Os partidos aliados ao governo estão mais interessados em atrair o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que na adesão do PT a uma eventual candidatura comum na eleição de 2010.
O entendimento das correntes próximas ao governo é que Lula ficou maior que o PT e que a sua orientação terá mais peso junto ao eleitorado.
No último fim de semana, o PT, em seu Congresso Nacional, manifestou o interesse de lançar candidato próprio, mas foi conciliador no texto final ao afirmar que construirá uma candidatura com outros partidos em torno de uma aliança programática capaz de ser vitoriosa em 2010.
As principais legendas que compõem a coalizão acham que é muito cedo para tratar do assunto e estão mais interessadas em disputar o apoio de Lula.
"A impressão que tive é que, embora o PT pretenda ter candidato, não fecha o diálogo para os partidos da coalizão", disse à Reuters o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
Ainda que a tese da candidatura própria tendesse a desgastar os ânimos da coalizão e provocar rachas internos com a antecipação do debate, PMDB e o núcleo do chamado Bloco de Esquerda (PSB, PDT e PCdoB) entendem que a decisão não reflete, necessariamente, a disposição de Lula, visto como um poderoso puxador de votos caso faça um bom segundo mandato.
Tanto o PMDB quanto o bloco também falam em candidaturas próprias. No primeiro caso, ainda não há nomes. O candidato dos sonhos do PMDB seria o governador mineiro Aécio Neves, que disputa com o paulista José Serra a indicação do PSDB. No bloco de esquerda, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é o mais cotado para representar o grupo.
O presidente Lula fomenta todas as potenciais candidaturas porque não deseja ver uma erosão na sua base de apoio. De acordo com interlocutores do Congresso, ele não teria gostado da nota de seu partido, redigida durante o Congresso do PT no último fim de semana, falando em candidatura própria a mais de três anos da eleição majoritária.
"Discutir sucessão presidencial agora é um desserviço ao país, pois temos que fazer o que pudermos para que o governo Lula dê certo. Ainda assim, acho que o PT tem todo direito de lançar um nome", afirmou Ciro Gomes.
"Dois cavalos"
Na avaliação de aliados do governo, a candidatura própria é a chance de partidos voltarem ao jogo político nacional. Eles sustentam a tese usando a trajetória do presidente como exemplo.
"Lula disputou no passado mesmo sabendo que ia perder. Nós, o bloco, o Democratas percebemos que o PT e o PSDB estão sempre no palco como protagonistas porque sempre disputaram eleição. Partido que disputa, tem cara. Quem não disputa, definha", disse um importante peemedebista, sob condição do anonimato.
Mesmo a quase um mandato da disputa nacional, sobram exercícios de futurologia. Além das apostas sobre quais serão os candidatos de 2010, políticos se arriscam a dizer como se comportará Lula.
"Lula vai usar o modelo Pernambuco, quando apoiou dois candidatos aliados para o governo do Estado, em 2006. Acho que ele vai apostar em dois cavalos em 2010", avaliou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
"O mais importante é ter o Lula. Não adianta brigar agora", acrescentou.
Na segunda-feira, um evento em São Paulo marcou a criação formal do Bloco de Esquerda. Em clima de campanha, Ciro Gomes foi tratado como candidato.
"O PDT vai sugerir acabar com o lançamento do bloco nos Estados. Precisamos ter cuidado para nós também não anteciparmos o debate e apanharmos antes da hora. Do contrário, todo mundo vai lançar nome e acaba o governo do Lula", argumentou Paulo Pereira da Silva.
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