Romero Jucá pediu licença do Ministério do Planejamento após vazamento de conversas com ex-presidente da Transpetro.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Após apenas 11 dias de governo interino, a gestão de Michel Temer (PMDB) sofreu sua primeira baixa: a do ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR).

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Ele anunciou que irá se licenciar do cargo a partir desta terça-feira (24), depois da divulgação de gravações em que ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado falam em firmar um “pacto” para deter a Operação Lava Jato.

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Com a queda de Jucá, que irá retomar o posto de senador durante a licença, a Lava Jato – que assombrou a gestão da agora presidente afastada Dilma Rousseff (PT) – bate às portas de Temer.

Em seu primeiro pronunciamento, o peemedebista fez questão de ressaltar que a operação “deve ter prosseguimento”, mas, logo em seu primeiro ato, foi criticado por nomear ministros citados nas investigações – um deles, o próprio Jucá.

A divulgação dos áudios, em que o ministro sugere a Machado que uma “mudança” no governo resultaria em um pacto para “estancar a sangria” atribuída à operação Lava Jato, acendeu os ânimos dos contrários ao governo Temer. Durante entrevista nesta segunda-feira (23), Jucá foi cercado por cartazes de protesto e interrompido diversas vezes por gritos de “golpista”. Ele rebateu: “Por causa de babaquices como essas vamos fazer o enfrentamento”.

Entre as manifestações, estão tanto a de grupos opositores quanto de apoiadores de Dilma. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua (VPR), por exemplo, defenderam a saída do ministro na internet. “O desastre já estava anunciado quando Temer colocou em seu ministério pessoas envolvidas na Lava Jato”, divulgou o MBL. Já o VPR afirmou que “o que vale pra uns tem que valer pra todos”, citando as tentativas do PT “em melar a Lava Jato”.

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Do outro lado, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, diz acreditar que a divulgação da conversa entre Jucá e Machado vai ajudar na mobilização das manifestações contra Temer. “Isso mostra o caráter golpista e ilegítimo desse governo e os bastidores da sua formação. Isso vai acirrar ainda mais a situação”, afirmou.

Os investigados na Lava Jato

O recém-empossado e já licenciado ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), por ter sido citado nos depoimentos de delações premiadas do dono da UTC, Ricardo Pessoa, e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, no âmbito da Lava Jato.

Pessoa afirmou que Jucá pediu R$ 1,5 milhão em doações para as eleições de 2014 em Roraima, quando seu filho, Rodrigo Jucá ,foi candidato a vice-governador. O dinheiro seria propina pela contratação da UTC em obras da Eletronuclear. Segundo Costa, Jucá seria um dos 27 beneficiários do esquema de desvios envolvendo contratos da Petrobras.

O peemedebista também foi citado em acordos de colaboração premiada de executivos da Andrade Gutierrez e pelo ex-senador Delcídio do Amaral, como envolvido em um esquema no setor elétrico, na Eletronorte.

Moro critica tentativa de interferência na Lava Jato

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Outros seis ministros de Temer são citados na operação Lava Jato.

Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), Secretaria de Governo: suspeito de negociar propina com a OAS, solicitando doações para sua campanha e para outros políticos do PMDB baiano.

Henrique Eduardo Alves (PMDB), Turismo: a casa do ministro já foi alvo de buscas e apreensão na Lava Jato. O nome dele aparece em mensagens encontradas no celular do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro. O conteúdo revela que doações para campanha de Alves foram solicitadas pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB).

Bruno Araújo (PSDB-PE), Cidades; Ricardo Barros (PP-PR), Saúde; José Serra (PSDB-SP), Relações Exteriores; Raul Jungmann (PPS), Defesa: todos aparecem em uma lista de doações feitas pela empreiteira Odebrecht, apreendida no “departamento de propina da empresa”, em março. Porém, ainda não é possível afirmar se a verba é oficial ou de caixa dois.

Interferências

A divulgação dos áudios ocorreu no mesmo dia em que a PF deflagrou a 29ª fase da Lava Jato. Questionado sobre o teor da conversa, o delegado Luciano Flores disse que não há preocupação da força-tarefa de Curitiba sobre possíveis interferências, já que a operação está “blindada”. “A gente já constatou que a Lava Jato não recebe influências políticas, a população não permite que isso aconteça, ela vai para as ruas quando é preciso”, disse.

“Não basta intenções ou declarações de qualquer governo que seja que possam frear essa investigação, quando a gente sempre está com a razão”, completou Flores. Essa não é a primeira vez em que se fala em abafar a Lava Jato. Na delação do ex-senador Delcídio do Amaral, há depoimentos que revelam uma tentativa de interferência com a nomeação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). A nomeação teria como objetivo libertar, por meio de habeas corpus, alguns empreiteiros presos em Curitiba.

Mesmo com o “respaldo popular”, a PF tem se blindado. Em um esforço para garantir autonomia às investigações, a delegada Erika Marena, da força-tarefa da Lava Jato, vai concorrer à indicação da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) para o cargo de diretora-geral da instituição. A ADPF vai montar uma lista tríplice que será entregue ao presidente interino Michel Temer (PMDB) para a escolha do novo diretor.

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