O agente penitenciário C.R.L. coloca todos os dias seu uniforme de pedreiro para ir ao trabalho. São roupas velhas e sujas de tinta, que são trocadas assim que ele chega ao presídio. Esta foi a forma que C.R.L encontrou para tentar 'esconder' sua profissão e escapar dos ataques que já mataram seis de seus colegas nos últimos dez dias. Como ele, os 22 mil agentes penitenciários do estado estão assustados. Muitos estão mudando radicalmente seus hábitos e também de seus familiares para se proteger dos atentados.

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A primeira providência tomada por uma parte desses profissionais foi mandar a família para casa de parentes ou amigos em outros bairros e até cidades. Depois que criminosos roubaram fichários com nomes e endereços dos agentes durante as rebeliões, os alvos ficaram mais fáceis de ser encontrados. Além do sumiço de fichários do presídio de Campinas, o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do estado de São Paulo (Sisfuspesp) informa que os dados dos agentes desapareceram também em outras cadeias, como a de São Vicente, no litoral Sul de São Paulo.

- O medo é baseado em fatos reais - o sumiço dos fichários e as mortes de colegas - diz Daniel Antonio de Oliveira, assessor técnico da diretoria do Sisfuspesp.

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Os agentes que vão trabalhar de carro estão colocando um plástico preto sobre as placas. Segundo eles, parentes de criminosos ligados ao crime organizado estavam anotando os números, durante as visitas, e repassando aos detentos. Quem vai de ônibus, mudou o ponto onde costumava pegar o coletivo. Alguns se encontram e vão juntos, em grupo, para o trabalho.

- O jeito foi mudar a rotina. Já não vou mais ao trabalho sozinho. Ligo para um amigo. Não faço nunca o mesmo itinerário. Estou assustado. Se vejo um carro parado na rua com uma pessoa já fico preocupado. Temo porque o crime não tem rosto. Ninguém nunca sabe de onde vem - disse um agente que preferiu não se identificar.

Como muitos colegas, esse agente disse que mandou a sua família para outro estado, para evitar complicações.

- Além disso, se eu tiver que morrer, não quero que meus filhos e minha mulher presenciem nada - comentou.

Grupos de agentes vindos do interior, que trabalham e moram na capital em repúblicas, mudaram de endereço. Eles estão ficando hospedados em hotéis do centro, em vez de voltarem para suas comunidades.

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Mesmo ainda sem autorização legal, há vários agentes se armando na capital, assim como no interior do estado.

- Muitos companheiros estão tomando essa decisão diante da omissão do estado frente a esta situação - diz Daniel Oliveira, do Sisfuspesp.

Na semana que vem, os agentes penitenciários vão fazer uma assembléia para decidir como vão agir daqui para a frente. Mas a data e o endereço do encontro são mantidos em sigilo. Eles não querem chamar a atenção dos criminosos.

Rosalvo José da Silva, secretário-geral do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo (Sindasp), disse que a data e o local do encontro não serão divulgados por questão de segurança.

- Não vamos divulgar por uma questão óbvia. Não queremos ser atacados. Infelizmente, não podemos formar grupos para não expor os companheiros - disse Silva.

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Ele comentou que os agentes que têm arma legalizada estão andando com ela, mas ele acredita que a situação não vai se normalizar mesmo assim.

- Arma é uma defesa pessoal, mas não resolve o problema. Estamos em estado de sítio. O crime organizado ataca porque as pessoas estão indefesas. O estado, por sua vez, se omite e está, na verdade corroborando com o crime. O estado abandonou o sistema prisional durante anos e agora estamos pagando com a própria vida - disse o sindicalista.

O governador Cláudio Lembo disse que mesmo com o porte de arma autorizado, o estado não fornecerá revólveres aos agentes. Ele pediu ao banco Nossa Caixa que abra uma linha de crédito para que os próprios profissionais comprem seu equipamento.

- Eles não são policiais - disse o governador para justificar sua decisão.

Nesta sexta-feira, algumas unidades voltaram a suspender alguns serviços aos presos, segundo Silva. Ele disse que as visitas de familiares no final de semana estão suspensas porque os agentes estão de luto pela morte dos amigos. O sindicalista não descartou a possibilidade de os trabalhadores abandonarem o posto de trabalho na semana que vem se as mortes continuarem sem que o estado tome uma atitude para conter os criminosos.

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- Tem companheiro pedindo exoneração do cargo, com medo de morrer - afirmou.

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