O analista de informação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), José Ribamar Reis Guimarães confirmou nesta quarta-feira (3), em depoimento reservado à CPI dos Grampos, que coordenou um grupo de 75 agentes do órgão na Operação Satiagraha. Em mais de três horas de encontro com deputados da comissão, que foram até a sede da agência ouvir Guimarães em sessão secreta, o agente afirmou ter recebido "ordem formal" de seu "mais alto escalão" para coordenar a participação de agentes para a investigação da Polícia Federal (PF). Dos 75 agentes, disse ele, 56 trabalharam em tempo integral na operação que resultou na prisão temporária do banqueiro Daniel Dantas.Segundo relato de deputados que participaram da sessão, Guimarães contou ter recebido ordem de José Milton Campana, à época diretor-adjunto da Abin, para atuar com o delegado Protógenes Queiroz. "Os agentes da Abin foram cedidos ao Protógenes e estavam desobrigados de fazer relatórios para seus superiores diretos", disse o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), reproduzindo relato do agente da agência.
Em seu depoimento à CPI, Guimarães também confirmou versão de outros integrantes da agência de que o então diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, tinha conhecimento da operação. Em depoimento à CPI, Lacerda negou participação formal da Abin na Satiagraha. "Tive de cumprir o que mandaram. Foi uma coisa totalmente atípica, que chegou picotada. Foi uma operação totalmente atípica. Não houve planejamento da operação. Infelizmente, a coisa chegou sem dizer como seria feita. Se falassem que seria uma operação de 60 dias não faria desse jeito", disse Guimarães, segundo relato dos deputados tucanos Wanderlei Macris (SP) e Gustavo Fruet (PR). O agente da Abin, disseram os parlamentares, chegou a chorar ao se referir ao desgaste e exposição que a instituição e colegas de trabalho têm sofrido.
Guimarães disse ainda acreditar que a Abin decidiu recrutar um coordenador da contra-inteligência, como ele, ao invés de um da área de inteligência, para evitar que a participação da agência na Satiagraha "vazasse", disseram os deputados. O agente da Abin disse que foram requisitados funcionários da Abin de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador para a Satiagraha. As superintendências das duas últimas capitais, no entanto, não disponibilizaram funcionários, alegando não ter disponibilidade de agentes.
O agente da Abin ainda relatou aos parlamentares que foram gastos cerca de R$ 42 mil (com alimentação e aluguéis) da verba secreta da agência na Satiagraha, além de outros pouco mais de R$ 337 mil com diárias e passagens. A Abin disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "a verba secreta é exatamente para ser empregada em questões operacionais". O presidente da CPI disse que o depoimento de Guimarães deixou claro que a Abin não respeitou as normas de inteligência e que está evidente que Lacerda "faltou com a verdade" ao depor na CPI.
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