Em uma manobra para defender o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado na Operação Lava Jato, a cúpula da CPI da Petrobras impediu a convocação de personagens que poderiam implicá-lo no esquema de corrupção e obteve a aprovação de requerimentos para pressionar a família do doleiro Alberto Youssef, principal delator contra o peemedebista.
Mesmo sem indícios que os envolvam no esquema, a CPI aprovou requerimentos do deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), aliado de Cunha, para convocar e quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico das duas filhas do doleiro, da sua esposa e da sua irmã.
Em sua delação premiada, Youssef afirmou que Cunha se beneficiava do esquema de corrupção na Petrobras e que, por meio de aliados, apresentou requerimento para pressionar uma das empresas a retomar o pagamento de propina. A Folha de S.Paulo revelou que Cunha aparece como autor dos arquivos digitais de dois requerimentos da ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) contra a empresa Mitsui, fornecedora da Petrobras.
Os requerimentos contra sua família têm o efeito de provocar exposição midiática e desgaste, além de pressionar o doleiro.
Também houve outra convocação que pode favorecer Cunha, do policial federal Dalmey Werlang, acusado de instalar uma escuta na cela de Youssef em Curitiba, o que poderia fragilizar as provas obtidas pela Polícia Federal.
A pauta da sessão da CPI foi montada pelo presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), homem de confiança de Cunha, que deixou de fora requerimentos para convocar três personagens relevantes: o empresário e delator da Lava Jato Júlio Camargo, que cuidava do contrato apontado como fonte da propina para Cunha, o ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira, que disse em depoimento ter entregue dinheiro para Cunha e depois recuou, e a ex-deputada Solange Almeida.
Acordo
O deputado Ivan Valente (PSol-SP) afirmou no início da sessão que foi descumprido um acordo para que esses requerimentos estivessem na pauta. Parlamentares do PT, PPS e PSB acusaram a CPI de blindagem e defenderam a votação. “É evidente que tem uma blindagem escancarada, um acordo partidário para não votar isso aqui”, disse Valente.
Até o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), classificou de “vergonhosa” a sessão caso não aprovasse essas convocações.
A CPI aprovou um bloco de 140 requerimentos, principalmente contrários ao PT e ao governo Dilma Rousseff, enquanto a sessão no plenário da Casa havia sido suspensa por Cunha.
Pouco depois da aprovação desse bloco, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu início às votações no plenário da Casa, o que regimentalmente impede que a CPI fizesse votações -justamente quando parlamentares defendiam aprovar os requerimentos prejudicais a Cunha.
Responsável por conduzir a votação já que o presidente Hugo Motta saiu mais cedo por ter compromisso familiar em seu Estado, o vice-presidente da CPI, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), disse que os requerimentos “serão incluídos em uma outra oportunidade”.
Imbassahy admitiu “sincronia” com Cunha para que a votação ocorresse na CPI. “O presidente Eduardo Cunha tem dado uma dinâmica em votação no plenário e também na CPI temos uma dinâmica muito intensa, então às vezes tem que fazer algum tipo de sincronia para que uma não atrapalhe a outra, talvez tenha acontecido isso”, afirmou.
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