Alguns pesquisadores são contra o uso de cobaias por considerarem a prática cruel e dispensável. Outros acreditam que pesquisas com animais são importantes para a evolução da própria ciência. Polêmica à parte, a Justiça concedeu a um estudante o direito de não sacrificar ou dissecar animais em duas disciplinas do curso de ciências biológicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Apaixonado por animais e defensor da causa, o aluno do quarto semestre Róber Freitas Bachinski, 20 anos, afirma que foi movido pela ética. "É crueldade matar animais quando existem alternativas de ensino. Os animais sofrem e sentem dor, não acho que temos o direito de fazer isso", afirma. Ele conta que tentou conversar com a universidade antes de recorrer à Justiça. "Não quiseram me dispensar das aulas práticas e resolvi lutar pelos meus direitos. Não vou participar de algo que vai contra meus princípios", diz.
A liminar que beneficiou o estudante foi concedida pelo juiz cândido Alfredo Silva Leal Junior e é valida somente para as disciplinas de Bioquímica II e Fisiologia Animal. A dispensa não vale para o restante do curso. A universidade pretende recorrer da decisão.
"Vamos entrar com um recurso para tentar derrubar a liminar", explica o procurador federal Roberto Duarte Alvim, que representa os interesses da instituição de ensino. "Os animais usados para a pesquisa são criados especificamente para esse fim, não são capturados na natureza."
A substituição de cobaias por métodos alternativos é justamente a área à qual Bachinski pretende se dedicar. "Quero desenvolver métodos para substituir o uso de animais em pesquisas. A biologia é uma ciência muito bonita, esperava entrar no curso para estudar a vida, mas há muita morte", diz.
Segundo o estudante, muitas faculdades na Europa e Estados Unidos já aboliram o uso de animais em sala de aula. "A prática provoca uma falta de sensibilização nos alunos. No começo, muitos se sentem mal, mas depois acabam se conformando."
Currículo prejudicadoO diretor do Instituto de Biociências da UFRGS, Jorge Ernesto de Araújo Mariath, afirma que a atitude do estudante causou surpresa à universidade. "É uma ação que vai contra a própria formação do aluno, contra seu currículo", afirma Mariath.
As disciplinas teriam justamente o objetivo de fazer os alunos entrarem em contato com organismos vivos. Para Mariath, pode até haver outros métodos de ensino, mas um biólogo precisa conhecer o funcionamento de um organismo vivo. Ele lembra que existe um comitê de ética na universidade que avalia quando é necessário o uso de animais em sala de aula.
"Tudo é feito dentro dos preceitos éticos, não estamos brincando com os animais. Não existe nenhuma matança indiscriminada, pelo contrário, tudo é feito com o maior cuidado e respeito", afirma. "Nenhum deles é submetido a maus-tratos, são utilizados de maneira ética e responsável."
O diretor do instituto também fica preocupado com a repercussão que o caso pode trazer para os pesquisadores da universidade. "A pesquisa com animais contribui para o crescimento da ciência, para descoberta de curas de doenças. A experiência proporciona crescimento profissional do aluno, porque na vida prática ele não poderá cometer erros ou falar que não conhece", afirma.
RecursoPara o procurador Duarte Alvim, a liminar concedida ao estudante deve ser derrubada. "Se o Judiciário permitir que um aluno não se submeta às regras, cursar disciplinas diferentes, vai virar um 'pandemônio'", afirma. O procurador diz que outros alunos, por exemplo, podem se dizer contra uma disciplina e buscar na Justiça o direito de não cursá-las. "Seria inconcebível", afirma.
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