonardo Barreto, da UnB, o PT vai montando um "baita chapão" para 2014, a ponto de se dar ao luxo de não precisar mais correr atrás de novos partidos aliados.
A atração de cada vez mais legendas para a base aliada, porém, tem gerado cada vez mais atritos nas votações de interesse do governo no Congresso o caso mais recente envolve a MP dos Portos. Soma-se a isso, diz Barreto, a inabilidade política da presidente de se relacionar politicamente. "Por mais que esteja montando essa geleia partidária, a Dilma é mais rígida no que se propõe a fazer. O Lula nunca quis criar embates, sempre fez a meia cancha com todo mundo", completa Lepre.
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