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Imagem do abraço entre Lula, Haddad e Maluf chocou mais que a aliança do PT com o PP | Adriana Spaca/ Brazil Photo Press/ Folhapress
Imagem do abraço entre Lula, Haddad e Maluf chocou mais que a aliança do PT com o PP| Foto: Adriana Spaca/ Brazil Photo Press/ Folhapress

Foto de Lula e Paulo Maluf gerou constrangimento ao PT

No último dia 18, uma foto abalou o cenário político nacional: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprimentava Paulo Maluf (PP) e selava uma aliança em nome da candidatura de Fernando Haddad (PT) para a prefeitura de São Paulo. As reações foram piores do que o imaginado; a pré-candidata a vice-prefeita na chapa, Luiza Erundina (PSB), desitiu da indicação. Dias depois, pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que dois terços dos paulistanos rejeitaram a união.

A imagem chocou mais do que aliança. Isso porque o PT e o PP já eram aliados no plano federal desde o primeiro mandato de Lula. Além disso, o próprio Maluf já havia apoiado o PT em São Paulo anteriormente, no segundo turno das eleições de 2004 – quando Marta Suplicy (PT) perdeu para José Serra (PSDB).

Para o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira, o simbolismo da foto foi mais decisivo para as reações do que a aliança em si. "A história do PT foi construída em oposição à ditadura. Além de ser uma figura nefasta na política brasileira, Maluf foi também o candidato dos militares contra Tancredo Neves", relembra. "A foto despertou indignação não só da oposição, mas também de muitos militantes do PT, que nunca imaginaram o partido pagando um preço tão alto por uma aliança."

Pereira avalia que só o resultado das eleições poderá dizer se houve um erro político por parte do PT. Entretanto, ele acredita que o efeito da foto não pode ser subestimado. "Arrisco dizer que houve desgaste na reputação da legenda. Mostrou o PT como um partido igual a todos os outros", afirma.

Já Emerson Cervi, professor de Ciência Política da UFPR, diz que o PP tem tendência de orbitar em torno do poder, independentemente de qual partido esteja no comando. Exemplo disso é o apoio simultâneo ao governo federal e ao governo estadual paulista, hoje nas mãos do PSDB. A indignação da oposição em relação à aliança PT-PP ainda teria algo de exagerado, uma vez que, antes de fechar aliança com Lula e Haddad, Maluf foi cortejado por José Serra, principal adversário do PT na disputa.

A esperança dos tucanos nativos de manter a prefeitura de Curitiba sob a influên­­cia deles está nas mãos de um filiado a uma das legendas mais fiéis ao governo federal. Já os petistas apostam suas fichas em um ex-tucano, que ganhou destaque como um dos mais ferrenhos opositores ao governo Lula. Aliados, PSC e PCdoB vão para as eleições em uma dobradinha comunista-cristã. Também na disputa, um pupilo do ex-governador Jaime Lerner que ganhou a convenção do PMDB com o apoio decisivo de Roberto Requião. O quadro é confuso, mas é esse o cenário eleitoral de Curitiba em 2012.

Não se trata de algo específico da cidade. Alianças contraditórias se reproduzem por todo o país, começando pelo emblemático acerto de contas entre o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP).

O sistema político brasileiro favorece essas alianças, de acordo com o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira. Com um número alto de partidos com representatividade no Congresso, governantes necessariamente têm de fazer coalizões para conseguir governabilidade – o que ocorreu, por exemplo, na composição da base de apoio ao governo Lula.

Com eleições cada vez mais acirradas e dependentes do horário eleitoral da televisão, essas alianças ideologicamente inconsistentes passaram a ser feitas no processo eleitoral para que as candidaturas tivessem mais tempo no horário eleitoral gratuito, entre outros benefícios. Para Pereira, esse cenário força os políticos a cometer incoerências ao longo de sua trajetória para sobreviver no cenário político. "Muitos critérios que norteavam uma aliança perderam importância", afirma.

Já para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a aliança de antigos adversários para enfrentar um terceiro é algo comum nas principais democracias ocidentais. Entretanto, o caso brasileiro é peculiar já que, frequentemente, os adversários são ideologicamente mais próximos que os aliados. Fleischer avalia que a ideologia conta menos no Brasil do que em outros países – mesmo que ela já não seja um fator tão determinante no exterior também. Além disso, o fato de o quadro partidário brasileiro ser mais recente favorece esse tipo de incoerência.

Discurso

Apesar de a inconsistência ideológica atingir, em um grau ou outro, a maioria dos políticos do país, o atual prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), já deu sinais de que esse será um dos focos de sua campanha. No encontro que anunciou sua aliança com o PPS, Ducci posou diante de um cartaz dizendo "coerência", e criticou, ainda que de forma velada, a saída de Gustavo Fruet (PDT) do PSDB e sua aliança com o governo federal.

Para o professor de Ciên­­cia Política da UFPR Emerson Cervi, essa estratégia é arriscada. Primeiro porque a federalização da discussão pode não ser de interesse do eleitor, que tende a preferir debates mais locais. Segundo porque a própria candidatura de Ducci também tem suas incoerências, como, por exemplo, o fato de ele pertencer a um partido da base de apoio do governo federal e ter como vice uma das principais lideranças da oposição à mesma.

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