Foi enterrada nesta sexta-feira (27) Juliana Pereira da Silva, de 23 anos, no cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na Zona Oeste do Rio. Moradora de Realengo, a estudante voltava para casa, na última quinta-feira (26), às 4h pela Estrada da Água Branca, em Realengo, quando ficou no meio do fogo cruzado entre traficantes da Favela do Batan e do conjunto Fumacê, e foi atingida por uma bala perdida na virilha, que atingiu a veia femoral.
Levada para o hospital Albert Schweitzer, em Realengo, Juliana ficou cinco horas esperando por uma cirurgia que não aconteceu.
"Não tinha nenhum cirurgião vascular ou geral lá. Só deram bolsa de sangue. Ela ainda resistiu muito tempo. Ontem (26), a médica legista disse que ela não morreria se tivesse tido o atendimento certo", disse Thiago Madeira, namorado da vítima.
Segundo Thiago, a amiga de Juliana que a acompanhou ao hospital chegou a pedir que fosse contactado um cirurgião de outro hospital, mesmo que particular, que a família arcaria com as despesas, se necessário, mas nenhum médico foi encontrado. Depois, ainda segundo ele, um helicóptero transferiria a vítima para o Hospital Souza Aguiar, no Centro, mas a aeronave não chegou a decolar porque Juliana já havia falecido.
"Cheguei no hospital do Centro antes do helicóptero e vi que tinha algo errado. Entrei em contato com um amigo dos bombeiros que descobriu e me deu a notícia", conta Thiago, que diz que a família vai estudar se processa o estado por negligência ou não.
A Secretaria de Saúde confirma que o hospital não tem cirurgião vascular de plantão 24 horas por dia, mas que a paciente chegou ao hospital em estado gravíssimo, com pressão zero e perda maciça de sangue e não tinha condições de ser operada.
Segundo o órgão, a estudante sofreu duas paradas cardíacas enquanto esperava remoção e recebeu soro, transfusão de sangue e tentativa de estancamento de sangue. Conforme informações da secretaria, Juliana teve a terceira parada cardíaca a caminho do helicóptero que iria transferi-la para o Souza Aguiar. Filha única, Juliana perdeu o pai em 2004. Ela estava no quinto período de Publicidade na Faculdade Helio Alonso, em Botafogo, e, há um ano começou a estagiar em uma empresa de energéticos. Com medo da violência, a estudante evitava passar por locais que considerava perigosos à noite e já havia sido assaltada pelo menos uma vez.
Despedida no Orkut
Na página de Juliana e na de Thiago, no Orkut, amigos e pessoas que nem a conheciam se solidarizam com a dor da família. Em despedida virtual, o namorado, que criou a comunidade Saudade Eterna, se declara publicamente:
"A pessoa mais linda do mundo... Dona de uma luz e um sorriso sem explicação!! Amor pra vida inteira... Está indo para brilhar em um outro lugar... Por aqui passou como um cometa na vida de todos... Cometa de luz e felicidade... Que tanto me fez feliz e a mtos que um dia tiveram o prazer de ver esse sorriso!! Leva contigo o meu coração... Minha vida e minha paz!! Sei que será mais um belo anjo olhando por nós!! Peço a deus que te ajude... Junto com seu papai vc estará mto bem... O difícil é a saudade que tenho... E vou sentir pra sempre!! Te amo... Te admiro... Te contemplo!! Siga seu caminho minha baixinha... Estarei sempre aqui rezando mto por vc... Eterna saudade de um lindo amor!! Te amo!!!"
Também no Orkut, um amigo, identificado como Thiago Mueda, que a conhecia há 15 anos deixou um recado revoltado. "Nós vamos falar: 'é a vida que segue', 'não pode ficar assim'. Vamos mostrar que somos seres humanos, vamos mudar leis, passeatas, vamos lutar pela nossa vida, pessoal. Um dia desses foi o João (se referindo a João Hélio), ontem foi a Juju."
Para Thiago, a ajuda dos amigos e até de desconhecidos tem confortado a família. "É legal tentar ver que as pessoas se comovem. A gente não queria deixar no mais um. Ela não é só Juliana Pereira, de 23 anos, é alguém que tem família, com um futuro promissor pela frente e teve os planos interrompidos", desabafou Thiago.
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