Acusado de ser operador do PMDB no esquema investigado pela Operação Lava-Jato, o lobista Fernando Antônio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, está preso há oito meses na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Enquanto outros envolvidos no escândalo revelam o que sabem, Fernando continua fechado no seu silêncio. Crítico da delação premiada, seu advogado prefere explorar as nulidades do processo. Aposta no erro dos adversários para livrar o cliente da condenação.
Até o dia em que os primeiros depoimentos da Lava-Jato vazaram, pouco se sabia sobre a carreira meteórica de Baiano na franja dos negócios da Petrobras. Apesar do apelido, ele nasceu em Maceió, Alagoas. Mas o pai, Clóvis Soares, fez carreira na sede da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Salvador, chegando a ocupar a presidência da Associação dos Engenheiros do Leste Brasileiro.
Às autoridades, Baiano contou que representava fornecedores espanhóis junto à estatal, mas quem o viu crescer garante que o empurrão inicial foi dado pelo empresário carioca Jorge Luz, um dos mais antigos lobistas na Petrobras, cujo nome tem tangenciado o escândalo.
Em documentos apreendidos pela PF no escritório do ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, os nomes de Jorge Luz e de seu filho, Bruno Luz, aparecem vinculados ao pagamento de comissões em negócios fechados pela Diretoria de Abastecimento. De acordo com a revista “Época”, uma empresa de Luz fechou, em 2008, contrato de R$ 5,2 milhões com a estatal.
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Fora do trabalho, Baiano não é dado a badalações. Aos 47 anos, gosta de cuidar do corpo, seguindo uma rigorosa dieta à base de carnes magras, e malhava da Academia da Praia, uma das mais conhecidas da Barra da Tijuca, da qual acabou tornando-se sócio.
Nas horas de folga, um dos prazeres é singrar os mares da Costa Verde a bordo da Cruela I, lancha de 55 pés comprada em junho do ano passado do empresário Otavio Marques Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, preso em 19 de junho de 2015 na mesma Lava-Jato que encarcerou Baiano.
A empreiteira nega participação no esquema da Petrobras e informou que a relação entre Otavio Azevedo e Baiano se deu exclusivamente na venda da lancha.
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Leia a matéria completaA família do lobista mora no imóvel que já foi considerado o mais caro do Rio: a cobertura do 22º andar do Edifício Vieira Souto, no condomínio Atlântico Sul, na orla da Barra da Tijuca. Comprada em conjunto com o investidor do mercado financeiro Marcos Duarte Santos, o Marcão, foi desmembrada posteriormente em dois apartamentos de 1,5 mil metros quadrados.
Uma das parcerias mais promissoras que o lobista fez, revelada aos amigos, foi com o pecuarista José Carlos Costa Marques Bumlai, considerado um dos empresários mais próximos do ex-presidente Lula.
A relação foi confirmada por Paulo Roberto. Em depoimento, o delator disse que, “muito embora Fernando Soares fosse o operador do PMDB, tinha uma boa circulação entre todos os partidos; por exemplo, seu amigo José Carlos Costa Marques Bumlai era uma pessoa muito ligada ao PT”.
Olhos de Falcão
Em 2006, para administrar seus bens, Baiano criou a empresa Hawk Eyes -- que em português significa “Olhos de Falcão”, nome inspirado em seu sobrenome.
Embora a Hawk Eyes tenha como endereço uma sala na Avenida Rio Branco, no Centro, há ao menos três anos Baiano não aparece por lá. Mudou-se para um endereço mais próximo à Petrobras, um escritório da Estre Ambiental, na Rua Senador Dantas, a apenas 150 metros da estatal.
A Estre Ambiental, citada por Paulo Roberto como ligada a Baiano, é conhecida como uma gigante do setor de coleta de lixo e tratamento de resíduos sólidos. Mas nos últimos anos tem ampliado sua atuação na área de petróleo, com quem firmou cerca de R$ 845 milhões em contratos.
Outro depoimento colhido pela Lava-Jato revelou que Baiano também usava as instalações da Oscar Iskin, empresa fornecedora de órteses e próteses para as redes pública e privada de saúde, no Humaitá.
Responsável pela distribuição da propina paga pelo doleiro Alberto Youssef, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, disse que entregou dinheiro “umas duas ou três vezes” para Fernando no local:
“Entreguei o dinheiro para o Fernando Baiano na empresa onde ele tinha uma sala, na Rua Macedo Sobrinho, nº 65, no bairro do Humaitá. Era um escritório grande, e o Fernando Baiano tinha uma sala lá”. A Oscar Iskin informou que “não tem qualquer relação com a atividade de Fernando Soares, que nunca teve sala na empresa”.
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