Em debate em Nova York, nesta terça-feira (22), representantes da consultoria política Eurasia, da agência de classificação de riscos Moody’s e do banco J.P. Morgan reconheceram as dificuldades políticas que a presidente Dilma Rousseff enfrenta para se manter no poder, mas acreditam que o impeachment será evitado.
Mauro Leos, analista da Moody’s para a América Latina, afirmou que uma queda de Dilma não consta do “cenário-base” da agência. “Achamos que não seria um evento positivo, porque introduziria um elemento de incerteza. Se houver, mudará a dinâmica [de avaliação da economia brasileira]”, afirmou.
A Eurasia aponta 40% de chances de Dilma sofrer impeachment. “Não é desprezível”, disse João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria, “mas não contamos com um empurrão final”.
“Nosso cenário-base é que ela sobrevive, mas não forte o suficiente para entregar o que o mercado e a maioria da população espera de ajuste fiscal e na correção do curso [da condução política e econômica]”, disse, no evento organizado pela Americas Society/Council of the Americas.
Castro Neves considera que a crise é econômica e política, mas não institucional. Ele citou a independência do Judiciário como evidência da solidez das instituições nacionais.
Vladimir Werning, chefe de pesquisa sobre a América Latina do J.P. Morgan, afirmou que “agora, o Brasil está nos piores dos mundos, anunciando austeridade sem ser capaz de implementá-la”, mas recomendou “paciência”.
“A transição será lenta, os mercados estão preocupados e há conflitos políticos. Mas, em tempos de crise, cresce a pressão para que haja grandes reformas”, disse.
A coordenação política e a capacidade de atingir consenso do governo são “críticos”, mas “excessos econômicos” como o câmbio fixo foram corrigidos, observou Werning.
Para Castro Neves, se opositores criarem “mecanismos muito criativos” para tirar Dilma do poder, criariam um “precedente perigoso”. “Dilma tem problemas devido à falta de capacidade para governar, mas não há ‘smoking gun’ [evidência conclusiva que a impediria de governar].”
O PT de volta à oposição, diz ele, daria uma guinada à esquerda, faria muito barulho, criando dificuldades para um eventual governo do PMDB ou do PSDB, que teriam de implementar a mesma política de austeridade e, por isso, também enfrentariam protestos populares.
Para os analistas, o desenrolar da Operação Lava Jato é central na recuperação da crise pelo governo, porque o escândalo de corrupção paralisa a Petrobras e isso afeta toda a atividade econômica do país.
“Se a investigação se aproximar do [ex-presidente] Lula, Dilma se afastaria dele e provavelmente perderia o apoio social”, que a mantém menos isolada politicamente hoje, afirma Castro Neves.
Para Leos, da Moody’s, os “efeitos negativos múltiplos” da Lava Jato explicam, em parte, a contração da economia, dada a importância da petroleira na atividade nacional.
O analista do J. Morgan relatou que “o que olhamos como ponto de inflexão é a indústria e ainda não vimos boa notícia”. A confiança de empresários está baixa e a produção industrial continua a se contrair. “Ainda não está nem estável”, alertou.
Werning afirmou que a expectativa é que o Brasil consiga cortar a taxa básica de juros, hoje a 14,25% ao ano, ainda que o mercado aposte no curto prazo em elevações como medida para controlar a inflação.
“O BC deveria poder levar os juros para baixo sem causar ainda mais desvalorização de câmbio”, afirmou.
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