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O chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, vai investigar a possível ligação de artistas e jogadores de futebol com traficantes de drogas. Em gravações de conversas telefônicas do chefe do tráfico na Rocinha, Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, cinco celebridades são citadas e serão intimadas a depor. Se ficar comprovado que têm relação com o traficante, poderão ser procesados por associação com o tráfico.

- Nós desconfiamos que o tráfico esteja usando estas personalidades como espécie de propaganda para atrair jovens para o tráfico em bailes funks e em partidas de futebol para aumentar a capacidade de venda de drogas - disse Lins.

Segundo o delegado, todas as pessoas da lista de cinco celebridades serão convocadas a depor como testemunhas e, por isso, estarão obrigadas a comparecer. Lins disse que nenhum nome da lista será divulgado até que haja uma comprovação mais forte da ligação das pessoas com o tráfico.

- Se eu vou me encontrar com meu amigo traficante e sei que ele está me usando para promover a venda de drogas, eu me torno um colaborador do tráfico. Precisamos saber quem faz a intermediação para que elas compareçam a estas atividades. Há pagamento? É remunerado? O convite visa a trazer mais pessoas para a favela? - disse o chefe de polícia.

Álvaro Lins determinou que seja chamado a depor o ex-goleiro do Flamengo Júlio César, atualmente na Inter de Milão, da Itália. Ele terá que dar explicações sobre sua relação com Bem-Te-Vi, já que conversou duas vezes com ele utilizando radiotransmissores de dois amigos que conheciam o criminoso.

- Essas conversas, a princípio, não caracterizam crime. Mas não deixam de ser uma conduta reprovável. O que nós queremos saber é quem intermediou este contato com o tráfico e qual era o interesse desta relação. - explicou o delegado Álvaro Lins.

Esses intermediários poderão ser indiciados pelo crime de associação para fins de tráfico de drogas, segundo o chefe de Polícia Civil. Álvaro Lins chamou estas pessoas que levam celebridades para favelas de "promoters do tráfico":

Numa das conversas com Bem-Te-Vi, em vez de chamar a polícia, Júlio César ligou para o bandido no dia seguinte em que testemunhou um assalto em frente à Rocinha.

- O Júlio César mostra um conhecimento anterior quando telefona para o Bem-Te-Vi. Ninguém liga, de uma hora para outra, para um traficante para comunicar um assalto. Tem que ter uma amizade que justifique este contato - disse.

No telefonema, o traficante prometeu matar os ladrões.

- Se tivesse acontecido a morte, Júlio César teria uma participação indireta no crime - diz Lins.

O chefe de polícia explicou que Júlio César poderá prestar depoimento quando estiver no Brasil ou então, num processo mais complexo, a Justiça brasileira poderá enviar uma carta rogatória para a Justiça italiana para que ele seja ouvido lá.

- Não podemos permitir, temos que reprovar a atitude destas pessoas que tem um grau de responsabilidade sobre nossa sociedade. Elas têm que, pelo menos, vir a público pedir desculpas.

Outro jogador identificado pela perícia em conversas telefônicas é Jorginho, da seleção brasileira de futebol de areia. Segundo a polícia, o jogador usou o rádio do traficante para falar com um homem não identificado. Jorginho e Bem-Te-Vi estariam em uma festa na Rocinha:

Bem-Te-Vi - Fala com o amigo aqui, com o Jorge aqui...

Jorginho - Fala aí, sou eu Jorginho.

Homem - Qual é Jorginho? E aí meu irmão, tranqüilo? Tá aonde? Tá aí em cima?

Jorginho - Tô aqui, pô, vem pra cá!

Bem-Te-Vi - Quem tava falando contigo era o Jorginho do beach soccer, cara.

Álvaro Lins informou também que há suspeita sobre o uso da mesma estratégia da Rocinha por traficantes da Vila dos Pinheiros, onde o chefe do tráfico se utilizaria de personalidades para atrair mais gente para a favela. A polícia investiga a hipótese de o jogador Negretti, ex-Botafogo, ter sido morto na comunidade. De acordo com as investigações, ele foi considerado traidor por freqüentar também o Morro do Dendê e por isso teria sido assassinado.

Anderson Luiz Nascimento de Souza Negretti, zagueiro que atuou também no Atlético Mineiro e no Grêmio (RS), foi encontrado morto em 22 de maio deste ano, perto do Complexo da Maré. O corpo foi encontrado no interior do carro do atleta, com um tiro na nuca. Negretti tinha 31 anos e acabara de sair de um baile funk.

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