Em resposta ao pedido preliminar feito pelo ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para investigar as contas de campanha da presidente Dilma Rousseff, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontou a “inconveniência” de a Justiça e o Ministério Público Eleitoral se tornarem “protagonistas exagerados do espetáculo da democracia” e o receio de uma “judicialização extremada”. Para ele, os atores principais do processo democrático devem ser “candidatos e eleitores”.
As declarações constam em despacho do procurador-geral obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo no qual Rodrigo Janot decide arquivar uma notícia de fato (fase inicial da investigação) que pede a apuração de eventuais ilicitudes na contratação da empresa VTBP para a prestação de serviços da campanha petista.
“Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”, escreveu Janot, falando sobre o papel da Justiça eleitoral na “pacificação social”.
No despacho, o procurador-geral da República entendeu que não era o caso de estender a investigação nem no âmbito eleitoral tampouco na esfera criminal. A decisão de arquivamento proferida por Janot é de 13 de agosto, dia em que Gilmar Mendes concedeu o primeiro de três despachos realizados nas últimas três semanas referentes à prestação de contas de Dilma, caso do qual é relator.
A manifestação de Janot pelo arquivamento, acompanhada da mensagem a Gilmar Mendes, acontece num momento em que o governo federal trabalha para evitar que se estabeleça definitivamente no TSE uma nova via para que a oposição possa impedir a presidente Dilma de concluir seu mandato.
Após a aprovação com ressalvas das contas de campanha da presidente, em dezembro do ano passado, o vice-presidente do TSE, Mendes, fez uma série de encaminhamentos a órgãos competentes por investigação dos trechos da prestação de contas considerados “com indícios de irregularidades”.
Entre os órgãos que receberam documentos estavam, além do Ministério Público, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU). Em julgamentos na corte eleitoral e em seus despachos, Gilmar Mendes tem levantado a suspeita de que a campanha de Dilma teria recebido recursos desviados da Petrobras, principal alvo da Operação Lava Jato.
Procuradoria diz não ter encontrado irregularidades
A Procuradoria-Geral Eleitoral do Ministério Público Federal divulgou neste domingo, 30, nota de esclarecimento para informar que não encontrou irregularidades em contratos e serviços executados pela gráfica VTPB Serviços Gráficos e Mídia Exterior Ltda.
Em maio, o ministro Gilmar Mendes, relator das contas eleitorais da candidatura de Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encaminhou ofícios a quatro órgãos informando “possíveis irregularidades” envolvendo a fornecedora e as campanhas de Dilma Rousseff, Aécio Neves (PSDB), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Rui Costa (PT) e José Serra (PSDB).
No dia 13 de agosto, a Procuradoria arquivou a notícia apresentada por Gilmar Mendes. “Conforme análise, não foram constatadas irregularidades praticadas pela empresa no que diz respeito às esferas eleitoral e penal. Os fatos narrados não trazem indícios de que os serviços gráficos não tenham sido prestados, nem apontam majoração artificial de preços. Por isso, a PGE manifestou-se pelo arquivamento do procedimento”, informou a PGE, acrescentando que “outras representações continuam em andamento na Procuradoria-Geral da República”.
A VTPB Serviços Gráficos recebeu no total R$ 27,9 milhões de campanhas no ano passado. Além dos R$ 22 milhões recebidos da campanha de Dilma Rousseff, a gráfica prestou serviços ao comitê para campanhas de Aécio Neves ao Palácio do Planalto, recebendo R$ 577 mil da campanha do tucano. Além disso, prestou serviços para o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), do qual recebeu R$ 2 milhões; do governador da Bahia, Rui Costa (PT), com R$ 1,5 milhão; e do senador José Serra (PSDB-SP), com R$ 521 mil.
Acordão
Ao ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na quarta-feira (26), Janot teve de responder à oposição sobre um suposto acordo do qual ele faria parte para preservar a presidente Dilma Rousseff de investigações. Um dos questionamentos foi feito diretamente pelo presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG). Janot negou qualquer tipo de “acordão”.
No documento em que pede o arquivamento, o procurador-geral da República utiliza dois julgamentos realizados no TSE, ambos de relatoria de Gilmar Mendes, para dizer que a corte eleitoral tem um entendimento consolidado de que, após a diplomação do candidato eleito, não cabe questionamento das contas de campanha.
“Admitir a juntada de documentos em processo de prestação de conta, após o seu julgamento, seria permitir a ‘eterna’ instrução do feito, o que não é cabível”, diz um trecho do documento, citando o julgamento de uma ação, em 2014, que teve o ministro Gilmar Mendes como relator. Ao entender que não há irregularidade a ser investigada sobre a prestação de serviços da gráfica à campanha, Janot aponta o receio de que haja uma “judicialização extremada” da Justiça Eleitoral e usa trechos de julgamentos relatados por Gilmar Mendes para sustentar a visão de que a Justiça Eleitoral precisa ser “minimalista”.
A decisão foi assinada por Janot, embora assuntos eleitorais sejam despachados normalmente pelo vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão.
Durante a sabatina de Janot na CCJ do Senado na quarta-feira, o procurador-geral foi bastante questionado por senadores de oposição sobre a atuação de Aragão, com insinuações de que o responsável pela condução dos trâmites eleitorais seria um nome “governista”.
Ao fazer perguntas para Janot, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) criticou Aragão, a quem acusou de ter uma atuação “próxima aos interesses do PT”. Ele disse que o procurador atua com “dois pesos e duas medidas”
Em resposta, Janot defendeu o colega e afirmou que a atuação de Aragão tem índice de acerto de mais de 90%, que considera o total de sugestões do Ministério Público Eleitoral que foram acatadas pelo TSE.
O nome de Janot acabou sendo aprovado na sabatina e, na sequência, pelo plenário da Casa, o que garantiu sua recondução ao comando do Ministério Público por mais dois anos. A operação contou com apoio do PMDB do Senado.
Procurada ontem, a assessoria de Gilmar Mendes declarou que o ministro não iria se pronunciar sobre o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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