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Os paranaenses Alvaro Dias (PSDB) e Gleisi Hoffmann (PT) travaram uma acirrada discussão ontem no plenário do Senado sobre a relação entre o governo Dilma Rousseff e o Congresso Nacional. O embate regional es­­­quentou uma sessão tranquila e sem votações na Casa. Em um discurso com tom de denúncia, o tucano voltou a tocar no escândalo do mensalão, que deve ser julgado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que levou à reação imediata da colega.

Alvaro argumentou baseado em uma reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo. O texto relata um desabafo de Dilma ao presidente português Cavaco Silva, durante viagem desta semana a Portugal. A brasileira teria dito que "tem um problema sério de maioria" no Parlamento, o que força negociações "caso a caso", como na votação do salário mínimo.

"É uma denúncia que tem que ser considerada, não pode ser esquecida e tem que ser explicada. Revela a barganha para aprovação de projetos, ou seja, a existência do chamado balcão de negócios", afirmou o senador. "Isso se constitui na manutenção de algo deplorável que é a relação de promiscuidade do Executivo com o Legislativo, que se verificou nos últimos anos no Brasil, culminando com o grande escândalo do mensalão."

Gleisi rebateu as declarações cobrando provas. "Ele tem que apontar nomes, fatos e datas e trazer a este Plenário um esclarecimento. Senão, vou ter aqui que avaliar o posicionamento do senador ou sua denúncia, e não quero fazer isso porque conheço sua trajetória em meu estado, como uma posição de leviandade", disse a petista.

Alvaro prosseguiu no ataque e teve de enfrentar contraposições de outros três governistas – Eduardo Suplicy (PT-SP), Hum­­­berto Costa (PT-PE) e Walter Pinheiro (PT-BA). "Pesa contra as lideranças governistas no Congresso uma acusação que tem origem na palavra da presidente da República. Portanto, é uma acusação autorizada." Na sequência, Gleisi chegou a sugerir que ele teria de se retratar com Dilma, pelo que classificou como "ilações que comprometem a honra da nossa presidenta e da maioria dos membros desta Casa."

O embate de ontem não foi o primeiro entre Alvaro e Gleisi em plenário. Como líder do PSDB, ele tem mais autonomia para falar, de acordo com o regimento do Senado. Já a paranaense foi escalada pelo PT para atuar como porta-voz da legenda nos debates.

Após a discussão, o tucano comentou a postura da colega. "Ela adotou uma posição que, guardada as devidas proporções, era a da Ideli [Salvatti, ex-senadora catarinense, hoje ministra da Pesca], de bajulação permanente do governo. Quando alguém vai para a tribuna e critica o governo, ela logo responde", disse o senador.

Gleisi rebateu as comparações feitas por Alvaro nos mesmos termos. "Não quero desqualificar a intervenção que ele faz, que é um ataque desesperado de oposição permanente. O papel da base é defender o projeto de governo que está aí dando certo nos últimos oito anos."

Os dois foram rivais diretos no Paraná. Em 2006, Alvaro conseguiu a reeleição para o Senado com 55,51% dos votos válidos contra 45,14% de Gleisi. Em 2010, ele apoiou Gustavo Fruet (PSDB), que acabou de fora, atrás de Gleisi e Roberto Requião (PMDB).

Ambos, no entanto, consideraram a discussão de ontem como algo normal. "O clima estava muito tranquilo no plenário, acho que pelo menos deu uma animada", brincou Alvaro. "O Parlamento é um lugar de debate e debate é sempre bom para a democracia", completou Gleisi.

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