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A ex-primeira-ministra Benazir Bhutto permanecerá no Paquistão para liderar seu partido nas eleições legislativas de janeiro de 2008, apesar do atentado cometido contra ela na quinta-feira (18) em Karachi, que deixou pelo menos 133 mortos.

"Ela ficará no Paquistão; não sairá, está determinada", declarou Safdar Abbasi, senador do Partido do Povo do Paquistão (PKK). A afirmação foi feita na Casa Bilawal, a residência de Bhutto em Karachi.

"Não vamos mudar nossos planos. Nossa luta pela democracia prosseguirá. Participaremos nas eleições", disse o senador a respeito da votação programada para meados de janeiro.

Pelo menos 133 pessoas morreram e 400 ficaram feridas na noite de quinta-feira no atentado de Karachi contra Bhutto, poucas horas depois de seu retorno ao Paquistão após oito anos de exílio. A ex-premiê escapou ilesa do maior atentado suicida na história do Paquistão.

O ataque foi executado apesar de Karachi, a cidade com maior população do país, ter mobilizado mais de 20 mil policiais por causa das ameaças veladas de ataques por parte de setores radicais islâmicos.

Bhutto acusou os partidários do antigo regime islamita do general Mohamad Zia-ul-Haq de terem estimulado o atentado contra ela. "Sei exatamente quem deseja me matar. São os partidários do antigo regime do general Zia, os que hoje estão por trás do extremismo e do fanatismo", afirmou em uma entrevista publicada no site da revista francesa "Paris Match".

Zia derrubou o pai de Bhutto, o então primeiro-ministro Zulfikar Ali Bhutto, em 1977. Dois anos depois Zulfikar foi condenado à morte e enforcado. O general Zia morreu em um acidente de avião em 1988.

Feridos

"No momento, o número confirmado de pessoas mortas é de 133", afirmou na manhã desta sexta-feira (19) o general Javed Cheema, porta-voz do ministério do Interior.

"Muitos feridos se encontram em estado crítico, e os médicos tentam salvá-los", disse Seemi Jamali, funcionário do hospital Jinnah de Karachi, que mencionou pelo menos 25 pacientes gravemente feridos apenas neste centro médico. "É muito provável que o número de mortos aumente", concluiu.

O atentado aconteceu durante uma passeata organizada para dar as boas-vindas a Bhutto, com a presença de 250 mil simpatizantes da ex-premiê. A caminhada deveria terminar no mausoléu do fundador do Paquistão, Muhamad Ali Jinnah.

Uma granada e uma bomba explodiram a poucos metros do caminhão blindado no qual a ex-primeira-ministra se deslocava havia nove horas.

A polícia paquistanesa anunciou nesta sexta-feira (16) ter encontrado a cabeça do suposto terrorista que cometeu o atentado. A imagem da cabeça foi exibida pelos canais de televisão do Paquistão, com traços do rosto quase intactos e reconhecíveis.

Críticas

O presidente do país, general Pervez Musharraf, que assumiu o poder em 1999 após um golpe de Estado e que negocia há vários meses uma divisão do poder com Bhutto, condenou o atentado e o definiu como "um complô contra a democracia".

O marido de Bhutto, Asif Ali Zardari, denunciou a participação dos serviços de inteligência paquistaneses no atentado. "O atentado não foi cometido por combatentes islamitas, e sim pela agência de espionagem", disse Zardari ao canal de televisão "Ary One".

Bhutto e as autoridades paquistanesas temiam um atentado após a publicação na imprensa das ameaças feitas por um comandante de milicianos ligados aos talibãs e à Al-Qaeda, implantados nas zonas tribais do noroeste do Paquistão.

A ex-primeira-ministra foi ameaçada de morte depois de ter prometido em diversas ocasiões "erradicar a ameaça islamita" do país, que vive uma onda de atentados terroristas há mais de três meses.

Os Estados Unidos, país que fez do regime de Musharraf um aliado chave na "luta contra o terrorismo", condenaram "o atentado brutal". "Os extremistas não conseguirão impedir os paquistaneses de eleger seus representantes por meio de um processo democrático e aberto", afirmou a Casa Branca, em referência às legislativas de janeiro.O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os países da União Européia (UE) também condenaram o atentado.

Retorno

Bhutto, que deixou o Paquistão em 1999 para evitar um processo por acusações de corrupção, havia chorado ao descer do avião na volta ao país. Duas vezes chefe de Governo (1988-1990 e 1993-1996), ela prometeu restabelecer a democracia no Paquistão.

"Estou mais velha, aprendi muito ao longo dos últimos 20 anos, mas continuamos lutando contra uma ditadura. Queremos isolar os extremistas e construir um Paquistão melhor", havia declarado antes do atentado.

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