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Saia-justa

Lula "recusa" assumir cargo de Palocci

O ex-presidente Lula recebeu ontem uma sugestão inusitada, em reunião com dirigentes sindicais. O presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, sugeriu, em tom de brincadeira, que o ex-presidente assumisse a Casa Civil, em substituição a Antônio Palocci. "O Lula poderia ser, talvez, o ministro da Casa Civil. Aí sim acho que a coisa andava", disse Paulinho.

No decorrer da reunião, Lula recebeu de sua assessora uma cópia de uma notícia publicada na internet, que incluía a declaração do presidente da Força Sindical. O ex-presidente leu a matéria e a entregou a Paulinho, com a seguinte ressalva: "Isso aqui não está em pauta, eu não gostaria de tocar neste assunto."

Na quinta-feira, o deputado federal já havia dito que a permanência de Palocci era insustentável, a não ser que ele oferecesse explicações convincentes sobre sua atuação como consultor. A declaração trouxe mais um problema para a presidente Dilma Rousseff, já que mostra descontentamento dentro do PDT, que é parte da base governista.

Agência Estado

A revelação de ameaças do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para o vice-presidente Michel Temer azedou de vez as relações entre o PT e o PMDB. E piorou ainda mais a situação de Palocci, que acabou levando o governo a ficar refém dos peemedebistas do Senado por ter ameaçado o PMDB com a perda de cargos caso a bancada do partido não votasse com o Planalto no projeto do Código Florestal.

Segundo informação de ontem da coluna da jornalista Dora Kramer, publicada em vários jornais do país (inclusive na Gazeta do Povo), no dia da votação do projeto de lei do novo Código, Palocci telefonou para Temer dizendo ter um recado de Dilma de que todos os ministros do PMDB seriam demitidos se o partido votasse contra a orientação do Planalto.

Palocci teria insistido, sugerindo também a possibilidade de demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, indicação pessoal de Temer, que é presidente licenciado do PMDB. O vice-presidente interpretou o comunicado como ameaça. E a bancada peemedebista na Câmara votou em peso a favor de uma emenda, apresentada pelo próprio partido, que retirava da União a exclusividade por definir quais áreas de preservação permanente poderão ser utilizadas pela agropecuária, dividindo essa responsabilidade com os estados. O governo era contra a emenda, que acabou sendo aprovada.

Como o novo Código agora segue para a aprovação do Senado, onde o Planalto pretende modificá-lo, o PMDB estaria usando sua força na Casa para avisar a presidente Dilma Rousseff de que não aceitará retaliações por ter confrontado o governo na votação da lei ambiental. Além disso, o partido ainda fez chegar aos ouvidos da alta cúpula petista que senadores "rebeldes" do PMDB poderiam assinar o pedido de CPI contra Palocci.

Oficialmente, porém, a cúpula peemedebista informou ao Planalto que obteve dos sete senadores independentes do partido o compromisso de que se absteriam de assinar um eventual pedido de CPI no Senado – que exige o apoio de 27 parlamentares – para investigar o aumento patrimonial de Palocci. Se somados aos 19 senadores de oposição (PSDB, DEM, PPS e PSol) e demais insatisfeitos da base, os "independentes" da legenda podem tornar real a possibilidade da instalação da Comissão Parlamentar de In­­­quérito.

O compromisso dos peemedebistas rebeldes teria ocorrido em um café a manhã promovido por Temer na quinta-feira, no Palácio do Jaburu, onde ele juntou os sete senadores do partido incomodados com o governo Dilma: Jarbas Vasconcelos (PE), Pedro Simon (RS), Luiz Henrique (SC), Casildo Maldaner (SC), Ricardo Ferraço (ES), Waldemir Moca (MS) e Eduardo Braga (AM).

Combustível

"Se contemporizando já está difícil, não é hora de colocar combustível nessa relação. Não dá para aceitar isso", disse um cacique do PMDB, sobre as ameaças verbalizadas por Palocci.

Outro integrante do PMDB afirmou que a ligação de Palocci a Temer não foi a única ação deselegante no episódio. Ele lembrou que, em discurso na tribuna, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que uma derrota levaria o Legislativo a ficar sob ameaça.

Para este peemedebista, a resposta a essas ações já foi dada: "A chantagem [do PT] não foi aceita. O plenário da Câmara já se posicionou e não aceitou esse tipo de ação".

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