Aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estão atuando para intimidar os deputados que já se posicionaram publicamente pelo afastamento do presidente da Câmara ou estão envolvidos no processo de cassação do mandato do peemedebista no Conselho de Ética. Um interlocutor próximo a Cunha revelou ao jornal O Globo que, quando o PSol apresentou a representação contra o peemedebista, um grupo de deputados ligados a ele começou a levantar informações sobre seus opositores, dentro e fora do conselho.
Exemplo disso foi ação do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), que na terça-feira pediu à diretoria-geral da Câmara cópia de um processo referente a um procedimento instaurado por uma procuradora em 2014 contra o líder do PSol, Chico Alencar, que iniciou o movimento para levar Cunha ao Conselho de Ética. O procedimento em questão já foi arquivado.
Outro alvo dos aliados de Cunha é Júlio Delgado (PSB-MG), integrante do Conselho de Ética, e que também é investigado na Operação Lava Jato, por suposto recebimento de doações eleitorais com dinheiro desviado da Petrobras, acusação que ele nega.
Delgado foi interpelado esta semana por deputados próximos a Cunha e questionado sobre “quando” iria renunciar à sua vaga no conselho, pelo fato de, assim como Cunha, ser também investigado na Lava Jato. A abordagem foi recebida por Júlio como uma tentativa de intimidação.
“Eduardo Cunha tem denúncia apresentada ao Supremo, representação no Conselho de Ética, outra na Corregedoria da Câmara e não sai da presidência, e eu é que tenho que sair do conselho? Não vai ser essa intimidação que vai me impedir de cumprir o papel para o qual fui eleito no Conselho de Ética. Agora, estou pensando na imagem do Parlamento. Se ele fizer um gesto e sair da presidência da Câmara, eu saio do conselho”, afirmou o deputado.
Boatos
Chico Alencar, por sua vez, também já foi avisado por pessoas próximas de que o grupo ligado ao presidente da Câmara levantou informações para tentar constrangê-lo, como as doações que recebeu de funcionários de seu gabinete na campanha de 2014 e um processo de que foi alvo no mesmo ano. A intenção é disseminar as informações para tentar intimidá-lo.
Apesar de não integrar o Conselho de Ética, Chico Alencar acredita estar sendo alvo de disseminação de boatos para intimidá-lo por “vingança”, já que foi ele que mobilizou o PSol para que apresentasse o pedido de cassação do mandato de Cunha no conselho. “É uma tentativa vã de intimidar um partido que até aqui já fez tudo o que tinha que fazer, nem teria mais o poder de reverter nada no conselho. É um ato sujo de teatro do absurdo. E pode ser um tiro no pé, porque vai soar claramente como vingança e retaliação. Quem não deve não teme”, afirma Chico Alencar.
Para o deputado, apesar das pressões, o conselho deveria acatar a denúncia contra Cunha. Mas Chico Alencar não descarta a possibilidade de o colegiado arquivar o processo sem sequer debatê-lo. “Se decidir pela não procedência do processo, vai ser um escândalo nacional e depreciará ainda mais o Parlamento como um todo. Mas sei que esse não é um resultado impossível, dada a anestesia que parece impregnar a Casa em relação ao clamor público”, afirmou.
Na linha de frente das ações de intimidação estariam Paulinho da Força e André Moura (PSC-SE), além de outros deputados menos expressivos de partidos como o PHS. Eles negam estarem atuando para intimidar rivais de Cunha. “Não há nenhum trabalho sendo feito em relação a esses membros do conselho. A própria defesa do Eduardo vai falar mais alto e dar o conforto necessário para que os membros do conselho possam votar pela absolvição dele”, diz André Moura. “Não tem dossiê, eu não estou fazendo esse papel. A única coisa que a gente faz é tentar ver os votos, ter uma ideia de quantos são a favor e quantos são contra”, emenda Paulinho.
Procurado, Cunha reclamou das acusações e disse que elas tentam intimidá-lo: “Não tenho conhecimento disso, não falarei sobre ilações. Não adianta desmentir e publicam como fato. O melhor que eu faço é não responder a esse tipo de maldade”, afirmou por mensagens.
Cunha contratou para defendê-lo no Conselho de Ética o ex-ministro do STF Francisco Rezek.