Predomina nos corredores e nos bastidores do governo em Brasília a informação de que é marcada pelo atrito a relação da presidente Dilma Rousseff com a maioria de seus ministros. Mas um grupo deles que se destaca pela proximidade e afinidade que construíram com a presidente. Nesta fase do governo, quase um ano após a posse e muitas crises políticas depois, eles são apontados como os mais influentes no Palácio do Planalto. Ou pelo menos são os que menos sofrem as consequências da ira e do descontentamento da presidente. Mesmo eles, em alguns momentos, costumam receber broncas presidenciais, mas já aprenderam a lidar com o humor de Dilma.
Neste primeiro ano de governo Dilma, alguns ministros são traídos pela vaidade e até vendem uma proximidade e cumplicidade acima da realidade. Mas é fato que conquistaram a confiança de Dilma uma trinca de ministros que já foram apelidados de "meninos superpoderosos": Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comério Exterior), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral). Todos petistas.
Fora do PT, também ganhou pontos no Palácio do Planalto o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho (PSB), que até aqui tem apresentado um estilo discreto, que agrada à presidente. Outro que também vai bem com Dilma é o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Mas os dois não são considerados do grupo mais afinado e alinhado com a presidente.
Preferido de Dilma, Pimentel deu opinião sobre discurso que presidente fez na ONU.
De todos, Pimentel já era o mais próximo por ter convivido com ela na época da luta contra a ditadura. Nem mesmo a crise que tomou conta da campanha de Dilma - quando foi realizado um dossiê contra o candidato tucano José Serra atribuído a Pimentel - prejudicou a relação dos dois.
Ele tem acompanhado a presidente em praticamente todas as viagens internacionais e é sempre consultado por ela em assuntos importantes, e também sobre amenidades. Em Nova York, por exemplo, Dilma discutiu em vários momentos com Pimentel o tom do discurso que faria nas Nações Unidas.
Nesta mesma viagem, e depois também na Turquia, ele estava sempre ao lado da presidente nos compromissos oficiais e nos passeios. No dia em que chegou à cidade americana, Dilma decidiu visitar o Museu Metropolitan e, depois, foi almoçar num bistrô francês escolhido por Pimentel, que procurou ele próprio no celular a localização exata do restaurante.
"Os dois têm uma grande cumplicidade", resume um outro ministro.
Pimentel costuma respeitar as determinações de Dilma tal como ela decide, o que evita conflitos. Quando está em passeios, por exemplo, a presidente não admite que os que estão com ela atendam celulares ou troquem torpedos que possam dar alguma indicação de onde ela está.
Os dois compartilham também da opinião de que não é preciso ter uma relação de beligerância com os tucanos. Em Minas, Pimentel fez alianças com o PSDB. No governo, Dilma tem uma relação bastante cordial com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mesma opinião sobre condução da política econômica aproxima Mercadante de Dilma
Já o paulista Aloizio Mercadante conquistou a confiança da presidente depois que chegou ao governo, já que não tinham uma relação de amizade como é o caso do Pimentel. Na recente viagem à África, Dilma sentiu falta do ministro de Ciência e Tecnologia na sua comitiva e, de última hora, mandou chamá-lo, obrigando-o a alterar toda a sua agenda.
A afinidade dos dois cresceu também porque compartilham a mesma avaliação sobre a condução da política econômica. A proximidade é tamanha que, durante o processo de substituição do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, Dilma chegou a alertar Mercadante de que ele era a opção reserva para eventual necessidade. Logo depois, foi confirmado a nomeação de Celso Amorim.
Gilberto Carvalho, por sua vez, foi conquistando aos poucos uma relação mais amistosa com a presidente. Apontado inicialmente como uma espécie de "olhos e ouvidos" do ex-presidente Lula no Palácio do Planalto de Dilma, o petista Gilbertinho tem sido escalado cada vez mais para missões especiais.
Durante toda a crise que culminou com a queda do ex-ministro do Esporte Orlando Silva, Gilberto foi o interlocutor do Planalto junto ao PCdoB. E tem sido a ponte de Dilma também com outros partidos, além de alimentar o contato permanente entre Dilma e Lula.
Já o ministro Fernando Bezerra, apesar de não ser do círculo íntimo, ganhou a admiração de Dilma na primeira crise de governo, quando houve a tragédia na Região Serrana do Rio. E de lá para cá vem consolidando essa aproximação, porque, segundo colegas de Esplanada, aprendeu rápido a se adaptar ao padrão Dilma. E, contrariando o perfil de sua carreira na política pernambucana, onde sempre gostou de ter muita visibilidade, adotou o figurino discreto. De sua boca ninguém ouve queixas sobre ordens e decisões da presidente.