Ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho abalou a República ao lançar o Palácio do Planalto para o centro do megaesquema de propinas operado pela maior empreiteira do país. As acusações começaram a vir à tona na noite desta sexta-feira (9).
Em delação premiada, o executivo cravou que parte do dinheiro prometido pela empresa ao PMDB foi pago em dinheiro vivo no escritório de José Yunes, amigo e assessor do presidente Michel Temer (PMDB).
Além de Temer, Melo Filho citou pelo menos outros 34 políticos, com destaque para caciques do PMDB e integrantes do núcleo duro do Planalto – Romero Jucá, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Moreira Franco, Rodrigo Maia, entre outros.
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LISTA: Saiba quem teria recebido propina e os valores
As cifras fariam parte de um repasse de R$ 10 milhões que o peemedebista teria negociado com o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht, em uma reunião no Palácio do Jaburu, em 20 de maio daquele ano, dois meses depois do início da Operação Lava Jato. Yunes e o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, seriam os responsáveis por receber o dinheiro.
As informações foram divulgadas inicialmente pelo site Buzzfeed News e pela revista Veja. De acordo com a revista, deputados, senadores, ministros, ex-ministros e assessores da ex-presidente Dilma Rousseff também receberam propina. A distribuição de dinheiro ilícito teria alcançado integrantes de quase todos os partidos com representação no Congresso.
Eliseu Padilha era o operador de repasses a Temer, diz delator da Odebrecht
Leia a matéria completaO delator teria apresentado e-mail, planilhas e extratos telefônicos para provar suas afirmações. Melo Filho também diz que foram destinados para a cúpula do PMDB do Senado aproximadamente R$ 23 milhões, sendo que Romero Jucá centralizava a arrecadação, e envolve ainda o candidato do partido para a presidência do Senado, Eunício Oliveira, chamado de “índio” pela companhia.
Os acertos financeiros teriam como objetivo além de estreitar relações conseguir aprovar propostas de interesse da Odebrecht no Congresso
De acordo com a Veja, uma das mensagens mostra Marcelo Odebrecht, o dono da empresa, combinando o pagamentos a políticos importantes, identificados por valores e apelidos como “Justiça”, “Boca Mole”, “Caju”, “Índio”, “Caranguejo” e “Botafogo”.
Estariam implicados na delação Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Jaques Wagner, Moreira Franco, Ciro Nogueira, Katia Abreu, Romero Jucá, entre ouros parlamentares e expoentes dos governos Temer e Dilma.
As revelações de Melo Filho, na avaliação de investigadores da Lava Jato, têm um peso especial porque durante muitos anos ele atuou como o “braço” da Odebrecht no Congresso e nos bastidores do Executivo federal. Ele era o contato da empreiteira com deputados e senadores.
Jucá, o homem forte no Congresso
Segundo a delação do ex-executivo, “todos os assuntos” tratados por ele no Congresso se iniciaram com o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Melo Filho conta que, na maioria das vezes, não precisava recorrer a mais ninguém, sendo orientado sobre quais passos tomar e quais parlamentares acionar pelo peemedebista. “Romero Jucá agia em nome próprio e do grupo político que representava, formado por Renan Calheiros, Eunício Oliveira e membros do PMDB. Jucá era o Líder do Governo no Senado [então nos governos do PT, mas hoje é líder do Governo Temer no Congresso] e, embora não falasse pelo governo, falava com o governo”, informa no texto da delação premiada.
O ex-vice presidente da empreiteira também disse que preferia iniciar suas tratativas para atender aos interesses da empresa pelo Senado. Fazia isso por preferir evitar as discussões na Câmara, “principalmente em razão do número de agentes e interesses, o que dificultava as tratativas”. Caso fosse necessário tratar com algum deputado, Melo Filho disse que recorria diretamente à “pessoa de contato dele dentro da empresa”, dando a entender que a Odebrecht mantinha empregados relacionados aos parlamentares.
Marcelo Odebrecht e a influência no Executivo
Segundo o delator, a partir de 2009 e 2010 - final do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva - , a entrada de Marcelo Odebrecht na diretoria da empreiteira fez com que as Medidas Provisórias (que são editadas pelo Executivo e posteriormente referendadas no Legislativo) passassem a ter mais valor para a empresa. “Acompanhávamos os pedidos decorrentes da ligação de Marcelo Odebrecht com o Poder Executivo. A partir daí, passei a tratar os temas preferencialmente com Romero Jucá, que exercia função de liderança e representação sobre os demais senadores, especialmente aqueles do PMDB”, informa o texto da delação.
TSE
A delação premiada de executivos da Odebrecht é vista como um risco para o presidente Michel Temer no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e investiga irregularidades na campanha presidencial de 2014. Há um temor no Planalto e no Judiciário de que os executivos da empreiteira levantem mais suspeitas sobre a origem das doações à campanha, fortalecendo a acusação de que houve abuso de poder econômico na disputa.
A colaboração da Odebrecht – cujos 77 executivos assinaram na semana passada delação com a força-tarefa da Lava Jato – pode atingir o TSE de dois modos. Caso a instrução do processo ainda não tenha sido dada como concluída, novos depoimentos podem ser solicitados e juntados como indicações a favor da acusação. Ainda que isso não seja feito, no entanto, há um receio de interlocutores de Temer de que haja uma contaminação política do julgamento pelo TSE.
Outro lado
O Planalto divulgou uma nota para rechaçar as informações da delação: “O presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho”, diz a nota. “As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente”, completa.
O senador Renan Calheiros (PMDB- AL) afirmou que “jamais credenciou, autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância”. Ele disse também a “chance de se encontrar irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais é zero”. O senador ressaltou ainda que suas contas já são investigadas há 9 ano e que não se produziu uma prova contra ele.
O ministro Eliseu Padilha divulgou nota em que se defende das acusações. “Não fui candidato em 2014! Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira! Tenho certeza que no final isto restará comprovado”, afirmou o ministro.
Moreira Franco, secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), também negou as acusações feitas por Claudio Melo Filho. “É mentira. Reitero que jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Claudio Melo Filho”, disse em nota.
O senador José Agripino (DEM-RN) disse que não foi candidato em 2014 e que desconhece e repele os fatos citados.
Já o senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirmou que desconhece a delação de Claudio Melo Filho e negou que recebesse recursos para o PMDB. O senador também esclareceu que todos os recursos da empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam no Senado. O senador reiterou que está à disposição da justiça para prestar quaisquer esclarecimentos.
A LISTA
A lista foi elaborada pelo site Jota.
1. Michel Temer (presidente da República)
R$ 10 milhões
2. Anderson Dornelles (ex-assessor de Dilma)
R$ 350 mil
3. Antônio Brito (deputado federal)
R$ 430 mil
4. Arthur Maia (deputado federal)
R$ 600 mil
5. Ciro Nogueira (senador)
R$ 5 milhões para campanhas do PP
6. Delcídio do Amaral (ex-senador)
R$ 550 mil
7. Duarte Nogueira (prefeito de Ribeirão Preto)
R$ 600 mil
8. Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara)
R$ 7 milhões
9. Eliseu Padilha (ministro)
teria negociado recursos para Temer
10. Eunício Oliveira (senador)
R$ 2,1 milhões
11. Geddel Vieira Lima (ex-ministro)
R$ 1,5 milhão
12. Gim Argello (ex-senador)
R$ 1,5 milhão
13. Inaldo Leitão (deputado federal)
R$ 100 mil
14. Jaques Wagner (ex-ministro)
R$ 9,5 milhões
15. José Agripino (senador)
R$ 1 milhão solicitado por Aécio Neves
16. Katia Abreu (senadora)
teria acertado ajuda financeira com Marcelo Odebrecht
17. Lúcio Vieira Lima (deputado federal)
entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão
18. Marco Maia (deputado federal)
R$ 1,3 milhão
19. Moreira Franco (secretário do governo Temer)
recursos para Temer
20. Renan Calheiros (senador)
teria sido beneficiado por parte dos R$ 22 milhões do PMDB
21. Rodrigo Maia (presidente da Câmara)
R$ 100 mil
22. Romero Jucá (senador)
teria nNegociado para o PMDB R$ 22 milhões
23. Romário (senador)
Foi pedida contribuição para sua campanha, mas a empresa não fez
24. Bruno Araújo (deputado federal)
Foi pedida contribuição para sua campanha, mas a empresa não fez)
25. Adolfo Viana (deputado estadual na Bahia)
R$ 50 mil
26. Lídice da Mata (senadora)
R$ 200 mil
27. Daniel Almeida (deputado federal)
R$ 100 mil
28. Paulo Magalhães Júnior (vereador em Salvador)
R$ 50 mil
29. Hugo Napoleão (deputado federal)
R$ 100 mil
30. Jutahy Magalhães (deputado federal)
R$ 350 mil
31. Francisco Dornelles (vice-governador do Rio)
R$ 200 mil
32. Carlinhos Almeida (vereador em São José dos Campos-SP)
R$ 50 mil
33. João Almeida (deputado federal)
R$ 500 mil
34. Rui Costa (governador da Bahia)
R$ 10 milhões
35. Paulo Skaf (presidente da Fiesp)
teria sido beneficiado com R$ 6 milhões da verba acertada com Temer
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