A presidente eleita, Dilma Rousseff, começará seu governo cortando a previsão de gastos, mas sem muita pressa. "Vai ter de contingenciar, com certeza", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, referindo-se ao Orçamento Geral da União de 2011, aprovado na noite de quarta-feira pelo Congresso Nacional. Ele evitou, porém, confirmar se será algo na casa dos R$ 20 bilhões, como se especula. "Pode ser, mas vai depender da arrecadação de janeiro e fevereiro", disse. "O decreto (com o contingenciamento) só sai em março."

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Apesar do discurso da equipe econômica de Dilma pregando a contenção de gastos, a real disposição da futura presidente em apertar o cinto causa controvérsia entre os economistas. Eles até acreditam em alguma austeridade em 2011, mas ninguém garante que a tendência será essa para os anos seguintes. "A nossa expectativa é que o ajuste fiscal verdadeiro ficará apenas no papel", afirmou o economista Sérgio Vale, da MB Associados.

Em 2003, início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil enfrentava uma crise de confiança e por isso foi necessário fazer um ajuste duro logo no início do ano. Os cortes foram lineares, ou seja, atingiram todos os programas de forma igual.

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Dilma assume num quadro bem mais favorável, e os cortes agora não podem mais ser lineares, porque é necessário preservar os programas sociais que a elegeram e os investimentos em infraestrutura. "Isso exige um corte fiscal mais bem pensado e profundo em outros setores." Porém, com um ministério eminentemente político, ela terá dificuldade em eleger os setores a serem sacrificados. "Mais ainda, a equipe econômica que foi montada está longe de ser campeã em ajuste fiscal", observa. O mesmo ceticismo é exibido por Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção: "Só acredito vendo."

Há, porém, os que avaliam que Dilma apertará o cinto não por convicção, como ela própria deixou claro durante a campanha, mas por necessidade. "O ajuste fiscal vai se impor", aposta Flávio Castelo Branco, gerente-executivo do núcleo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Como Dilma quer que os juros caiam, ela terá de cortar despesas para ajudar o BC a controlar a inflação.